segunda-feira, 22 de agosto de 2011

.


Será que quando ela diz : "Não agüento mais, me deixe em paz, não consigo, sinto dor", ela não esteja querendo dizer que um simples abraço seu, um simples toque, sem palavras, sem nada explicado, sem nada dito, resolveria tudo? Me deixe em paz, ela diz, traga a minha paz, ela pensa.

Annabel Laurino.

.


Quando você tem tudo você não liga pra nada, difícil é depois quando você olha pro lado e não vê mais aquele alguém. Daí vai dizer, ela não faz falta?

Annabel Laurino.

Me deixe em paz!


    Me deixe em paz. Finja que não me vês e finjirei que não te verei. Finja. Como sempre fizeste. Finja que não sentes o calor do meu corpo e nem a vontade de falar. E assim eu fingirei que nada aconteceu, que nada surgiu, que foi tudo simplesmente apagado da minha memória recém fresca e confusa.
    Eu peço apenas para que me deixe em paz. Me esqueça, me anule. Parta a minha imagem da tua memória e regrave outro rosto de uma vez. Faça qualquer coisa! Me compare, me descole, me desgrude, me jogue, mas me esqueça! Me deixe em paz.
    Essa dor. Essa horrível dor dilacerante de querer falar e não poder, esse jogo, essa luta, esse conflito de ter que ser forte quando eu quero chorar de raiva e dizer que te odeio até não poder mais.
    Você não luta, você não sabe correr atrás, você não sabe buscar aquilo que você quer e não sabe como dói ser ignorado, não ser correspondido. Então chega. Cansei. Estourou toda a minha cota de ser gentil, amável e compreensiva. Chegou no meu limite, aturei por tempo de mais essa novela repetitiva. Eu engoli seus dramas, disse que os encararia, que se precisasse eu ficava ao seu lado embora que todos eles se voltassem contra nós. Eu estava disposta a lutar por você. E você, sentou-se sobre sua cadeira fria, cruzou os braços e me ignorou. Agora... Bem, agora me deixe em paz.


Annabel Laurino.

Montanhas de pó

Não me pergunte mais nada. Não me pergunte nada. Eu não sei de nada, eu não quero saber. Eu to cheia. Cheguei na beira da cama quente, olhei por baixo e avistei o pó. Montanhas de pó. Esta tudo há muito tempo guardado, há muito tempo esquecido. Não quero mexer, tenho medo das cartas que posso encontrar, das aranhas que podem sair, dos chinelos velhos que gastei tempo procurando, dos lenços de papel, das folhas do caderno, de um brinco perdido, tenho profundo cansaço de achar qualquer coisa embaixo desse pó. Não me pergunte. Eu não quero mais saber. Cheguei ao meu limite. Agora, se tem uma coisa que você ainda pode saber, uma única coisa que não me abstenho em responder, é que estou completamente ocupada. Não estou mais aqui. Acabo de colocá-lo na minha montanha de pó.




Annabel Laurino.