O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver
Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu
O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu
Te ver não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa
Mas ficou tudo fora de lugar
Café sem açúcar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma história romântica
Cazuza
“Se eu tivesse tomado um atalho, uma rua estreita qualquer, que tipo de pessoa eu teria me tornado? Não sei. Mas gostaria muito de saber. Pelo retrovisor, vejo todas as pessoas que eu poderia ter sido e não fui.”
O Teatro Mágico
Sabe, se você parar pensar, nada que só viva de amor dura. Nada que fique pendurado por uma corda só por amor viverá. Nada se alimenta só de amor. Nada mata a sede e a secura amarga da garganta somente com uma colher diária de amor.
Amor é navio e não mar. Amor é lenço voando de uma janela aberta em um trem em partida. Amor é detalhe, amor é suplemento e não alimento. Amor é enfeite que complementa. Amor absorve e nem se quer suga. Amor é coisa que a gente tem e se não tiver, paciência. Aliás, paciência é sim uma das coisas que necessitam para que algo sobreviva. Sabe, paixão, sim paixão e claro, humor. Perdão, sabedoria, risos e paz de espirito. Isso sim é alimento, amor não.
Amor não faz ninguém morrer, não faz ninguém definhar, amor é algo que sente mas não prende ninguém, não amarra ninguém, não faz com que uma vida inteira pare de funcionar. É desse amor que não gruda ninguém que é o nosso amor, que é o meu tipo de amor.
Eu preciso de muito mais do que amor para me manter viva. Eu preciso muito mais do que só amor para querer ficar de verdade e ainda assim te dar um beijo daqueles de novela com direito a chuva caindo e um olhar cheio de palavras declaradas que nunca serão ditas, porque não é preciso. Eu preciso de uma injeção diária de paixão, de motivação, eu preciso de tudo e mais um pouco que se chama bom humor e carinho. Sim, eu preciso de romance com o 'r' bem desenhado em letra maiúscula e em negrito. Eu preciso de muito mais que amor para querer dormir do teu lado e acordar te achando a pessoa mais linda do mundo mesmo que todo despenteado. Companheirismo e intimidade. Compreensão e amizade.
Desde o começo eu acho que já consegui provar que amor não é o todo, é só o resto. É o que faz a gente ficar por livre e espontânea vontade com a liberdade de partir mas não querer, porque há amor. Amor é livre que nem pássaro alçando voo na beira de uma praia e rumando para lugar algum desde que haja sol. Amor é a porta para possibilidades, mas não a possibilidade em si.
É por isso que eu preciso de muito mais que amor para querer segurar sua mão até o fim desta jornada que desde o inicio tem se mostrado árdua e complicada. Na junção de dois completos opostos temos comprovado na pele que pode até ser verdade que os opostos se atraem, mas eles também se destroem e se consomem um ao outro.
Estou falando da capacidade de suportar tudo isso e ainda assim querer ficar. Mas meu caro, amor eu tenho de sobra, como recheio transbordando de um bolo recém assado e quente, ele não se contem de tão grande. Amor não é tudo, há muitas coisas mais e todas elas estão indo pelo ralo e eu não as vejo mais, não consigo mais segurá-las em meus dedos e amarfanha-lhas nas minhas mãos e ordenar que fiquem. Essas coisas, essenciais e discretas, sim, essas sim seguram um mundo se não um universo de coisas. São elas que manteriam a nossa ligação de dois opostos em uma perfeita e completa harmonia, seria como a lei do equilíbrio sendo posta a prova.
Eu preciso de mais do que amor, eu preciso de paixão, saudade, vontade, e isso eu quase já não vejo mais.
Annabel Laurino