quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Nuance descolorida tingida de saudade




    Já percebeu como as nuances do final de um dia são sempre encantadoras? Parece até que posso ouvir Frank Sinatra cantar ao fundo, junto de Tom Jobim naquele balanço todo que sempre me deixa muito calma.
    Why is everything so sad?
    Não entendo também. Mas nessas horas do dia, sempre parece, sempre. Vai ficando apagadinho, o céu, os olhos cansados das pessoas, a paciência também.
    Fiquei analisando o tempo no relógio dependurado em cima da mesa por um longo e indeterminado tempo. Deu uma saudade, uma saudade. Tenho sonhado tanto nos últimos dias e até parece um martírio, um castigo. Sabe aquela sensação de acordar de um sonho incrivelmente bom, com Beatles, anos 60 e tudo perfeito, o melhor sonho, a coisa mais incrível do universo mas então você acorda, apalpa os travesseiros e so sad but it was just a little dream.
    Tenho apalpado muito meus travesseiros nos últimos dias. E apalpo e apalpo, enquanto vou despertando na esperança de que de repente, só para variar, um dia desses não será um travesseiro e sim seu braço, seu peito ou seu rosto, quente e de pele dourada e olhos negros que tanto sinto falta.
    Meu Deus, como sinto fala! E da uma saudade, chega a doer. É tão impossível e despretensiosamente sem chance de te encontrar em qualquer curva de rua por ai que da mais vontade ainda de te ver. Então eu sonho com você e tudo parece sem lógica, e tem musica, tem jazz, blues, rock, luzes, poemas, tem amor, beijos, sol, uma ponte que cruza o infinito do impossível, praia, inverno, neve e tem você, sim, sentado na minha frente como se fosse real dizendo claramente “eu te amo” e tem eu, dizendo que eu também, sim, eu também!
    Não sei por que meu subconsciente faz isso comigo, ou se esse troço de subconsciente for tudo mentira, por que eu faço isso comigo mesma. Já faz tanto tempo, tantos meses, e parece que eu to sempre no mesmo lugar. É a mesma coisa que tentar correr sob uma areia movediça. Centímetros a mais e eu acabo afundando, afundando cada vez mais que eu me movo. E eu vejo você lá longe, fora dessa areia toda, tão injusto, a vida pronta, seguindo em frente, sem mim, em algum lugar que não sei mais onde é, não sei nem se você mudou de planeta, possivelmente sim, vai saber.
    Eu só queria acordar e te ter aqui. Sei lá, olhando pra mim, dizendo que resolveu voltar, bateu saudade também. O que que tem? Podia acontecer, sei lá. Então não seria um sonho, só para variar. Seria real. E eu te contemplaria sobre um sol forte de uma primavera cheia de calor, sentaríamos na varanda, te faria um chá, um café para mim e perguntaria como anda a vida e me responderias com seu jeito todo maduro, ponderado, educado e formal que ta tudo bem na verdade, mas só falta eu, eu e minha bagunça organizada. Então me jogaria no teu colo, passaria a mão pelos teus cabelos negros, olharia seus olhos que não me recordo negros, castanhos avermelhados, dependendo do dia e tentaria dizer o quanto senti saudades sem conseguir formular palavras porque a emoção seria forte, seria de verdade.
   Mas, sempre um mas, o ‘mas’ é a palavra chave dos desconcertados e sem direção. Mas. Enquanto isso eu me perco nesses dias que seguem e se transformam em meses e me esqueço, e depois me lembro o quanto faz falta. Na verdade nunca esqueço, eu só me distraio, contemplativa, observando as bilhares de nuances e conotações típicas, seguindo a risca o padrão, sem nada de tão emocionante até que você decida chegar.
    E você vai chegar.
    Não vai?
    Ah! Why is everything so sad?






Annabel Laurino