terça-feira, 1 de novembro de 2011

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A gente se prende, se repreende, e se machuca, em cada verso de música, em cada vontade absurda, em cada frase lida, coisas tingidas. Se arrisca, se afina, e grita. E depois chora, ri, passa. Mentira. Sente e sente, e dorme sentindo sem nem mesmo dormir. E acorda no outro dia, segura o coração, quase que exprime. Olham-se na cara, engolem o choro, fingem pose, beijam outros lábios, e se machucam. E desafinam o grito no silêncio obscuro de chegar ao final. Final do que? Por que? Questionam-se, preenchem vazios um do outro que nada preenche na esperança de se dispersar de memórias. E mentem. Como mentem. Por que retina brilha, tinta pura, exclama, coração ferido, lembranças luzidias, tudo branco, dizendo: “volta”. Quando a vida estampa: “Não volta mais.”

Annabel Laurino.

Anotando.


    De repente deu uma vontade. Uma vontade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Qualquer deles. Nem mesmo que fosse lugares, mas momentos.
    Aqui, sentada na minha típica cadeira do quarto, a luz apagada, são oito da noite, acabei de chegar, as luzes do dia estão fracas, mais um dia dando adeus. Tudo começa a ser substituído. O arroxeado no céu, a ventania que paira sobre os cubes das arvores mais altas, o vento sacudindo as flores nas arvores fazendo-as despencar docemente, as aves cortando o céu, o mundo, lá fora. Tão fora. E aqui dentro fica esse silencio que só é cortado por esse música que toca insanamente. Ao meu lado uma revista antiga de Nova York. Folheio cansativamente, o ar de quem deixou muito cair no chão e não há mais forças para pegar nada. Mas eu junto forças, folheio as paginas, e choro, olho novamente para fora da janela. Essa tela grande que estampa o mundo real lá fora. Se me perguntasse o que eu vejo talvez não seria muito bem a resposta esperada. Não são bem plantas, é vida crescente tingida de verde que respira constantemente e que exclama “ar”, não são telhados úmidos, são telas solares onde as aves pousam de seus vôos rasantes, não são flores, são botões que vestem as copas de arvores mais prestigiosas e que por uma benção divina ficam aqui na minha janela todos os dias, e todos os dias quando acordo, abro as janelas e respiro, “ah sim...". Talvez eu esteja mesmo em alguns lugares por ai. Como agora, nesse exato momento. Estou me imaginando longe, estou bifurcando na musica, no negro do café, e nas aves, no arroxeado do céu sendo borrifado de um alaranjado mudo. Mas continuo aqui, dentro dessa caixa colorida onde anoto tudo e vivo, mesmo que viva em palavras, em pontos e em virgulas, mas eu vivo. É anotando que se sente. Não é assim com você?


Annabel Laurino.



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Para de chorar vai, nada que dói que não possa ser curado e nada do que não é pra ser que não possa ser superado. Você sabe menina, você sabe, o melhor só está por vir.

annabel laurino.

Ele pode estar olhando tuas fotos neste exato momento. Por que não? Passou-se muito tempo, detalhes se perderam. E daí? Pode ser que ele faça as mesmas coisas que você faz escondida, sem deixar rastro nem pistas. Talvez, ele passa a mão na barba mal feita e sinta saudade do quanto você gostava disso. Ou percorra trajetos que eram teus, na tentativa de não deixar que você se disperse das lembranças. As boas. Por escolha ou fatalidade, pouco importa, ele pode pensar em você. Todos os dias. E, ainda assim, preferir o silêncio. Ele pode reler teus bilhetes, procurar o teu cheiro em outros cheiros. Ele pode ouvir as tuas músicas, procurar a tua voz em outras vozes. Quem nos faz falta, acerta o coração como um vento súbito que entra pela janela aberta. Não há escape. Talvez, ele perceba que você faz falta e diferença, de alguma forma, numa noite fria. Você não sabe. Ele pode ser o cara com quem passará aquele tão sonhado verão em Paris. Talvez, ele volte. Ou não.

                                                       Caio Fernando Abreu


A gente se segura em cada coisa quando espera por algo, ou alguém...

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Nunca diga é impossível, por que o impossível sempre acontece. 



annabel laurino.