segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Reflexo

    Sua queda foi não saber que o meu olho mágico não ficava na minha testa, nem na minha boca que te contava histórias para te distrair, ou nos meus ouvidos que ficavam atentos em cada delonga sua, de horas e virgulas e respostas afiadas, não perdendo nem um ponto que despencava no abismo dos teus lábios. Meu olho mágico que registrava tudo, até suas transformações de cores que se alternavam em dias, seu humor sempre nublado, sua felicidade sempre mista e mesclada, difundida em nostalgia, suas máscaras de sorrisos acompanhados de olhos tristes, tudo isso amor, tudo isso eu registrei na minha retina imperceptível, meus dois radares de alta voltagem e sensoriais. Tudo isso porque de alguma forma sua essência passou a ser refletida não mais nos meus olhos, mas em mim mesma, quase como um reflexo de espelho, uma imagem completamente familiar, intocável, mas ainda assim familiar, e você nem se quer percebeu. Sua queda foi essa, pensar que distraidamente se distraindo me distrairia pelo caminho distorcido que andavas. Alteração alguma eu poderia fazer para te transformar em uma peça ajustável e mais bonita, brilhante, finés. Mas eu reconhecia, dolorosamente te reconhecia. E não mais que ninguém, sabia quando os vincos da sua boca estavam para baixo e uma lágrima invisível despontava dos teus olhos, mesmo que tentasses esconder. Mesmos que tentasses se esconder.

 Annabel Laurino

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