quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Visão Antiga


    Gerações de pessoas passam suas vidas inteiras se perguntando para onde ir. Gerações de pessoas passam suas vidas inteiras procurando o amor. E mais gerações de pessoas passam suas vidas inteiras questionando respostas sem responder suas próprias perguntas.
    As vezes, mas só as vezes, eu vou te confessar que gostaria de ir para um desses lugares onde você fica em total silêncio, tipo um templo budista, cheio de monges, meditações, plantações de flores e frutos, admirar a natureza e o crescimento desprovido da vida que simplesmente, acontece.
    Não vou dizer a você que a vida flui por uma obra do acaso. Mas a vida rege, se você parar pra pensar, sem pedir permissão. De qualquer maneira, a vida continua, e uma porção de coisas acontecem todos os dias, as vezes as mais insignificantes, sem nem serem percebidas. E pessoas não são percebidas, as flores que brotam, as aves que voam, o céu que descolore e pinga, ou as avenidas vazias vezes tão cheias.
    Passar uma vida inteira obrigando os fatos a ocorrem. Obrigando o amor a acontecer, se questionando “quem sou eu? Quem é você? Quem somos nós?”. Eu acho que a esse tipo de pergunta eu nem quero saber. Se eu soubesse ia acabar acreditando nesse rótulo de o que e quem eu sou, e seria bem provável de me assustar dia ou outro por me descobrir errada.
    Certo dia eu disse para um amigo que eu queria muito voltar a ser criança. Desacreditando ele disse que não, ele não queria, que tudo antes era ruim, quando criança, e que hoje ele tem uma liberdade infinita de fazer qualquer coisa e de ir para onde quiser. Eu não quis dizer para ele que ele estava certo, mas na verdade ele não entendeu meu ponto. Porque eu adoraria não era bem voltar a ser criança, era sim uma fase ótima, as brincadeiras, os pincéis e colocar uma roupa doida sem que te taxassem de estranha, o que eu quis dizer de verdade é como a gente vê o mundo quando é tão pequeno.
    Parece que quando a gente cresce ficamos mais duros, mais cheios de descrenças e começamos a rotular tudo como se andássemos por ai com uma daquelas maquininhas que colocam preços nos produtos do supermercado. E escolhemos o que vamos ou não gostar e o que odiamos e o que amamos e a quem amamos, sem nem mesmo lembrar que devemos amar todos. Quando eu era pequena, achava que tudo era possível, que o mundo era gigante, que as coisas eram feitas sempre por obras mágicas e lindas e surreais.
    Me pergunto então qual o motivo de amadurecermos e virarmos essa massa dura que ninguém consegue tocar dentro e moldar algo bom e bonito. Qual é a graça de ver o mundo sobre uma superfície de rótulos, de perguntas praxes com respostas prontas e nem se quer tentar ousar?
    Decidi que seria ótimo ir para um templo budista sim, mas enquanto eu não vou começarei a praticar minhas próprias filosofias em casa mesmo, algumas horas de silêncio por dia não irão me matar, começar a amar aquele alguém me fez muito mal também não. E começarei a acreditar em paz, de espírito, paz mundial, a acreditar em fadas, sereias, reinos distantes, planetas tingidos de uma borda lírica e fantástica a bilhões de distância de nossa galáxia. Começarei a crer no amor, eu prometo. E me darei o direito de ser feliz. Sendo eu o que sou ou a eterna criança que tem dentro de mim.



Annabel Laurino

Um comentário:

Gugu Keller disse...

O que mais procuramos é o que procurar.
GK