quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Desamparada


    Nada fazia mais sentido. E o grande mal começou a surtir um efeito contraditório e letárgico. Comecei a entrar em um cruel estado de indiferença, do não me importar. Trouxe muitas reviravoltas nesses últimos dias do que nos últimos anos. Comecei a sofrer por dentro e a escamar dores por fora. Talvez tenha sido a época mais dramática de toda essa vida e incrivelmente complicada. Mas com tudo isso me tornei muito simples. Quase nem choro mais. Fico quieta como um ramo de flores envelhecendo ao sol, respirando os últimos golfos de ar que ainda me restam e compreendendo a vida toda muito antes da hora.
    Talvez eu não saia dessa, sei lá. Ou talvez haja mesmo um final feliz nisso tudo, se é que existe essa de final feliz, mas deve ter uma luz no fim do túnel, um brilho, uma coisa que ilumine e acabe com essa situação toda.
    Não posso te contar o que é essa situação toda. Bem que eu queria, cuspir tudo para fora e chorar durante um longo tempo e te dizer com cara de choro e lágrimas úmidas e encharcadas o quanto suspeito que estou ficando louca, que tudo isso é demais para mim. Mas então eu estaria fazendo drama, e estaria deixando com que tudo saísse do controle, e te envolveria nessa minha névoa confusa. Prefiro ficar quieta, chorar e dizer todas essas coisas mas sozinha. Eu e eu somente, ninguém mais.
     Olhando esse sol forte depois de longas horas de chuvas, esses bichos rastejantes fugindo de suas tocas úmidas depois de tanta água, fico vendo esse sol muito forte entrar vivo pelo quarto e me sinto tão grata por poder estar aqui, somente aqui, respirando esse ar, vendo esse sol, e fingindo ser alguém qualquer com seus próprios problemas , não sentindo nada e sentindo muito.

Annabel laurino