domingo, 25 de setembro de 2011

É você.


É você
Que chega e que me possui, que adentra os poros dessa pele solitária e fria. Que aquece as bocas de vitrais, as bordas ressequidas do meu mundo esquecido e solitário.
Pendido no fio da tarde languida.
É você que chega, que me encontra, que toma conta de mim.
Se joga por dentro de um copo e transborda pelas bordas.
É você.
Com esse seu corpo quente, macio.
Seus pelos.
Seus braços.
Suas mãos de ossos fortes, seus dentes, sua boca recheada de um sabor lembrado, guardado.
É você ao todo que me vem e que me dispara, me lança á um futuro incerto.
Fugindo não consigo nada, estendo a mão no ar e tudo que pego é fios de seus cabelos negros.
Suas mãos suadas estampadas nas paredes de meu quarto.
Teus risos refletem no meu espelho.
Sinto teu corpo quente ainda sobre a minha cama.
Teu cheiro transpassou por mim, e agora grudou.
Como uma tatuagem sua, ele permanece, na minha pele.
É você, todo você.
Ouço sua voz, em vozes que não são do seu corpo.
Vejo teu riso em risos que não são seus.
E por lajes de casas, carros mal feitos, tempestades chuvosas, rios d’água, poças de frio e gelo, copas de árvores.
Minhas próprias feições também.
Tudo tem um pouco de você.
Minha própria letra no papel tem um traço da sua, meio que quando enrosca-se no ‘a’ ou no ‘j’.
Tudo.
Cheiros de outros cheiros, na concordância, no final do aroma, na hora de sentir, de qualquer forma.
Lembra-me teu cheiro.
E assim, vens.
E me recheias, me tomas e me aglutinas.
Como em uma inebriante tomada que liga dois fios.
Você me passa toda essa sua essência exorbitante e calórica
E me perco.
Me tomas, e me vens.

Annabel Laurino.

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