sábado, 23 de julho de 2011

Caixa

 É nessa caixa secreta perdida no tempo, levada pelo vento que me escondo de mim. Já não sei mais como cheguei aqui. O que fiz o que perdi. Ainda estou  pensando por que, e como me deixei assim. Pisei sobre meus ideais, esqueci minha filosofia de vida, minha ideologia constante. Sinto minha pele arroxeada de frio arder em brasas da vergonha, da luta e do medo que senti. Sinto medo de mim. Vergonha de mim.
    Que triste.
    Choro por que não sei para quem me desculpar. Fui eu que me infligi, fui eu que me machuquei dessa vez. Abri a porta sem ter permissão por fazê-la. Me igualei a quem não queria me igualar. Me perdi.
    Chorei.
    Choro por que sinto medo, sinto danos irrecuperáveis no tempo, nos dias que se passaram, que se alastraram a minha frente e que eu me esqueci. Esqueci de você e de mim. Sou egoísta agora, mimada e triste, sou dor e amor. Só não sei com quem dividir. Guardo tudo pra mim dentro dessa caixa fechada onde ninguém pode saber estar. Guardo trancada, selada, escondida. Só abro pra quem souber o segredo de como me abrir, de como fazer eu me entregar. Enquanto isso, fico como uma vara coberta de cera endurecendo ao vento quente que congela meu corpo varal, visceral, viscoso. E tudo isso me cansa. Me fatiga. Já não agüento mais pensar em mim.

     Annabel Laurino



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