Este bloquinho vai
acabar. Falta o que? Acho que quinze páginas. Nem isso. Vou ter que comprar outro pra poder
escrever minhas listas de afazeres. Os outros bloquinhos tão vazios.
As listas são fáceis de
fazer.
Hoje tá difícil. Queria
sentar no colo de alguém e me lamentar até segunda que vem. Dá vontade de nunca
mais escrever. Chega. É isso.
Por quê eu escrevo? A
caneta é pesada.
Escrevo.
Escrevo.
Escrevo.
Que outra coisa eu
posso fazer? Só sei isso. O resto é nada.
Minha ficha é a 106.
Mais uma e depois sou eu. A criança sentada na cadeira da frente me olha bem
dentro do olho. Sorri. Não sorrio porque não sei sorrir assim, mas finjo
qualquer coisa como um sorriso. Acho graça em pensar como criança não tem medo
de encarar gente grande dentro do olho. Fico sem jeito.
É a minha vez.
Parei de escrever pra
ir até o guichê. Multa da biblioteca paga, mais uma vez. Nunca aprendo. Dez e
meia da manhã. Entro na livraria depois de caminhar todo o centro. Asfalto
quente. Concreto duro. Não quero mais essa segunda-feira.
Annabel Laurino
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