São
movimentos que destoam. Não se pode saber em qual esquina encontrará os
destroços de algum caos que esqueceu. Sutiã apertado, dor de cabeça no canto
esquerdo da testa. Não deveria ter saído de salto, ela pensa. Salto alto e pedras
não combinam. Os calcanhares doem assim como todas as pedras fora do lugar
nessa cidade.
Esta
que ninguém sabe o nome, diz para si mesma que não quer voltar para as louças
sujas jogadas na pia. Não quero voltar para aquelas louças sujas na pia, embora eu mesma
tenha escolhido aquelas louças. E acrescenta mais uma vez, entre um tropeço e
outro, que não deveria ter saído de salto.
Ninguém
saberá seu nome porque criatura alguma é lembrada aqui. Ninguém saberá quantos
prédios de fachadas sujas esses olhos negros não destrincharam. Olhos negros de
uma criatura sem nome. Que não saberão, não lembrarão.
Como
poderiam? Não poderiam. Passos podem ser ouvidos no escuro. Os passos de quem
são? A cidade dorme de baixo de uma cortina, véu azul escuro,
desacortinado de memórias confusas, rostos que estamparam no presente passado.
Ela
vai voltar para as louças sujas? Voltará. Em algum momento do dia enquanto
estiver entre mastigar as cenas das ruas e beber as ultimas gotas da sua
esperança, ela, sem nome, voltará para a casa, para os compêndios de frases não
ditas, amontoados de sensações esquisitas de quase morte, nunca de verdade
sentida. Como é futuro e de futuro ela nada sabe, mesmo que quisesse não
acreditaria. Nem em cartas, tarôs ou búzios, porque em coisa alguma acredita,
mesmo que todas essas coisas lhe falassem de futuro. Dorme não pensando no que
acontecerá. Acorda sabendo que mais uma vez venceu o sono e que sem saber por
que, acordou.
Se
levanta em madrugadas de domingo e como não sabe para onde ir, espera o sol
surgir no céu e ir rabiscando mais uma vez, uma porção de sensações esquisitas.
Escorrega nos espaços abertos de uma história que não deveria ter começado. Porque
ela não contará.
Annabel Laurino
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