Hoje quando acordei pela manhã tive algum vislumbre de
esperança. Era apenas um floquinho pequenino que refestelou-se em algum canto
da minha mente. Segundos, apenas. Mas era bonito, brilhante, acompanhava algum
movimento de desejos secretos que eu ainda não entendia do que se tratava ser. Mas podia
dizer que se encontrava em meu intimo. Algo esquecido por lá, algo que eu já não
mexia há muito tempo e que já estava coberto de pó.
Cocei o nariz na
esperança fracassada de retirar aquela poeira de perto de mim. Era mesmo que se
sentida de uma forma correta, muito bonita de se ver, porém, estava sendo irritante
naquela hora da manhã, com aquele sol gritando lá fora ordenando para que eu me
levantasse e me vestisse, correndo para o meu compromisso.
Daí foi que algo na
minha mente se chocou sem avisos, sem barulho. Foi um choque silencioso. E quem
sabe esses sejam os piores choques. Não se ouve ruídos, não se ouve som e nem
aviso de que alguma coisa aconteceu, você só fica ali, deitada somente escutando
qualquer coisa, sua respiração, os pássaros lá fora, o barulho do vizinho do
lado deixando a panela cair no chão. Tudo se torna um caos silencioso, você
arfa quase sem ar, culpando a si mesma por remexer em seus próprios
sentimentos.
Eu podia me
lembrar. Na noite passada havia ido dormir determinada a não esperar mais nada.
A esquecer você. A esquecer todas as coisas que já passaram. Porém, quando abri
meus olhos pela manhã à pequena partícula brilhante de poeira, chamada
esperança titubeava na ponta de meu nariz, dançante ela exclamava por uma
simples atenção que fosse.
Conforme se decorreu o silencio causticante vi a pequena poeira crescer, inflamou-se em
um brilho transparente encoberta por uma camada mais branca que a anterior. Admirei-a.
Silenciosa,
permanecia presa em mim, esperando a hora certa de poder me mexer e levantar da
cama, sacudindo para bem longe aquela falsa esperança que me atormentava por
dentro.
Contei até dez,
sorri falsamente fingindo acreditar em qualquer coisa, e depois sem avisos
nenhum, outra coisa de descolou dentro de mim. Novamente, não havia som.
E lá estava você.
Parada, lembrei de
suas feições, de todas as coisas que eu amo em você, lembrei do seu sorriso,
das manhãs em que caminhamos juntos e como ultimamente tem sido duro pra mim me
manter afastada, de como tem sido duro colocar a cada instante um status bem
grande entre a gente: “AMIGOS”.
Nossa, aquela
esperança era incomoda. Ela encrespou-se formando uma fina linha branca e
depois girou dentro de mim, queria que eu pensasse ser possível as coisas
melhorarem, quem sabe, serem melhores do que eram antes.
Mas não deu. Resisti.
Peguei minha já
conhecida armadura secreta para essas falsas ocasiões. Amarfanhei todas as más lembranças,
levantei da cama e pensei: “Já era, tudo acabou. Não há mais o que esperar.”
Segui meu dia, sai
de casa, encontrei com você, vi você, não falei com você... Eu estava certa. Não
houve nada. Não tinha o que esperar. Não havia mais nada a desejar.
Annabel Laurino.
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