As salas vazias e solitárias, recheadas de pó de giz, as
classes empoeiradas, as luzes apagadas, a iluminação do fim do dia e por vezes do
meio da manhã. Trancávamos lá dentro, regurgitando no silêncio auspicioso que
encontrávamos para driblar um ao outro. Beijávamos em silêncio, agarrávamos um
ao corpo do outro, como se assim, entre trocas de cheiros, olhares e sabores,
pudéssemos encontrar a metade perdida do corpo do outro. Completávamos. Eu e você. Em momentos doces como estes.
Deitados na cama
do meu quarto, você abraçado ao meu corpo, você beijando-me o rosto, fazendo
carinho, eu dizendo que te amo, nós dois rindo, nós dois juntos.
As trocas de
olhares, as mãos quentes e por vezes gélidas, os beijos, os sorrisos, as
cartas, os abraços apertados, as noites de insônia, as brigas, as trocas de segredos, as
trocas de pesadelos, a busca de encontrar num a resposta precisa que tanto
sonhávamos.
Momentos doces. Momentos
eternos.
Quando em pensar que eternos mesmo era a gente. Era aquela coisa
fascinante que ensoberbece, que embebe, que cola, que gira, que pula, que
pinta, que brilha, que rodopia, que grita, que fazia da gente a gente. Dois em um
só.
E acaba, como faísca solta no ar. Não importa o que aconteça, sempre chega ao fim, fácil, fácil. Porém não desgruda, permanece ali. E quando paro e penso, e quando lembro, as lágrimas rolam a solta, as fotos garimpadas na memória, o teu beijo, o teu cheiro, em todo lugar.
Por que já virou eterno. Já se gravou em mim.
Annabel Laurino.