domingo, 3 de julho de 2011

Infinitas Possibilidades

    Eu gosto de pensar nas infinitas possibilidades de me tornar tudo aquilo que posso querer ser. Como mudar, me transformar, me reinventar. Gosto dessa idéia. De pensar que posso ser tudo, tudo que der vontade de ser.
    Mas enquanto penso isso, nas infinitas possibilidades do que me tornar, gosto de lembrar-me baixinho que dessa forma humana, física e emocional, está muito bem por agora. Está calmo e tranqüilo, está cabível aos meus olhos, uma forma confortável, uma forma que me agrada, que em aquieta.
    Mesmo sabendo que eu poderia mudar para qualquer coisa que eu decidisse ser, pensar que está bom assim, desta forma que me agrada, deixa a idéia de me transformar fora de questão. Por que me inquietaria olhar no espelho e ver um rosto brando que já não estampa mais o meu. Vislumbrar meu corpo e ver que dentro dele emoções antigas e segredos gostosos já não estão mais por lá.
    Seria como jogar as chaves no mar e não ter mais como entrar em casa.
Annabel Laurino.

Eu adoro.

    Adoro a forma como seu corpo magro afunda na cadeira quando você esta impaciente. Como seus olhos negros ficam distantes enquanto sua mente divaga, e como suas sobrancelhas ficam sérias e seus olhos circunspectos ao mesmo tempo que sua boca fica uma linha fina e reta quando você se irrita. Eu adoro seu cabelo e não entendo por que você vive o cobrindo. Adoro a forma que você fala e como você enxerga a alma das pessoas olhando lá no fundo dos olhos de uma maneira que posso me ver refletida neles.
    Adoro como você aumenta os olhos quando afirma uma idéia ou como seu rosto fica inundado de expressão quando você se sente entusiasmado com alguma coisa. Adoro suas mãos, são grandes e finas, e sempre geladas. Adoro quando você pega as minhas mãos, mesmo que de uma forma inocente, mas elas ficam lá, sobre as minhas impulsionando a minha pele na sua em um toque que somente eu mesmo reconheço. Adoro como você meche o corpo enquanto caminha e como você me olha quando acha algo completamente absurdo no que falei. Quando você ri seus dentes retos aparecem e uma gargalhada em floreios forte e viril perpassa sua boca perfeita e rosada. Adoro seu cheiro, é como um cheirinho de lar que da vontade de repousar o rosto em seu peito e roubar suas roupas para mim, um cheiro que me faz querer te abraçar, que me faz pensar loucuras sobre dizer o que não devo dizer. Adoro seus defeitos, que me irritam e me causam coceiras sobre o corpo, como quando você teima com alguma coisa que eu digo ou quando você ignora e vira o rosto pra fingir que não ouve. Eu adoro seu modo infantil, que me irrita, e adoro o modo como penso que um dia você possa amadurecer.
    Adoro seu modo “eu não ligo”. Como também adoro quando você se estressa e fica louco. Adoro deitar na cama e chutar as idéias de você pra longe e sorrir quando elas insistem em voltar. É como uma coisa abstrata que eu guardo sozinha sentada no chão do meu quarto.
    Ninguém precisa saber.
    E eu adoro isso em você.

      Annabel Laurino.

A vida é Frágil e Absurda...

    Onde foi que eu li isso?
    Eu não lembro.
    Mas que seja...
    Você acorda, você dorme, as coisas seguem, os relógios acompanham o passo da pressa do dia a dia, você não vê as coisas passarem, é inverno, é verão o cenário muda você está sempre lá, sentado sobre uma cadeira gelada, desligando-se das folhas que apinham-se no chão a sua volta, as crianças brincam no parque, o som das falas se misturam as batidas se seu coração solitário e frio, a desenvoltura do momento morreu e um botão que antes era ligado á uma luz que pendia a vida, a noção das cores e dos sentimentos está empoeirado dentro de você. Sem nunca mais ter sido tocado, nunca mais ter sido visto.
    Mas a vida é frágil. Porém absurda.
    Você está lá sentado sobre a cadeira fria, o céu nublasse acima de sua cabeça cheia de pensamentos perdidos e sem nexo, o céu gira com rabiscos de frio e granizo, daí uma coisa absurda acontece.
    O botão dentro de você é arremessado longe, muito longe, para onde seus olhos não podem ver. Ele é cruelmente apertado, instigado por mãos puras e destinadas a isso, você corre e corre e não alcança. Nos relógios, os ponteiros parecem correr mais rápidos mais dessa vez no sentido certo e favorável. As cores explodem no ar como pequenas balinhas de multicor sendo misturadas ao sol. Daí é assim, as mãos puras possuem um corpo, incríveis olhos brilhantes e afáveis, e um coração tão mais solitário que o seu.
    Eu digo absurdo por que é incrível o caminho que a coisa vai.
    Sua mão possui outra mão agora, quente sobre o calor das cores que lhes envolvem, e mesmo que um dia um borrão cinza transpasse o céu, você terá um corpo tão mais sedento e cheio de sabedoria tal igual ao seu, e já não se sentira mais tão só.


   Annabel Laurino