segunda-feira, 1 de abril de 2013

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Só mais uma daquelas verdades incontestáveis

    Eu não quero que você viva a minha vida a partir de agora e em diante. E que você curta os meus livros e minhas musicas e as minhas bandas favoritas só para me agradar. Não quero que você seja o cara que vai me parar na rua em frente a todas aquelas pessoas e jurar amor eterno em alto e bom som. Eu não quero você me ligando as três da manhã para dizer que me ama, porque três da manhã eu estarei dormindo e é mentira que eu ficaria feliz em ser acordada, eu odeio que me acordem de madrugada. Nem quero que você passe a seguir os meus passos e interrompa os seus compromissos e seus afazeres para ficar comigo, que vista as roupas que eu quero ou que mude seus hábitos por minha causa. 
    Mas tai uma coisa que eu faço questão de querer de você. Seja você. Sim, seja só você mesmo e mais ninguém e mais nada, por favor. Não minta, não tem porque. E quando não quiser mais me ver, nem precisa de drama ou preocupação, só avisa. Simples e fácil. Só não interrompa o processo em que estarei te admirando para passar a não gostar mais de você por ter me enganado com baixa bajulação e jogo de marketing. Só faça o que quiser e não ouse ser nada além do que você mesmo.
    Dessa vez eu não quero recriar um conto de fadas, eu quero o real e saudável das coisas palpáveis.
    Mas é fato que eu estou dizendo isso porque eu quero o mais verdadeiro e inatingível das coisas. Eu quero o que é e não o que se mostra ser. Eu quero que você cuide de mim, é verdade, e abrace o meu corpo bem apertado no meio daquele filme legal e me beije a cabeça, e me faça um café e fique comigo. Fique comigo nos dias de chuva, nos dias cinzentos e nas tardes tediosas de sol. Que você pague a conta daquele jantar só para mostrar que é 'o homem' e que eu sou uma dama e que vivemos num filme antigo que ninguém mais vive, pelo menos uma vez. Que você abra as portas para que eu passe. Me dê um apelido qualquer como o que quase todos me chamam mas que ele ao sair da sua boca seja diferente de todas as pessoas me chamando. Seja o cara diferente, ou só faça a diferença. Seja o cara que eu vou querer ver de novo e de novo e que não vou fingir ruídos em meio a um telefonema só para não dar uma desculpa qualquer que não quero sair. Seja você mesmo e mesmo assim me prenda.
    Eu quero deitar na sua cama de bruços coberta de lençóis e desejar passar madrugadas assim e esquecer passados, esquecer dramas e choros e coisas feias. Quero ouvir musica boa e comer sanduíches e tomar um chá com você. Quero gostar dos seus cacoetes, das suas manias, da sua bagunça e de todas as coisas. Mas para isso você tem que se fazer gostar também. A vida não acabou. A vida segue. E eu só quero alguém real e humano. Quero estender minha mão acima da tábua fria da mesa e poder tocar e sentir quente aquela pele viva e entender que eu não estou só. 
     Espero a paz de compartilhar um sorriso roubado e ter a certeza que corações partidos não necessariamente se curam sozinhos. Eu quero um romance bom, uma verdade que não é conto de fadas, apenas aquele velho balanço de companheirismo e amizade e coisas bobinhas, trejeitos e olhares trocados, coisas que não se acabam com o virar de uma página de livros. Quero uma surpresa qualquer e um jeito novo de ver as coisas além das lentes embaçadas dos meus óculos depois de tanto te beijar.




Annabel Laurino