Pior do que voltar atrás em uma promessa feita e desfazê-la, é seguir em frente. Ironicamente, sem olhar para trás.
annabellaurino
domingo, 30 de setembro de 2012
sábado, 29 de setembro de 2012
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"Ando muito só, um tanto assustado, e com a esquisita sensação de que tudo acabou. Ou pelo menos está se transformando — e radicalmente — em outra coisa. E tão vago, não sei sequer dizer do que se trata."
Caio Fernando Abreu
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Bote salva-vidas
Pensei “novamente sexta-feira”. Sexta feira, novamente. Fiquei
nessa enquanto me afundava ainda mais na cama. As camadas de cobertas me
cobrindo com seu calor, deu vontade de nunca mais sair dali. Lá fora os pássaros
cantavam e os raios de sol entravam pelas frestas da janela do quarto que alguém
abriu antes de sair. Tive vontade de tomar um café, mas o corpo parecia letárgico
demais para sair dali, daquele confortável campo de repouso.
Peguei o telefone
e vi as horas, não era cedo e nem tarde. Tive no peito um ímpeto doido de fazer
alguma loucura qualquer como de te ligar e dizer para você largar tudo e me
encontrar em cinco minutos, no meio da praça.
Eu ia dizer pra
você que iria estar com aquele meu casaco vermelho de veludo e o lenço de flores,
de qualquer forma, você ia me ver lá, sentada em um banco, com um livro aberto
entre as pernas, mordendo uma maça.
Essa foi a cena
parisiense romântica que passou na minha mente em questão de segundos, rápidos
segundos destruídos pelo meu orgulho ferido. Engoli a mágoa e degustei as
lembranças recentes. Não vou ligar. Guardei o telefone e afundei ainda mais na
cama.
Seria lindo, mas
como dizia o Caio, as coisas bonitas não acontecem mais.
Me perguntei,
assombrada, um milhão de vezes o que foi que houve comigo, o que foi que
aconteceu, qual o motivo desse gelo todo entalhado no peito. Não sabia o que
poderia ter acontecido, e como aconteceu. Foi impercetivel de mais, alguma
coisa grande cresceu em mim, silenciosa, e a agora, ocupa espaço.
Passo os dias com
preguiça de fazer as menores coisas, tudo parece pesado, sem sentido, e quando
me olho no espelho, eu não vejo ninguém de interessante lá, apenas uma garota
comum, de olhos grandes e assustados.
Zé, o que foi que
houve?
Nas histórias que
eu lia, nessa idade a gente curtia muito. Eu acho que deveria estar por ai,
rindo de alguma coisa qualquer, apertando o braço de alguém e distribuindo
charme, ouvindo musica ruim, vestindo roupa sem noção e fazendo muita bobagem. Mas
não Zé, eu to em casa, to na cama e to desacreditada de mim mesma. Para mim a
vida passou a ser como um dos desenhos antigos do Mickey, aqueles em preto e
branco que ninguém fala e os bonecos parecem sempre muito feios.
Quanto tempo faz
que eu não escrevo? Semanas, meses, um ano? Meus livros se acumulam no fundo do
baú, cheios de pó e ideias não utilizadas. E eram ideias tão boas! O que foi que
houve, desacreditei deles também?
Olhei para o teto,
todo branco, sem nada. Me senti como ele, mas não tão genuinamente puro e
imaculado, ao contrário, me senti cheia de nada e ao mesmo tempo vazia de tudo.
Da para entender?
Pensei que conforme
os dias passassem eu tomaria mais controle da situação. Mas já é outra sexta,
talvez a miléssima sexta feira de tantas outras e eu ainda afundo na cama como
um ser com medo, paralisado por tudo, esperando uma ajuda, uma mão que me puxe
e me tire daqui. Lembrei que eu já ajudei tanto, já fui tantas vezes o bote
salva-vidas e nesse momento frio de tamanha desesperança eu me pergunto: E
agora Zé, quem será meu porto de repouso? Meu bote salva-vidas? Quem poderá me
ajudar?
Annabel Laurino
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"Tem princípios iguais os da mãe. Mas se acha careta, às vezes. Não cede, mesmo só. Adora sexo, embora não faça com a mesma frequência do desejo. Sente raiva por ser secretamente boba, romântica e demodê."
Gabito Nunes
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
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"Sou daqueles que, se você não fizer 36 polichinelos na minha frente, com uma placa “eu gosto de você” pendurada balançando no pescoço, jamais terei certeza."
Gabito Nunes
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Paraíso Solitário, guerreira vazia e seu elmo forjado
Não tenho medo de voltar atrás. Essa história de que
desistir é para os fracos, eu não caio. Eu não persisto naquilo que não me
agrada, eu não entro na guerra porque simplesmente quero perder a cabeça, não
vou desembainhar minha espada para ver meu combatente enfiar-me sua
lança sobre meu peito e ver a mim mesma tombar ao lado. Não vou continuar uma
jornada sem motivos, sem motivação, sem paixão. Não irei até o fim do caminho arrastando meus pés sobre espinhos se a esperança já morreu, se já mataram a rainha, se já roubaram e incendiaram todas as casas e as crianças já foram sequestradas. Não irei. Nem que o sol esteja ao pico e meu bebedouro cheio de água, sem motivos eu não continuo, sem paixão, eu não entro. Nesse caso eu volto atrás
mesmo, eu me escondo, ou eu pego minhas coisas e fujo, sem dar
explicação e satisfação.
Por que tão fria?
Eu me pergunto as vezes, passando em frente ao vidro frio de uma janela suja de um prédio
qualquer dessa cidade, vendo um rosto infantil, feição dura, tão descarnada de emoção. Mas não seria fria meu titulo.
Desesperançada, talvez. Simplesmente, desesperançada.
Mas permita-me esclarecer que caso eu, entrando em arena de combate, não sairia. Sim, eu, motivada, com a paixão fervendo nas veias, não sairia de lá até que derrotasse todos os leões, todos os gladiadores medievais e os mais bravos lutares e destruísse todas as suas espadas mais copiosas e perversas.
Porque ainda não aprendi a ter medo. E não tenho medo. Não tenho medo que me firam, que me prendam, que me instiguem e que zombem de mim pelas costas. Não tenho medo do que me agride a carne. Eu tenho mágoas. Receios. Tristezas e saudades. Isso sim, eu tenho forjadas em meu elmo. Mas sigo movida por motivações, por paixão, por arte, por musica, por beleza, por histórias, pelo diferente, pelo belo e surreal. Sou movida por amor, por tentativas, por verdade. Sou livre, livre e incontestavelmente egoísta, sim, mas ainda assim, verdadeira. Adoro uma verdade que machuque. Uma verdade que perdure. Simplesmente, uma verdade.
Mas permita-me esclarecer que caso eu, entrando em arena de combate, não sairia. Sim, eu, motivada, com a paixão fervendo nas veias, não sairia de lá até que derrotasse todos os leões, todos os gladiadores medievais e os mais bravos lutares e destruísse todas as suas espadas mais copiosas e perversas.
Porque ainda não aprendi a ter medo. E não tenho medo. Não tenho medo que me firam, que me prendam, que me instiguem e que zombem de mim pelas costas. Não tenho medo do que me agride a carne. Eu tenho mágoas. Receios. Tristezas e saudades. Isso sim, eu tenho forjadas em meu elmo. Mas sigo movida por motivações, por paixão, por arte, por musica, por beleza, por histórias, pelo diferente, pelo belo e surreal. Sou movida por amor, por tentativas, por verdade. Sou livre, livre e incontestavelmente egoísta, sim, mas ainda assim, verdadeira. Adoro uma verdade que machuque. Uma verdade que perdure. Simplesmente, uma verdade.
Sim, verdades. Pois assim, não me toque, não
me queira e nem me fale sobre amores, vida, paixões e tempos provindos se não
sabes como cuidar do que dizes mais amar. Não se pode fazer promessas e nem
proclamar amores hoje em dia, nunca se sabe o dia de amanhã. E eu, quase
sempre, nem mais me surpreendo. Sem surpresas, entrei apática ao mundo das
relações não vindouras. E me esqueci como regressar. Segui sem rumo sobre meu cavalo alado, minha espada esquecida, achando bonito o paraíso solitário do não sentir.
Annabel Laurino
domingo, 23 de setembro de 2012
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"Acontecem coisas estranhas quando estou num espaço muito amplo. Uma vontade de voar, parece que bastaria abrir os braços para fundir-me com o céu. Ao mesmo tempo, dá vontade também de ficar na terra, e viver, viver muito, com todas as miudezas do cotidiano. Impressão de ser maior que tudo, sensação de força, certeza de vitória, vitória tão certa e fácil como a coisas da natureza que se mostram ali."
— Caio Fernando Abreu.
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"Veja, os meus cabelos estão molhados, caminhei horas pela chuva querendo e não querendo procurar você.”
Caio Fernando Abreu
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
All My Love
Então eu deveria ter medo de caso você deixasse de me amar?
Bem, desculpa vai, mas eu não tenho. E talvez eu nunca tenha. Não sei como ser
assim, obsessiva com algo que simplesmente não exige de força para que exista.
Seria a mesma coisa
que obrigar um peixe a respirar fora do aquário por um tubo de oxigênio, seria manobrável,
útil, utilizável, etilizado e bruto. Obrigar a lei das coisas que simplesmente
fluem por que assim são.
Não vou dizer pra
você que você sabe onde é a porta e que pode ir embora a hora que quiser,
porque já é um fato que você sabe onde é a porta e o outro fato é que eu não
quero que você vá embora. Mas entre o meu querer e a simples força do universo,
eu não obrigarei você a ficar aqui do lado, dividindo a astral de um dia ruim
ou bom, quero você aqui por inteiro, você querendo, você ficando porque quer
ficar mais do que um futebol com os amigos ou uma partida de videogame, uma
festa qualquer, uma loucura de final de semana.
Eu não vou te ligar
de cinco em cinco minutos para saber onde você está e com quem você está e só
pra saber se você ainda me ama como me amava a cinco minutos atrás, desde que
nos vimos. E nem vou dizer pra você que seu sábado é só meu, que você tem a
obrigação de me ver.
Sei que parece que
não me importo, desse jeito. E nem é isso. Eu me importo sim, eu reparo sim. Eu
analiso todas as tuas formas, tuas faces, felizes e tristes, e sei quando tua
mente ta bagunçada, quando ta levinha e arrumada, já gravei na memória tua
risada alta e sei como meu cérebro corresponde muito feliz quando registra teu
sorriso na minha retina. E não quer dizer que eu não me importo só porque eu não
controlo o quanto de amor você tem por mim e até onde ele pode durar.
Acho que as coisas
leves, meu amigo, funcionam melhor, elas duram no tempo sem registro ou obrigação
de espaço, elas crescem, inflam, flutuam, rodopiam, deixam marcas e lembranças
e quando a gente percebe elas nos acompanharam a vida inteira, porque
simplesmente cresceram com um cuidado e amor diário, sem cobranças futuras e exigências
extremas, elas respiraram como deveriam, sem mais, sem menos, e fluíram.
Se você parar para
ver, a maioria do nosso caminho até aqui, surgiu assim.
Annabel laurino.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
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“Falando sério, tenho andado bastante sozinho, sobretudo ultimamente. É um tempo de agitações, de ímpetos de impaciência, ansiedade e mau humor. Contando com a resolução das coisas, que chegue logo um futuro que sei que virá, sabendo que nada mais depende de alguma ação minha. Só da minha habilidade em esperar. E isso me lembra que não há mais com quem contar, além do tempo. Que ando meio sozinho e assim eu quis, de certa forma.”
Gabito Nunes
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"E eu sou crua, penso mais em mim. Chamam de egoísmo o que eu denomino defesa própria, ninguém pode ter em suas mãos o direito de me fazer chorar, por motivos tão minúsculos e eu ainda consentir. Não, sou fechada a sentimentos desde que sejam provados, deixei de acreditar na farsa que é o eu te amo, dito tão firmemente que quase me fez acreditar que era verdade. Sou a favor das atitudes e da felicidade, vivida e não falada. Trago um peito cheio de amor, confesso, mas todo ele está preso."
Visão Antiga
Gerações de pessoas passam suas vidas inteiras se
perguntando para onde ir. Gerações de pessoas passam suas vidas inteiras
procurando o amor. E mais gerações de pessoas passam suas vidas inteiras
questionando respostas sem responder suas próprias perguntas.
As vezes, mas só
as vezes, eu vou te confessar que gostaria de ir para um desses lugares onde
você fica em total silêncio, tipo um templo budista, cheio de monges, meditações,
plantações de flores e frutos, admirar a natureza e o crescimento desprovido da
vida que simplesmente, acontece.
Não vou dizer a você
que a vida flui por uma obra do acaso. Mas a vida rege, se você parar pra
pensar, sem pedir permissão. De qualquer maneira, a vida continua, e uma porção
de coisas acontecem todos os dias, as vezes as mais insignificantes, sem nem
serem percebidas. E pessoas não são percebidas, as flores que brotam, as aves
que voam, o céu que descolore e pinga, ou as avenidas vazias vezes tão cheias.
Passar uma vida
inteira obrigando os fatos a ocorrem. Obrigando o amor a acontecer, se
questionando “quem sou eu? Quem é você? Quem somos nós?”. Eu acho que a esse
tipo de pergunta eu nem quero saber. Se eu soubesse ia acabar acreditando nesse
rótulo de o que e quem eu sou, e seria bem provável de me assustar dia ou outro
por me descobrir errada.
Certo dia eu disse
para um amigo que eu queria muito voltar a ser criança. Desacreditando ele
disse que não, ele não queria, que tudo antes era ruim, quando criança, e que
hoje ele tem uma liberdade infinita de fazer qualquer coisa e de ir para onde
quiser. Eu não quis dizer para ele que ele estava certo, mas na verdade ele não
entendeu meu ponto. Porque eu adoraria não era bem voltar a ser criança, era
sim uma fase ótima, as brincadeiras, os pincéis e colocar uma roupa doida sem
que te taxassem de estranha, o que eu quis dizer de verdade é como a gente vê o
mundo quando é tão pequeno.
Parece que quando
a gente cresce ficamos mais duros, mais cheios de descrenças e começamos a
rotular tudo como se andássemos por ai com uma daquelas maquininhas que colocam
preços nos produtos do supermercado. E escolhemos o que vamos ou não gostar e o
que odiamos e o que amamos e a quem amamos, sem nem mesmo lembrar que devemos
amar todos. Quando eu era pequena, achava que tudo era possível, que o mundo
era gigante, que as coisas eram feitas sempre por obras mágicas e lindas e
surreais.
Me pergunto então
qual o motivo de amadurecermos e virarmos essa massa dura que ninguém consegue
tocar dentro e moldar algo bom e bonito. Qual é a graça de ver o mundo sobre
uma superfície de rótulos, de perguntas praxes com respostas prontas e nem se
quer tentar ousar?
Decidi que seria ótimo
ir para um templo budista sim, mas enquanto eu não vou começarei a praticar
minhas próprias filosofias em casa mesmo, algumas horas de silêncio por dia não
irão me matar, começar a amar aquele alguém me fez muito mal também não. E
começarei a acreditar em paz, de espírito, paz mundial, a acreditar em fadas,
sereias, reinos distantes, planetas tingidos de uma borda lírica e fantástica a
bilhões de distância de nossa galáxia. Começarei a crer no amor, eu prometo. E
me darei o direito de ser feliz. Sendo eu o que sou ou a eterna criança que tem
dentro de mim.
Annabel Laurino
terça-feira, 18 de setembro de 2012
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"Hoje ele veio me falar das flores. Das flores, do jardim, das estações, do rio que corria em sua vida, do medo. Hoje ele veio me falar de expectativas. Dessas que a gente sufoca o outro sem ver, miudinhas, rotineiras, demasiadamente fantasiosas."
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
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“Sou egoísta, impaciente e um pouco insegura. Cometo erros, sou um pouco fora do controle e às vezes difícil de lidar, mas se você não sabe lidar com o meu pior, então com certeza, você não merece o meu melhor!”
Marilyn Monroe
domingo, 16 de setembro de 2012
Todo Amor que Houver Nessa Vida
Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria
Cazuza
sábado, 15 de setembro de 2012
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Eu acho que amo uma complicação do tipo desnecessária, situações que eu entro sem pensar e dai quando eu vejo fico nessas sem saber pra onde ir.
Annabel Laurino
Come on !
Seria um máximo se a gente socasse nossas coisas, nossas
tralhas, no porta-malas e partisse logo quando o sol amanhecesse amanhã. Se a
gente tivesse um carro. Nesse caso, a gente jogaria uma mochila nas costas e
voaria daqui, dessa cidade cheia de princípios antigos e gente de mente pequena
e rostos conhecidos desde que saímos da maternidade. Vai, eu aposto que você
era o bebê ao meu lado na sala do maternal, berrando sem parar. Isso explicaria
muita coisa, destino, fado. Como dizia Cazuza, nossos destinos foram traçados
na maternidade. E por que não?
Queria te dizer
tantas coisas, mas dizer ocupa tempo no espaço cheio de adornos eloqüentes que
vivemos hoje, melhor mesmo é deixar a musica doida e agitada tocar alto nos
auto falantes enquanto a gente se curte sem medo, planejando uma emboscada
qualquer, uma fuga divertida no meio da noite, sem deixar bilhete na geladeira.
Não faz sentido
essa gente chata por ai e seus padrões ironizados e ultrapassados. Eu mesma, já
tentei tantas vezes adentrar em um desses padrões, mas eu tão baixinha,
acinturada e quadris largos simplesmente não entro nessa história. Falando sério,
to legal assim, fazer o que. A mente Ta boa, te garanto. E no fundo é o que
importa mesmo. Só queria mesmo era ficar longe dessas coisas todas.
Um final de semana
na praia, alugando um quarto barato, saindo pra caminhar nas manhãs ensolaradas
de nuvens meio brancas celestiais ia renovar nosso espírito, quem sabe eu até
me descobrisse. Quem sabe até esses sonhos loucos, esses pesadelos constantes
cheios de insignificados, gente que desconheço e pressões súbitas de realidade
onde me vejo presa sem conseguir acordar, passassem.
Passaríamos um
final de semana longe de tudo, vendo as ondas quebrando, os pássaros e os
bichos estranhos na auto estrada, as arvores verdíssimas e o asfalto cinza aglutinado na
paisagem da janela do primeiro ônibus que iríamos pegar pela manhã. Conheceríamos
uns caras loucos que nos apresentariam a mais um monte de amigos mais doidos
ainda e que nos chamariam para uma social, nos contariam histórias trágicas sobre
suas viagens malucas em meio ao mundo e essas coisas meio blá.
Pode parecer
loucura, mas eu ficaria até bem. Seria bom, não acha? Podíamos nadar nus em uma
praia paradisíaca e ter as roupas roubadas, nos perder, ficar sem grana e ter
que ganhar um dinheiro em um trampo de meio período no fast food gordurento da
auto estrada. Que acha? Tranqüilo? Aventura de mais pra você? Prometo que
depois de um mês a coisa engrenava e a gente dava no pé daqui para a Sicilia,
ou Marrocos, Egito, Arabia Saudita, Sudão e tal.
E então, vamos?
Pega suas malas ali, coloca aquelas suas meias quentes, pode fazer frio, não
esquece da máquina fotográfica e das camisetas abarrotadas. To te esperando
nessa espreitada, um beijo.
Annabel Laurino.
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Gosto do meu individualismo, só me encontro dentro dele, lá fora cansei das pessoas trocarem ideias, mentiras, vantagens, idiossincrasias. Não importa o quanto me fazem rir e sentir um pouco mais distante da morbidez. Vocês sempre terminam me magoando quando servem-se de metade, só um pedacinho de mim.
Gabito Nunes
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
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"O moço que me amava e não era correspondido, dizia que tenho medo de amar. Expliquei que não era medo, mas desinteresse. Por que algumas pessoas não conseguem escutar exatamente o que foi dito pra tentar corrigir nossa recusa catando ilusões nas entrelinhas?"
Marla de Queiroz
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
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Acabei me entristecendo com as coisas que escrevi. As verdades, porque as mentiras não entristecem.
— Caio Fernando Abreu
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"O que você quer? Absolvição? Aplausos? Ver nos meus olhos uma ponta de dor? Que eu desague um rio de lágrimas? Correção? Desculpa entrar na brincadeira sem julgar seu acontecimento como uma mera molecagem credora de castigo. Nunca fui sua mãe e você já não é mais criança, posso afirmar, apesar da sua ingenuidade em pensar que assim a coisa soaria mais honesta. A pior ingenuidade é achar-se esperto."
Gabito Nunes
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Às vezes estou por cima, às vezes estou por baixo. Mas estou sempre por alguma coisa. Por alguém. Por aí. Por você. Pelos metrôs. Por uma coisa diferente. Pela coisificação dos romances.
Gabito Nunes
terça-feira, 11 de setembro de 2012
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Cadê você que me esqueceu?
Quem você que eu não esqueço?
Quem é você que me prendeu
E depois me deixou pra trás?
Que não vai voltar
Por mais que eu cante, escreva, toque
Não vai dar
Você não vai mudar
Você não vai mudar
(E sabe que sozinho eu não sei aonde ir)
Pianinho - Esteban
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
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É essa minha mania de mergulhar de cabeça nas coisas que me deixa tão pirada. Uma hora eu estou tão sozinha, quieta, esquecida, colocando uma massa de bolo no forno e esperando a massa crescer, esquematizando minha lista de estudos e ouvindo uma musica, bebendo um chá gelado de pantufas e pijama, e em outra hora eu estou nos braços de alguém, nadando num passado e me afogando num futuro que eu nem sei de onde veio, sendo acertada em cheio pelo inesperado presente. Faz sentido? Eu sei que não faz. Até agora não sei bem onde estou e como vim parar aqui. Não é ruim, essas situações loucas de que me coloco sempre. Da a impressão de que sou uma fugitiva, sempre em fuga de alguma coisa que me persegue e me faz correr para todos os lados e abrir todas as portas, ou uma caçadora de um tesouro escondido, vasculhando novas ilhas misteriosas. Não sei se é ruim, se mata, se engorda. Não faz sentido, não diminuiu, quem sabe, acrescenta. "Não sei se me levo ou se me acompanho." Sabe como é? Eu também não.
Annabel Laurino
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"As coisas só começam a fluir, quando a gente permite que isso aconteça. Eu to confiando em mim de novo, me permitindo, porque eu sei que posso muito, mereço muito! É muito bom finalmente me dar essa segunda chance, depois de ter dado tantas pra quem nem valia à pena."
Tati Bernardi
Tati Bernardi
Reflexo
Sua queda foi não saber que o meu olho mágico não ficava na minha testa, nem na minha boca que te contava histórias para te distrair, ou nos meus ouvidos que ficavam atentos em cada delonga sua, de horas e virgulas e respostas afiadas, não perdendo nem um ponto que despencava no abismo dos teus lábios. Meu olho mágico que registrava tudo, até suas transformações de cores que se alternavam em dias, seu humor sempre nublado, sua felicidade sempre mista e mesclada, difundida em nostalgia, suas máscaras de sorrisos acompanhados de olhos tristes, tudo isso amor, tudo isso eu registrei na minha retina imperceptível, meus dois radares de alta voltagem e sensoriais. Tudo isso porque de alguma forma sua essência passou a ser refletida não mais nos meus olhos, mas em mim mesma, quase como um reflexo de espelho, uma imagem completamente familiar, intocável, mas ainda assim familiar, e você nem se quer percebeu. Sua queda foi essa, pensar que distraidamente se distraindo me distrairia pelo caminho distorcido que andavas. Alteração alguma eu poderia fazer para te transformar em uma peça ajustável e mais bonita, brilhante, finés. Mas eu reconhecia, dolorosamente te reconhecia. E não mais que ninguém, sabia quando os vincos da sua boca estavam para baixo e uma lágrima invisível despontava dos teus olhos, mesmo que tentasses esconder. Mesmos que tentasses se esconder.
Annabel Laurino
Mais uma crônica qualquer
Fiquei muito
irritada com você. De verdade. Eu quase senti que ia sair fora do corpo de
tanta raiva. Vontade era de socar você e sua cara de sono, sua língua grossa e
seus olhos desmantelados. Cansei. Chutei o pau da barraca.
Passei duas horas
me arrumando em frente ao espelho, arrumei o cabelo, pintei as unhas, coloquei
seu perfume preferido e tava com saudade! Olha só, eu, com saudade! Todas as
peripécias perfeitas de quem gostaria de ser notada e se importando um pouco
com a situação. E olhe o que você fez!
Você todo
desligado, me chega todo desfeito, despreparado, despreocupado. Garanto que nem
notou na minha felicidade cantante de quando te abri a porta, te mandei entrar,
com um ar meio diferente, alegre, entusiasmada por te ver, porque era domingo,
tinha sol e eu queria muito sair, pegar da tua mão e rir feito doidos como de
costume, porque isso sempre foi e seria ainda melhor em mais um domingo como
aquele. Só que você tava com cheiro de cerveja, descabelado, desarrumado,
tonto, perdido, com chiclete de menta para disfarçar a promessa assídua do que
não iria fazer e acabou fazendo, com os bolsos recheados de desculpas
esfarrapadas e perdidas de sempre.
Pensei em chorar
no meio daquela musica do Bon Jovi, sentada em frente ao computador pensando no
que te disser, mas eu não tinha mais nada pra dizer e mesmo o que eu acabei dizendo
foi tudo da boca pra fora, foi tudo tipo engasgo desengasgado. Não foram
palavras prontas ou pensadas. Eu fiquei mesmo foi triste, decepcionada. Nossa,
você foi tão cruel.
Já parou pra
pensar o quanto esse coração aqui era frio até você chegar? Eu nem se quer
sabia a diferença de uma borboleta marrom para uma folha enegrecida caindo de
uma árvore. Minha percepção aos detalhes era difusa. Você mudou tanta coisa. Me
trouxe tantas musicas, sons, cores, sabores e me mimou tanto. Faz aquele cafuné
gostoso, aquele café doce e aquece os pés de alguém como ninguém. O que foi que
houve rapaz? Não me diga que você é esse tipo de jogador confuso que quando ta
no final do Time, nos acréscimos do segundo tempo, pronto pro desempate da
vitória, ganhando na casa, você entrega o gol pro time adversário? É isso
mesmo?
Tinha desmarcado
todos meus compromissos na agenda pra te ver. E olha o que você faz. Acho que
assim não segue, sei lá. Já foram tantos ‘agora pode fluir, agora vai, o vento
sopra, a coisa firma’ que eu to desanimada demais. Desanimei. Desiludi. Coisa
mais chata você e sua áurea desorganizada, negra e cheia de mesmices. Já disse
que odeio gente molenga? Que não sabe se vai, se vem. Que fica se atirando nas
paredes, que anda meio que se empurrando pra frente, esperando alguém aparecer
para dar um sacodes e ajudar no ‘vamo lá!’. Já fui esse tipo de gente, que
parava com a maior paciência do mundo. Que te ajudei, que te dei os maiores
sacodes do Universo e que te disse as maiores delongas de uma vida inteira. Mas
hoje, hoje meu rapaz, não mais.
Fui. Já chega. Já
era. Deu. Acho que se você me ouviu direito eu disse muito bem, eu até recitei
um verso da querida Tati Bernardi do seu lado, enquanto você jogava e nem me
dava ouvidos, “Quando a gente se importa, ainda é um sentimento, ainda é alguma
coisa, raiva, ódio, essas coisas. Quando a gente não se importa mais, vira
apatia, indiferença.”.
Acho que é isso que
você quer de mim, minha total e completa indiferença, só para que eu pare então
de falar, lavar, esfregar paredes, fazer sinais de fogo pra te chamar a
atenção, eu e meu lado certo, correto, organizada e chata. Mas to nem ai, você
que é burro, você que me perde sempre e sempre, e por coisas tão banais que
você julga tão legal e cool e tal.
Tchau. Já fui. A segunda feira já começou, minha
sintonia desentronizada de você também. Um beijo.
Annabel Laurino.
sábado, 8 de setembro de 2012
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“A partir de hoje, só o que for muito, muito leve, bonito e fácil. A grande maioria desiste. Eu, só estou abrindo mão. Concordo contigo, também aconteceu comigo: o meu coração partiu. Para outro lugar.”
Gabito Nunes
Translúcida
Sou um espírito impaciente, por natureza sóbria e consciente.
Se você diz que chegara as dez, e se as dez e um ainda não tiver chego eu
estarei fechando as janelas, passando o trinco na porta, pelo lado de fora, e
tomando um rumo qualquer sem deixar bilhete grudado no batente. Sou criança,
mimada, manhosa, mas sei quebrar vidros, queimar fotos e me esquecer do passado
com um estalar de dedos, friamente calculável. Eu sei, eu tenho minhas manias,
beber café antes de dormir, ficar indecisa com qual leitura irei iniciar e
ficar cheteada por não me decidir, cheirar livros, falar sozinha, beber chá
depois do almoço, falar com os animais como se fossem gente, ouvir musica alta, comer doce antes do almoço ou da janta e pedir meus
momentos de solidão, para que eu possa desfrutar da minha leitura, ou da minha
escrita, que vezes me ferem agudas.
Em questão física,
eu sou quase imperceptível, mas sou macia como um lençol d’água, flexível e dobrável,
olhos, cabelo, boca, tal como você também tem. Dias eu acordo tão transparente
e dias eu acordo cinzenta, como um céu nublado cheio de nuvens carregadas de
tempestade.
Procurarei nos seus
braços um abraço de conforto e nas suas coxas um colo para que eu possa me
deitar e no seus ombros um ombro para que eu possa reconfortar meu rosto e
pedir alento, ou amor, ou carinho, tanto faz. Procurarei na tua boca um beijo,
mas não qualquer beijo, um beijo de verdade, que desperte sentidos, que acorde
da mesmice diária como uma injeção de ânimos.
Não acredito em
meio termo, mais ou menos é pior ainda. Não existe amor mais ou menos, carro
mais ou menos, casa mais ou menos, as coisas são ou não, de mais ou de menos,
mas são. É tudo ou nada. Não quero que você segure a minha mão se tem a intenção
de solta-la amanhã, você tem que segurar a minha mão acima da incerteza do
futuro, porque você quer segura-la e ponto. Não importa se você não pensa em
passar o resto dos seus dias comigo, mas que você quer passar o próximo momento
mais duradouro da sua vida ao meu lado.
Eu não vou te ligar
no meio da noite implorando para que salve a minha vida, porque eu descobri que
a única pessoa que pode salvar minha vida sou eu mesma, independente de alguém. E
também não irei mentir, eu não minto. Quase sempre, ou sempre, responderei uma
de suas perguntas com tanta sinceridade que te surpreenderás, engasgarás
magoado ou ferido pelo golpe no estomago que não esperavas e depois pensaras
que é melhor assim, no meio do vicio, do comício, da dor, do desespero, da
perda, dos olhos fatigados e das noites agourentas de madrugadas insandecidas,
pensarás que melhor mesmo é ter alguém que diga sim ou não e que te olhe dentro
desse teu olho marejado de saudade todas as coisas que ninguém ainda teve
coragem de te contar. E talvez, só talvez, essa seja uma das minhas, se não a
maior, qualidade. Não te escondo nada, firo, mas sou sincera e nua como a
verdade incontestável.
Annabel Laurino
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
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"Quem se importa com o meu olho escancarado e cheio de desencanto? Quem, entre todos vocês, estenderá a mão para passar no meu cabelo? Quem cantará um acalanto para a minha insônia?"
Caio Fernando Abreu
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
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Voltei a escrever! Não vou parar nunca, por mais inútil que seja (e talvez não seja).
(Caio Fernando Abreu, carta a Nair Abreu)
Ensopados
Have You Ever Seen The Rain - Creedence
- Vai Ju, me deixa entrar! Por favor!
- Vai embora, vai embora!
- Jujuba, para com isso amor.
- Não me chama de jujuba!
- Amor...
- Nem de amor, Mauricio.
- Não me chama de Mauricio, Ju.
- Juliana! Meu nome é Juliana!
- Para com isso...
- Para você! Vai embora!
- Ta chovendo pra caramba Ju... Juliana, deixa eu entrar, to todo molhado.
- Pega um taxi.
Continuou a bater na porta, a porta de madeira grossa com uma janela longa e retangular no meio, conseguia vê-la do outro lado, as costas grudadas na porta, de certo escorando o corpo e empurrando a porta para que abafasse as batidas insistentes dele. Via sua camisa cor de rosa de botões encharcada.
A chuva ficou mais forte, cada vez mais densa, os pingos gelados ensopando-o, a valeta ao lado da calçada corria com pressa, para o final da rua. Transeuntes apressaram o passo, seguindo suas direções de final de dia.
- Ju...
Dessa vez ela não respondeu. Ouviu-a suspirar pesadamente, seu tamanho pareceu diminuir refletido pelo vidro, imaginou-a dobrando as pernas e escorregando cansada pelo chão.
- Vai Ju, vamos acabar com isso amor, abra a porta, me deixa entrar. Vamos lá pra cima, te faço um café quente, a gente toma um banho, conversa melhor.
Ela continuou a não responder. Estaria chorando? Bateu três vezes mais na porta dura e sentiu uma fincada na mão, olhou-a e estava vermelha, de tanto bater.
Um homem calvo e baixinho estava parado ao seu lado, usava um casaco pesado e preto e o olhava de esguelha. Quando o olhou, o homem disfarçou e pareceu balançar a cabeça para os lados, jogou um papel de bala na valeta e continuou olhando os carros como se esperasse algo, ou alguém.
- Que que foi?
- Que que foi o que? – indagou o homem calvo relativamente surpreso.
- Sei lá, vi você balançar a cabeça e tal, ta com problema? Estou incomodando?
- Não balancei a cabeça.
- Balançou sim, eu vi.
- E se tivesse balançado, e daí?
- E dai nada, tem a ver comigo.
- A cabeça é minha, balanço a hora que eu quiser.
Irritado, chutou a porta da qual não havia parado de bater desde que iniciara a discussão com o tal homem. Olhando através do vidro viu Juliana se surpreender dando um passo a frente, afastando-se da porta.
- Eu vi vocês dois vindo desde lá a esquina, vou te dizer, a moça tem razão em não te abrir a porta.
- Você não sabe de nada.
- Você fez ela chorar cara, nenhum homem que faça uma mulher chorar daquele jeito merece desculpas. E ela tem razão, você parece um viado.
- Eu não sou viado... Eu não fiz ela chorar... Olha quem é você afinal? Defensor das mulheres ou o que?
- Mauricio para de discutir!
- Então abre essa porta Ju!
- Eu ouvi ela diser que é pra você não chamar ela de Ju...
- Meu Deus! Cuida do seu problema ai, poluindo as ruas.
- O que você tem com isso, é algum defesor ambiental?
- E se fosse?
- Mas não é. Então eu jogo o lixo onde eu quiser.
- Então cuida da sua vida e vai embora!
- To indo, estou só esperando o taxi.
- Ju! Abre a porta!
- Se eu fosse ela não abria porta nenhuma pra você, e coisa mais, aliás.
Fingiu não ouvir e continuou as batidelas na porta, insistentemente.
O Homem deu de ombros e puxando a gola do casacão pra cima correu para o meio fio e entrou num taxi que passava abrindo a porta e sumindo lá dentro.
- Até que enfim. – suspirou Mauricio aliviado.
- Eu vou subir.
- Não Ju! Por nós! Eu fui um babaca, eu sei, mas abre a porta.
- Acabou, já chega.
- A gente ta tendo essa discussão através de uma porta, sacramento! Eu to encharcado! As pessoas tão me olhando, acham que eu sou louco Ju!
- E você é!
- Você também, sua louca!
- Você não me chamou de louca...
- Chamei sim, pirada, não me deixa entrar, eu não tenho culpa que eu não sei a diferença de azul para lilás e que eu não percebi que você cortou o cabelo! Droga.
- Tem culpa sim, ainda disse que gostou do vestido daquela loira.
- Era um vestido bonito.
- Não, não era!
- Era sim, pensei que ia ficar lindo em você.
- Conta outra Mauricio.
- Não me chama de Mauricio.
- Vai embora. Mauricio.
As gotas da chuva começaram a escorrer por dentro da boca enquanto a abria, como se estivesse embaixo de um chuveiro em alta potência. Fechou os olhos de cílios encharcados e tentou decidir se ia embora agora ou pedia para que abrisse a porta mais uma vez. Mas não soube, não saberia. Era difícil depois de tanto tempo e tantas brigas e seria por mais um longo tempo, não conseguia largar mão dela, assim, tão fácil. Mesmo que a situação não fosse fácil, que a chuva gotejasse na sua cabeça encharcada, que raios começassem a trovejar lá longe, o céu estivesse negro e que a mão doesse e o pé gotejasse pelo chute na porta. Era difícil simplesmente ir embora e esquecer de tudo, se trancar em casa e sobreviver com o “se ela ligar..”.
Não. Não posso ir embora assim.
‘Você foi um idiota’
Sim sim sim sim! Eu fui, eu sei, eu sou. Mas quem não é?
Quando levantou a cabeça não a viu parada através do vidro, como estava há dois minutos atrás. Teve vontade foi de gritar, de derrubar a porta como nos filmes e subir as escadas do prédio em três e três degraus e agarrá-la pelos braços como se fosse uma criança birrenta, que na verdade era.
Vou embora. Decidiu no engasgo de um choro que vinha lento e que não se lembrava como era chorar, não lembrava como era chorar desde que a conhecera, era difícil saber novamente agora.
Recomeçou a caminhada friamente, a passos tropengos, a sola dos calçados fazendo uma melodia estúpida enquanto grudavam nas lajotas da rua, chegou ao meio fio e estendeu a mão, esperando um taxi que dificilmente iria passar.
- Mauricio !
Olhou pra trás e lá estava ela. Os cabelos loiros platinados despenteados em um coque bagunçado feito de ultima hora, alguns fios caindo pelo rosto anguloso de boneca, o nariz vermelho e os olhos inchados. O pescoço comprido e branco, de pele macia que ele tanto amava. As bochechas coradas.
Não pensou. Para que pensaria? Caminhou feito um bêbado apressado em sua direção, a água nos calçados fazendo força para baixo, a cada passo.
- Juliana... – falou enquanto chegava perto, o coração desparatado no peito.
- É ju, jujuba, amor.
Agarrou-a pelos braços, subindo o degrau dos prédios, ela tinha cheiro de baunilha, café, doce de morango. Era ótimo estar do outro lado da porta agora.
Meu Deus pensou enquanto olhava aqueles olhos claros cor de sol e mel, o quanto me custaria ter ido embora, quantas noites, quantos dias eu iria passar sem dormir.
- Me desculpa ju, me perdoa vai.
- Shh, ta tudo bem. Vem, entra.
Entrou desajeitado, saindo da chuva que agora, ali dentro, parecia ainda mais pavorosa.
Ela pegou suas mãos e quando fez isso aproveitou, puxando-a para mais perto, abraçando-a até que a erguesse do chão, não queria mais largar. Tascou-lhe um beijo na boca pequena, um beijo longo, demorado, queria que todos os beijos fossem assim, daquele gosto e jeito. E era sempre assim depois das brigas, dos estranhamentos, sempre tão doidos, feridos, vadios de amor. Era preciso uma bagunça dessas para sentir falta do que tinham a cinco segundos atrás.
- Você ta todo encharcado.
- Então vamos subir.
- Para aquele café quente...
- E aquele banho...
Annabel Laurino
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Sei que to descabelada, vai não ri, é só um cabelo, um ninho
bagunçado, minhas ideias camufladas de sentimentalismo nervoso, mas e daí? Você
nunca ligou pra isso mesmo. Eu só queria que nesse dia nubladissimo que o sol
nem se quer veio dar a cara a tapa, o dia que o sol resolveu se esconder nas
nuvens densas e cinzentas sabe-se lá em que altitude acima de nossas cabeças
malucas, te queria aqui do lado, respirando o mesmo ar, olhando as mesmas
paredes, espiando a casa dos vizinhos e as arvores densas dos fundos da minha
casa, no meio dos meus livros e musicas, e cheiros costurados em lençóis, eu te
queria aqui sentado na minha cadeira puída verde para que eu sentasse no teu
colo e ajeitasse minha cabeça no teu ombro, descansando depois de uma maratona
de horas decorridas lambendo no relógio.
Mas mesmo nos dias cinzentos, por mais perfeitos que sejam, desejos são só desejos. Você já ta longe baibe, e eu também. Parece que o mundo lá fora te interessa muito mais do que a minha cabeleira bagunçada, minhas ideias confusas, meus discos arranhados e minhas musicas antigas, parece que nem mesmo minhas mãos frias podem te manter congelado sentado aqui por mais do que alguns minutos. E minutos, quem vive de minutos meu bem?
Mas mesmo nos dias cinzentos, por mais perfeitos que sejam, desejos são só desejos. Você já ta longe baibe, e eu também. Parece que o mundo lá fora te interessa muito mais do que a minha cabeleira bagunçada, minhas ideias confusas, meus discos arranhados e minhas musicas antigas, parece que nem mesmo minhas mãos frias podem te manter congelado sentado aqui por mais do que alguns minutos. E minutos, quem vive de minutos meu bem?
Annabel laurino
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"Tudo que eu queria te dizer era tudo que eu não posso mais te dizer, ou tudo que eu queria ouvir mais vezes, muito tempo antes de chegarmos a esse ponto de partida, minha partida, tão adiada partida."
Gabito Nunes
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"Superar é retomar o percurso da vida, sem rechaçar qualquer chance de volta. Isso é liberdade, beibe."
Gabito Nunes
terça-feira, 4 de setembro de 2012
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“Confesso que ando muito cansado, sabe? Mas um cansaço diferente. Um cansaço de não querer mais reclamar, de não querer pedir, de não fazer nada, de deixar as coisas acontecerem.”
Caio Fernando Abreu
say me: surprise
Existem esses momentos lindos, quando estamos certos de
tudo. Sabe, certos da vida toda, pronta adiante de nós. O coração cheio,
certeza branda, quem deve estar ao seu lado está e quem não deveria, não está. Ta
tudo certo, tudo legal. Funciona bem.
Mas amigo, existem
aqueles momentos incertos, que nada funciona bem. Que os dias já amanhecem
tristes, que da aquela vontade de voltar correndo pra cama e se esconder
embaixo dos cobertores, de abraçar o próprio corpo e chorar horas, porque você
se sente sozinho e pequeno de mais em um mundo tão gigante. Que qualquer gesto
grande pode colocar a perder a pirâmide de cartas a sua frente. Em frenesi, em
um ataque de nervos, você mesmo derruba a pirâmide, chora horas a fio, e depois
não mais do que arrependido esquece-a bagunçada no chão.
Eu sei, que pena
quando os dias são assim. Mas eles amanhecem tortos e é mentira que depois
melhoram. Eles pioram, vezes se estendem por uma ou duas semanas.
Tenho me sentido
assim amigo. A vida parece tão confusa às vezes, você não acha? Queria saber o
que você, é você ai sentado, faria com a minha vida se estivesse no meu lugar. Seria
interessante pelo menos uma vez ver alguém tomar o controle dessas situações
todas.
Descendo por um
escorregador brilhante e pulando círculos de espirais coloridos, é como um
sonho daqueles quando a gente dorme pela manhã. Eu vejo milhares de rostos, e o
meu nunca. As vezes tão triste e cabisbaixa, é difícil manter a pose, a pose do
‘não me importo, não me toque’.
Acho que tudo isso
deve ser um sofrimento antecipado. É a minha pureza de sempre Zé. A minha
pureza e minha inocência de sempre e que quase ninguém entende. E eu só queria um
abraço daqueles que te tiram do chão, bem fortes, bem apertados, queria aquele
cuidado de sempre, aquela dedicação de alguém pronto a estar ao lado. Eu só
queria era um sonho vivo saído do fundo do baú e pulsando na realidade
idealizada. É pedir de mais? Não sei. Mas bem que a senhora vida podia me
surpreender Zé. Ou isso, ou eu caio num poço de amargura, de frieza, aquela
frieza de sempre. E depois, depois Zé, vai ser difícil sair de lá. Aquela coisa
dos tais dias se alongando em meses, sabe como é?
Annabel laurino.
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E no meio de tanta gente eu encontrei você
Entre tanta gente chata sem nenhuma graça, você veio
E eu que pensava que não ia me apaixonar
Nunca mais na vida
Eu podia ficar feio só perdido
Mas com você eu fico muito mais bonito
Mais esperto
E podia estar tudo agora dando errado pra mim
Mas com você dá certo
Por isso não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais
Por isso não vá, não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais
Eu podia estar sofrendo caído por aí
Mas com você eu fico muito mais feliz
Mais desperto
Eu podia estar agora sem você
Mas eu não quero, não quero
Entre tanta gente chata sem nenhuma graça, você veio
E eu que pensava que não ia me apaixonar
Nunca mais na vida
Eu podia ficar feio só perdido
Mas com você eu fico muito mais bonito
Mais esperto
E podia estar tudo agora dando errado pra mim
Mas com você dá certo
Por isso não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais
Por isso não vá, não vá embora
Por isso não me deixe nunca nunca mais
Eu podia estar sofrendo caído por aí
Mas com você eu fico muito mais feliz
Mais desperto
Eu podia estar agora sem você
Mas eu não quero, não quero
(Não Vá Embora - Marisa Monte)
sábado, 1 de setembro de 2012
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"Isso não vai acabar! Por que o estado dessa atmosfera tão densa, uma vez modificado, não seria definitivo?"
Julio Verne - Viagem ao Centro da Terra
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“Tenha paciência. Tudo aquilo que você deseja, se for verdadeiro, e o mais importante: se for para ser seu, acontecerá.”
William Shakespeare.
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- O que você está fazendo?
- Ajeitando as coisas.
- Por quê? Alguma ocasião especial?
- Não, nenhuma.
- Então por que diabos há essa hora você está ai, arredando
móveis, limpando os quartos...
- Estou apenas me preparando.
- E para o que, posso saber?
- Para quando a primavera chegar. E ela vai chegar. Sempre tão
exigente aquela velha calhorda cheia de flores nos cabelos pintados de branco. Já
viu como ela age? Aquele amor de sempre...
- Ah! E aquela saudade de sempre.
- Também, também...
Annabel laurino
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