Já percebeu como as nuances do final de um dia são sempre
encantadoras? Parece até que posso ouvir Frank Sinatra cantar ao fundo, junto
de Tom Jobim naquele balanço todo que sempre me deixa muito calma.
Why is everything so sad?
Não
entendo também. Mas nessas horas do dia, sempre parece, sempre. Vai ficando
apagadinho, o céu, os olhos cansados das pessoas, a paciência também.
Fiquei analisando
o tempo no relógio dependurado em cima da mesa por um longo e indeterminado
tempo. Deu uma saudade, uma saudade. Tenho sonhado tanto nos últimos dias e até
parece um martírio, um castigo. Sabe aquela sensação de acordar de um sonho
incrivelmente bom, com Beatles, anos 60 e tudo perfeito, o melhor sonho, a
coisa mais incrível do universo mas então você acorda, apalpa os travesseiros e
so sad but it was just a little dream.
Tenho apalpado
muito meus travesseiros nos últimos dias. E apalpo e apalpo, enquanto vou
despertando na esperança de que de repente, só para variar, um dia desses não
será um travesseiro e sim seu braço, seu peito ou seu rosto, quente e de pele
dourada e olhos negros que tanto sinto falta.
Meu Deus, como
sinto fala! E da uma saudade, chega a doer. É tão impossível e despretensiosamente
sem chance de te encontrar em qualquer curva de rua por ai que da mais
vontade ainda de te ver. Então eu sonho com você e tudo parece sem lógica, e
tem musica, tem jazz, blues, rock, luzes, poemas, tem amor, beijos, sol, uma ponte que cruza o infinito do impossível, praia, inverno,
neve e tem você, sim, sentado na minha frente como se fosse real dizendo
claramente “eu te amo” e tem eu, dizendo que eu também, sim, eu também!
Não sei por que
meu subconsciente faz isso comigo, ou se esse troço de subconsciente for tudo
mentira, por que eu faço isso comigo mesma. Já faz tanto tempo, tantos meses, e
parece que eu to sempre no mesmo lugar. É a mesma coisa que tentar correr sob
uma areia movediça. Centímetros a mais e eu acabo afundando, afundando cada vez
mais que eu me movo. E eu vejo você lá longe, fora dessa areia toda, tão
injusto, a vida pronta, seguindo em frente, sem mim, em algum lugar que não sei
mais onde é, não sei nem se você mudou de planeta, possivelmente sim, vai
saber.
Eu só queria
acordar e te ter aqui. Sei lá, olhando pra mim, dizendo que resolveu voltar,
bateu saudade também. O que que tem? Podia acontecer, sei lá. Então não seria
um sonho, só para variar. Seria real. E eu te contemplaria sobre um sol forte
de uma primavera cheia de calor, sentaríamos na varanda, te faria um chá, um
café para mim e perguntaria como anda a vida e me responderias com seu jeito
todo maduro, ponderado, educado e formal que ta tudo bem na verdade, mas só
falta eu, eu e minha bagunça organizada. Então me jogaria no teu colo, passaria
a mão pelos teus cabelos negros, olharia seus olhos que não me recordo negros,
castanhos avermelhados, dependendo do dia e tentaria dizer o quanto senti
saudades sem conseguir formular palavras porque a emoção seria forte, seria de
verdade.
Mas, sempre um mas,
o ‘mas’ é a palavra chave dos desconcertados e sem direção. Mas. Enquanto isso
eu me perco nesses dias que seguem e se transformam em meses e me esqueço, e
depois me lembro o quanto faz falta. Na verdade nunca esqueço, eu só me
distraio, contemplativa, observando as bilhares de nuances e conotações
típicas, seguindo a risca o padrão, sem nada de tão emocionante até que você
decida chegar.
E você vai chegar.
Não vai?
Ah! Why is everything so sad?
Annabel Laurino