segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A segunda podia ser curta como esse texto

Este bloquinho vai acabar. Falta o que? Acho que quinze páginas. Nem isso. Vou ter que comprar outro pra poder escrever minhas listas de afazeres. Os outros bloquinhos tão vazios.
As listas são fáceis de fazer.
Hoje tá difícil. Queria sentar no colo de alguém e me lamentar até segunda que vem. Dá vontade de nunca mais escrever. Chega. É isso.
Por quê eu escrevo? A caneta é pesada.
Escrevo.
Escrevo.
Escrevo.
Que outra coisa eu posso fazer? Só sei isso. O resto é nada.
Minha ficha é a 106. Mais uma e depois sou eu. A criança sentada na cadeira da frente me olha bem dentro do olho. Sorri. Não sorrio porque não sei sorrir assim, mas finjo qualquer coisa como um sorriso. Acho graça em pensar como criança não tem medo de encarar gente grande dentro do olho. Fico sem jeito.
É a minha vez.
Parei de escrever pra ir até o guichê. Multa da biblioteca paga, mais uma vez. Nunca aprendo. Dez e meia da manhã. Entro na livraria depois de caminhar todo o centro. Asfalto quente. Concreto duro. Não quero mais essa segunda-feira.


Annabel Laurino

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