Novembro é sempre assim. Teimoso. Indeciso. Com um pé no inverno e o outro no verão. Como dizia Martha Medeiros, apego ao passado e desesperado pelo novo. E de novo posso ver o ano que vem a frente assim que dezembro chegar e logo logo acabar. E dessa vez o que Novembro me traz é as lembranças antigas de coisas que aconteceram e marcaram. Sim, o gosto bom do que ficou, daquilo que já foi e não volta. Não tem como voltar.
Como lei a gente sabe lá no fundo que tudo sempre vai, sempre se vai. E dessa vez a esperança é que algo também se vá. Que Novembro leve consigo nessas ventanias a solta todas as mesmices e más lembranças, que já não me servem mais.
É noite fria lá fora e o vento arromba as portas sem pedir licença, sem medir espaço. É frio, vento frio daqueles que exige um casaco, um agasalho, que levanta os cabelinhos dos braços e faz a gente se encolher. Um café, eu digo, noites daquelas que se precisa de uma companhia quente de um café forte.
Envolta em lembranças, difundo minha mente numa busca desesperada para me ver livre do passado, ao mesmo tempo em que mergulho novamente nas minhas memórias secretas e escondias e chafurdo mais uma vez numa espécie de nostalgia, tal qual só eu mesma reconheço. Fico como se degustando uma bala na boca lentamente, retirando o gosto bom que a bala tem. Mas ela nunca acaba.
Além do que já se foi me pergunto o que virá. O que Novembro me reserva agora? O que vem por ai junto com os seus ventos tempestuosos de céu escuro e muita chuva?
Ainda não sei. Desperto a mim mesma nessa vontade, nessa curiosidade do que o futuro pode fazer por aqui, das suas travessuras e brincadeiras, das trapaças de vida que sempre pulam pra fora nos surpreendendo.
Ah Novembro... Seja bem vindo, pelo menos.
Annabel Laurino