segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Mais uma crônica qualquer


    Fiquei muito irritada com você. De verdade. Eu quase senti que ia sair fora do corpo de tanta raiva. Vontade era de socar você e sua cara de sono, sua língua grossa e seus olhos desmantelados. Cansei. Chutei o pau da barraca.
    Passei duas horas me arrumando em frente ao espelho, arrumei o cabelo, pintei as unhas, coloquei seu perfume preferido e tava com saudade! Olha só, eu, com saudade! Todas as peripécias perfeitas de quem gostaria de ser notada e se importando um pouco com a situação. E olhe o que você fez!
    Você todo desligado, me chega todo desfeito, despreparado, despreocupado. Garanto que nem notou na minha felicidade cantante de quando te abri a porta, te mandei entrar, com um ar meio diferente, alegre, entusiasmada por te ver, porque era domingo, tinha sol e eu queria muito sair, pegar da tua mão e rir feito doidos como de costume, porque isso sempre foi e seria ainda melhor em mais um domingo como aquele. Só que você tava com cheiro de cerveja, descabelado, desarrumado, tonto, perdido, com chiclete de menta para disfarçar a promessa assídua do que não iria fazer e acabou fazendo, com os bolsos recheados de desculpas esfarrapadas e perdidas de sempre.
    Pensei em chorar no meio daquela musica do Bon Jovi, sentada em frente ao computador pensando no que te disser, mas eu não tinha mais nada pra dizer e mesmo o que eu acabei dizendo foi tudo da boca pra fora, foi tudo tipo engasgo desengasgado. Não foram palavras prontas ou pensadas. Eu fiquei mesmo foi triste, decepcionada. Nossa, você foi tão cruel.
    Já parou pra pensar o quanto esse coração aqui era frio até você chegar? Eu nem se quer sabia a diferença de uma borboleta marrom para uma folha enegrecida caindo de uma árvore. Minha percepção aos detalhes era difusa. Você mudou tanta coisa. Me trouxe tantas musicas, sons, cores, sabores e me mimou tanto. Faz aquele cafuné gostoso, aquele café doce e aquece os pés de alguém como ninguém. O que foi que houve rapaz? Não me diga que você é esse tipo de jogador confuso que quando ta no final do Time, nos acréscimos do segundo tempo, pronto pro desempate da vitória, ganhando na casa, você entrega o gol pro time adversário? É isso mesmo?
    Tinha desmarcado todos meus compromissos na agenda pra te ver. E olha o que você faz. Acho que assim não segue, sei lá. Já foram tantos ‘agora pode fluir, agora vai, o vento sopra, a coisa firma’ que eu to desanimada demais. Desanimei. Desiludi. Coisa mais chata você e sua áurea desorganizada, negra e cheia de mesmices. Já disse que odeio gente molenga? Que não sabe se vai, se vem. Que fica se atirando nas paredes, que anda meio que se empurrando pra frente, esperando alguém aparecer para dar um sacodes e ajudar no ‘vamo lá!’. Já fui esse tipo de gente, que parava com a maior paciência do mundo. Que te ajudei, que te dei os maiores sacodes do Universo e que te disse as maiores delongas de uma vida inteira. Mas hoje, hoje meu rapaz, não mais.
    Fui. Já chega. Já era. Deu. Acho que se você me ouviu direito eu disse muito bem, eu até recitei um verso da querida Tati Bernardi do seu lado, enquanto você jogava e nem me dava ouvidos, “Quando a gente se importa, ainda é um sentimento, ainda é alguma coisa, raiva, ódio, essas coisas. Quando a gente não se importa mais, vira apatia, indiferença.”.
    Acho que é isso que você quer de mim, minha total e completa indiferença, só para que eu pare então de falar, lavar, esfregar paredes, fazer sinais de fogo pra te chamar a atenção, eu e meu lado certo, correto, organizada e chata. Mas to nem ai, você que é burro, você que me perde sempre e sempre, e por coisas tão banais que você julga tão legal e cool e tal. 
    Tchau. Já fui. A segunda feira já começou, minha sintonia desentronizada de você também. Um beijo.



Annabel Laurino.

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