Gabito Nunes
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
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"E mesmo sabendo que as nossas chances são praticamente nulas, eu gostaria de entender por que a gente ainda se procura."
terça-feira, 30 de outubro de 2012
In: Irreversível
"Eu detesto gente bêbada, eu odeio essa cultura cervejeira e seus comerciais ilusórios e seus cus faturando dinheiro enquanto quatro jovens perdem suas cabeças embaixo de um caminhão após uma festa, ou enquanto dois irmãozinhos se escondem debaixo da cama porque, assim como anteontem, hoje também é dia da mamãe levar surra do papai. Se você bebe por vício, hábito ou ritual – e não pelo sabor e pelo prazer autêntico –, para metamorfosear sua identidade ou aliviar alguma angústia ou remorso, não há argumento racional que me tire da cabeça que você é um idiota. Você pode ser um doente social agora, tudo bem, coitado, mas algum dia já foi um idiota. Na bocada inicial ou quando passou a glamorizar a alegria ou o conforto dos goles seguintes.
Gente bêbada é chata, covarde, prepotente, burra, deprimente, uma personalidade fraudulenta, um prejuízo ambulante, um fardo futurístico, uma estatística lamentável. Quanto de dinheiro você já gastou com destilados, meu amigo, e até onde você foi com isso? E quando você puxa papo e me conta todo empolgado quantas doses variadas você consumiu na noite anterior, achando tudo super legal, silenciosamente eu só consigo te achar idiota. Desculpe, camarada, desdenhar seu mérito. Mas aposto que aquele mendigo na porta da farmácia absorve três vezes mais garrafas do que você. E vai continuar mendigo."
Gabito Nunes
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"Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados."
Caio Fernando Abreu
DESespera
Noites frias aquelas. Levantava do sofá sonolenta e
desperta, entre um cochilo e outro, entre um bocejar e o abrir e fechar de
olhos. Levantava-se, corria até a janela, com os pés pequenos como os de uma
gueixa e afastando as cortinas da janela, olhava com seus olhos de gato branco
a rua deserta. Espichava o corpo macio e pequeno na ponta dos pés em direção a
enorme janela da sala, olhos atentos. Nada dele chegar.
Era quase sempre
assim, nos últimos tempos. Uma espera desesperada que não surtia efeito, só
esmagava. E esmagava cada vez mais. Ela própria se sentia afundar a cada
nanosegundo nas almofadas indianas do sofá. O canal de compras da televisão era
puro tédio, misturado com a energia de um café meio frio, meio quente, a vida
era continuamente estranha, e ele nunca chegava. Noites frias aquelas.
Talvez ele viesse
a chegar um dia, quem sabe. Na hora marcada, se convisse ele marcar uma hora.
Mas ela acabava sempre desistindo. Levantava do sofá, com os pios alegres dos
pássaros lá fora e relutantemente, passava o trinco na porta, indo se jogar
sobre a cama com as lágrimas. Isso sempre quando
amanhecia o dia, quando era obrigada à desistência.
Desde que ele foi
embora era um ritual frívolo aquele. Como afundar a faca na carne bem
devagarzinho, não devagar, mas muito e muito, cada vez mais e sempre, devagar.
Um milímetro a cada longos segundos e a dor sempre aguda, roçando a pele na
faca até sangrar.
Coitada dela,
diziam os vizinhos que sempre viam as luzes acessas da casa. As amigas
insistiam que deveria seguir em frente, quem sabe tentar Yoga, pilates, jump,
viajar para o Quênia e cuidar de elefantes órfãos ou Dubai então? Um pouco de ouro
não faz mal a ninguém. Mas nenhuma pessoa viva sentia o seu
sofrimento. Depois de muitos naufrágios, abandonar o barco era como a
desistência de uma longa jornada, era o fracasso de uma vida. Uma vida que aos
poucos deixava de existir.
Claro que se
perguntava as vezes, entre a mordida de uma bolacha Bonno e um gole de
coca-cola, que se afinal ele havia ido embora então era por fim o terrível
ponto da história. Mas, e sempre havia o mas, havia a esperança.
Branca e
reluzente, a acompanhava nas noites longas.
Noites que até o
podia ver com muita nitidez abrindo a porta, então com a barba por fazer, meio
castanha, meio ruiva, os cabelos desgrenhados do vento frio da noite, a jaqueta
de couro preta e as calças meio folgadas nos joelhos, os olhos de tigre
desesperado, meio verdes, meio negros, afundados pelo cansaço. Não haveria
palavras para serem ditas, a pegaria no colo e a levaria para a cama, o resto
era a sua imaginação febril que a acompanhava.
Eis que teve uma noite em que
desistiu, não ficou na sala, sentou na porta, com chinelos havaianas e cabelos
presos em um rabo de cavalo despenteado. Ele não chegou, claro. Ela fechou a porta e
saiu caminhando pelas ruas. Cinco horas da manhã. A visão dele indo embora
pelas calçadas era vivida. Se soubesse que era a ultima vez que ele tinha ido
embora, que o estaria vendo, enfim, não sabia, não tinha como saber, isso só
provava que a vida era inútil, injusta, malvada.
Mas antes de sair pela porta, subiu até o quarto e abriu o guarda roupa. Pegou o calção
negro que ele sempre usava para dormir. Sua mente protestava com a aproximação
da dor, agora quase familiar, e seu coração gritou por um pouco de piedade. Mas
não resistiu. Levou a roupa até as narinas e aspirou o cheiro. Era só o aroma de guardado e umidade. Quanto tempo fazia agora desde que aquela roupa estava
ali? Cinco meses? Quatro anos? Calçou a peça e desceu as escadas, o calção bamboleando nos quadris. Não era assim tão magra antigamente, mas agora, com sua alimentação virada em bolachas doces na madrugada e nada mais do que isso, os ossos dos quadris eram nitidos. Não comia como antes, quando ele fazia o café da manhã e preparava os jantares, sempre tão deliciosas as massas e os sorvetes caseiros.
As luzes matinais
de uma manhã fria de verão reluziu vermelho lá longe no céu, só as luzes, pois a
estrela grande estava escondida ainda. Ao longo da caminhada silenciosa podia
ter jurado que ouviu seus passos lentos ao seu lado, mas ele estava longe, não era
possível, compreendeu enfim. Caminhou entre os muros pixados e desbotados e jurou tê-lo ouvido
sussurrar seu nome, mas era impossível, ele havia partido. Olhou uma nuvem
crespa, branca e enevoada lá acima e jurou tê-lo visto debruçado sobre uma pluma de nuvem, sorrindo,
flutuando entre as nuances prateadas e arroxeadas de uma manhã prestes a nascer.
A dor de uma partida as vezes é tão viva quanto a morte. E ele já não vivia
mais ali. Era uma dor que não aceitava a compreensão dos fatos, o desespero de uma espera sem sentido, afogada em saudades.
Annabel Laurino
sábado, 27 de outubro de 2012
Molejo
Vou te confessar uma
coisa, ando com muita preguiça. Não, pera ai, não é preguiça de viver, de pegar
o controle da TV que ta do outro lado da sala, de secar o cabelo, de levar o
copo pra pia, de sair com o cachorro ou até mesmo preguiça de fazer
literalmente tudo. É preguiça social mesmo.
To cheia de ter que
ficar espezinhando todas as informações mentais que passam no meu cérebro e
entregar de bandeja para os outros, por que assim fica mais fácil de me
entender, da menos trabalho, não precisa pensar.
Oh que triste,
assim são os homens. Nunca explicaram pra eles que mulher gosta de ser
surpreendida? Ok, então lá vai. Eu gosto de ser surpreendida. De ser entendida
sem ter que me explicar, de ser observada sem perceber, de receber mimos sem
nem ter dado a intenção de que os queria.
Não tem nada mais
gostoso do que você receber de alguém uma surpresinha nem que seja, um programa
a dois todo pronto sem nem ter um dedo seu no meio do cronograma, um agrado, um
afago, uma ligação feita fora de hora sem a intenção de falar nada além de
“precisava dizer que te amo’.
As vezes eu sou
muito dura com as coisas, mas dentro de mim mora uma velha e dengosa romântica
das mais antigas. Daquelas pessoas que escrevem cartas, acordam com café da
manhã na cama, cafuné com beijinho, presente embaixo do travesseiro depois que
acorda, ligação pela manhã, flores e cartões sem motivo, data ou comemoração.
Acho que deixa a
vida mais bonita, mais cheirosa, mais brilhosa. Da a sensação de que tem sempre
algo novo e assim, nada se desbota. É muito triste quando as relações passam a
fatigar com mensagens eletrônicas de má vontade e discussões onde um pretende do outro o que
aquele nunca dá.
Não nasci para
sentar e esperar atitudes, eu gosto de tudo pronto. Principalmente quando minha
urgência por coisas bonitas é uma fome que não cessa nem em dias de muito frio.
Tenho preguiça de me explicar, de dizer tantas e tantas vezes o que eu espero.
Na verdade, é mais como se eu quisesse que você começasse a ler nas
entrelinhas, nos meus olhos, nas palavras que eu não falo, no que eu não
mostro, no que eu escondo. Só para então, talvez, alguém decifrar o segredo por
trás dos meus silêncios.
Annabel Laurino
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Avalanche
Eu não sei o que me feriu mais, a sua indiferença ou a
facada no estomago ao ver tudo ruir ladeira a baixo, diante dos meus olhos. Ambas
as coisas desconexas, mas me machucaram frivolamente, tudo com uma pontinha de
minha culpa.
Nunca aprendi a
lidar com decepção, com desespero, com coisas quebradas e relacionamentos
estranhos, nunca entendi o fracasso embora tenha fracassado um milhão de vezes.
Então eu sentei aqui e comecei a fazer o que eu sei fazer melhor nesse mundo e
o que muitos dizem que não me levará a nada, escrever.
Comecei a escrever
coisas desconexas mesmo, tudo o reflexo de coisas presas e entaladas no peito. Mas
não saiu nada, no começo foi a destruição do quadro mais feio e mal pintado que
já se viu e depois, ficou pior. Eu respirei fundo, tomei um gole de café e
continuei sentada, rabisquei no caderno, desenhei um gato de óculos, prendi o
cabelo, escrevi umas mentiras esboçadas em frases e depois chorei.
Não sei como
consegui chorar, não foi um choro de verdade, não houve lágrimas. Foi só uns
soluços abafados que eu fiquei ruminando enquanto mantinha o travesseiro
afundado no peito.
Pensei que esse ano
tudo seria diferente, pensei que estava condunzindo minha própria vida mas as
vezes bate um desespero de simplesmente não estar. Entende? É como se tivesse
uma outra pessoa no controle de tudo isso decidindo as coisas por mim, e por incrível
que pareça, parece que essa pessoa louca, esse psicopata idiota adora ver um
drama na minha vida, uma história repetitiva e ultrapassada, ele simplesmente
ama uma reprise.
Vou te dizer que
não ta fácil. Nunca fui de muitos amigos, nunca me encaixei de verdade. Eu
sempre fui a estranha socada no fundo da sala olhando todo mundo com um ar de “quem
são vocês e de onde saíram todos?”. Juro que já tentei entendê-los, mas são
eles que não me entendem. Aos olhos vagos eu não passo de uma garota com a cara
enfiada nos livros que escreve e é chata de morrer. Aos olhos vagos eu só sou
mais um alguém meio assim, por ai.
Eu queria que a
nossa amizade tivesse durado, juro. É difícil encontrar pessoas que a gente se veja
tanto, nem que seja em um pontinho aqui e ali, mas que a gente se veja. E eu me
vi em você, em algumas nuances meio borradas, mas eu me vi, e foi tão bom até a
gente começar a misturar tudo. Olha agora, que indiferentes, momentos estranhos
e deslocados, transbordando o nosso
orgulho.
Há também as outras
coisas, que eu sempre abro mão quando está prestes a acontecer. É que eu ando tão
triste, comigo, com tudo. Não faz mais sentido entender, eu sei. Mas eu sempre
me deixo por vencida. Eu acho que não acredito mais em mim em ninguém ou em qualquer coisa. Sem perspectivas
a vida vira uma droga e eu ando completamente sem saber para onde ir, que rumo
tomar. O que eu sei é que as coisas que eu faço e tudo que eu tenho que fazer não
me dão prazer, e eu fico sentada olhando aquela gente chata, cada qual um molde
idêntico da outra, aqueles gritos, aqueles berros, eu sei que não preciso estar
ali todas as tardes, mas eu devo, e eu me sento, ouço aquelas informações serem
despencadas em cima de mim, me encho de força, me encho de esperança, penso que
se Einsten teve que aturar isso, se Jane Austen teve que aturar isso, se Van
Gogh teve que aturar isso, então eu consigo.
Mas não consigo. Eu
queria muito conseguir, mas me desmotivei. To desmotivada. É uma vontade de não
estar mais aqui, de nunca ter estado.
Falando tudo isso,
não resolve nada. Eu ainda ouço os pedaços de gelo da enorme avalanche ruir lá
do alto, vindo ao meu alcance, vindo sobre mim. E não sei se terei forças para
impedir, para segurá-la, não sei se encontrarei nos meus braços, os únicos braços
que podem impedi-la, a força que preciso para manter tudo no seu devido lugar, intocável.
Annabel Laurino
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"Eu sabia do seu amor porque nas noites que eu queria saltar do mundo, você me sossegava com os lábios na minha nuca gelada, misturando duas ou três palavras de abrigo. Vai ficar tudo bem. E ficava. Ou já estava. (…) só queria que você soubesse: eu amo você demais e foi preciso nada mais que cinco voltas ao redor do meu mundo pra perceber que não existe mais alguém capaz de me tocar com a ponta dos dedos como se de mim saísse música, sempre que meu corpo estremece de algum medo ridículo de que aquele amor quieto não fosse real."
Gabito Nunes
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
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Então, claro, você se acostuma. Obviamente ninguém é de
ninguém, e eu não posso ter a posse sobre você e sobre todas as outras pessoas
do mundo. As pessoas são livres, completamente livres, e o são mais ainda sobre
circunstâncias que não as permitem ficar juntas. Elas voam sobre o paralelo do
mundo em direções diferentes, se encontram, se reencontram. Para mim, agora,
tudo bem, sinceramente. Uma hora a gente tem que se acostumar que não podemos
ter tudo, todo mundo. Uma hora eu ia ter que entender que sobre todas as circunstâncias,
que não fomos feitos para estarmos
juntos. Mas como eu disse, tudo bem. É uma daquelas fases que a gente sempre
tira o coelho da cartola, sempre da um jeito de se divertir, de ser feliz. E
para mim, ver seus sorrisos nas réstias de tardes colado nos lábios e seus
olhos infantis criando risos na minha boca, lembrando da velha infância, ta
tudo bem, tudo bem. Estamos todos muito bem.
Annabel Laurino
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Que a gente tenha: Astral bonito. Prece nos lábios. Saudade mansinha. Fé no futuro. Delicadeza nos gestos. Conversa que cura. Cotidiano enfeitado. Firmeza nos passos. Sonhos que salvam.
- Caio Fernando Abreu.
domingo, 21 de outubro de 2012
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"E então eu tocava as suas costas calculadamente com a ponta dos dedos e você se encolhia no colchão como uma criança e brincávamos de nada mais importa no mundo."
Lucas Simões
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Às vezes o que parece um descaminho na verdade é um caminho inaparente que conduz a outro caminho melhor. As vezes não. O que a gente pode fazer é dar crédito ou não à pessoa. Freqüentemente não vale a pena. Freqüentemente, vale.
Caio Fernando Abreu
sábado, 20 de outubro de 2012
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Primavera depressiva e a droga da transição
Dizem os meteorologistas
que a primavera chegou. Dizem os ambientalistas que estamos em uma fase de transição
cuja ocorre raramente em um período de anos, esse em especial é um ano louco, é
verão no inverno, inverno invadindo o outono, o outono invadindo a primavera e
a primavera abocanhando o verão. Coisa de doido mesmo. Mas os meteorologistas
afirmam que isso é normal, é o ciclo de transição do globo terrestre para poder
se estabilizar.
Mesmo assim as
flores brotam lá fora da minha janela, no topo de uma arvore alta que alcança
as telhas e fica bem na vista. Mesmo assim parece que todos os animais estão
procurando um par por ai, e os casais parecem mais animados, os que ainda não
formaram um, estão procurando um par por ai. Tudo como manda o cronograma. Só
que os casais estão se desfazendo aos poucos e muito rápido. Pera ai, o que?
Não estamos na primavera?
As regras foram
quebradas esse ano, meus companheiros. E os casais, na primavera, quase não
existem mais. É tão inédito quando sorvete Negresco no supermercado. Os casais
primavelescos estão em extinção. As pessoas querem ficar só.
Claro, os
psicólogos dizem que isso é normal. É uma fase de transição muito compreensível
afinal o ser humano anda muito independente. Homens e mulheres preferem morar
sozinhos e os jovens preferem curtir. Ninguém quer mais saber daquele troço
antigo e muito out que os avós da gente diziam que era amor. Isso só acontece
no carnaval, com confete e samba da Ivete Sangalo ao fundo. E como os caras
estudiosos afirmam, é uma situação normal, vai se estabilizar.
O que houve com as
pessoas eu não saberia dizer. Astrólogos dizem que o clima fora dos eixos
desencaixa-se do plano astral, interferindo nas áureas humanas. Os astrônomos
arriscariam dizer que a estrela mãe está com vibrações radiativas de alto nível
que estão causando problemas sobre os nossos cérebros e claro, o clima. Os
ateus estão isentos sobre as informações, não acreditam em nada.
Eu, bem eu não sei
o que eu acho disso tudo. É tanta flor querendo voar e tanto pássaro querendo
correr. É tanta gente caminhando para todos os lados. Os vovôs e vovós dizem
que tudo é culpa da ‘internetilização’. Quando criaram os fones de ouvido
então, acabou o romance, ninguém mais quis saber de ouvir o que os outros tinham
a dizer e todo mundo se enfiou nos seus casulos.
Transição é fase
repleta de mudanças, bem como todos sabem. Eu mesma sou um ser puramente de
natureza transitória. Mas ultimamente da uma saudade dos velhos tempos, não
digo do tempo especifico, mas quem sabe do tempo do vovô e da vovó mesmo. As
primaveras eram frescas e cheias de flores e as pessoas paravam nas ruas para
se cumprimentar, para comentarem sobre o aroma das flores e frutos da cidade,
sobre o céu limpo e azul, os verões eram longos e quentes e os invernos
recheados de grossas roupas, longos casacos, chuvas temperais acumulando poças
pela cidade e homens cavalheirescos auxiliando belas damas a atravessá-las.
Cadê os beijos
roubados? Onde foram parar as cortesias, os investimentos de um romance prestes
a engrenar, os pedidos de namoro com cartas e flores e os bombons do dia dos
namorados? Onde está a primavera, aliás, perdida por ai em algum canto do mundo
incapacitada de se achegar sobre nós loucos? Eu nem vi as flores que dirá o
amor! Onde foram parar as boas musicas e o céu limpinho lá acima, e beijo na
mão com faces rubras, cadê o amor minha gente? Cadê a beleza de tudo isso?
De tantas pessoas
analisadas na história, uma criança de cinco anos disse que amor ta aqui oh,
aqui dentro, desse peito da gente. Olhando lá pra dentro nem com mil olhos eu
posso ver, garanto que ninguém pode, mas manda essa gente toda começar a
senti-lo por ai, a começar a amar um pouquinho vai, quem sabe assim, a
primavera aparece, recuperada e forte depois de sua crise de depressão, não
tendo mais corações para inflar e flores para brotar, depois que todos
esqueceram-se de apreciá-la, de se inspirar, de sonhar. “Que coincidência é o
amor!”.
Annabel Laurino
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
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"Eu não vou te ligar no meio da noite implorando para que salve a minha vida, porque eu descobri que a única pessoa que pode salvar minha vida sou eu mesma, independente de alguém. E também não irei mentir, eu não minto. Quase sempre, ou sempre, responderei uma de suas perguntas com tanta sinceridade que te surpreenderás, engasgarás magoado ou ferido pelo golpe no estomago que não esperavas e depois pensaras que é melhor assim, no meio do vicio, do comício, da dor, do desespero, da perda, dos olhos fatigados e das noites agourentas de madrugadas insandecidas, pensarás que melhor mesmo é ter alguém que diga sim ou não e que te olhe dentro desse teu olho marejado de saudade todas as coisas que ninguém ainda teve coragem de te contar. E talvez, só talvez, essa seja uma das minhas, se não a maior, qualidade. Não te escondo nada, firo, mas sou sincera e nua como a verdade incontestável."
Annabel laurino in Translúcida
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Flash back of Wine
Bebeu de um gole do vinho, era doce e o cheiro era horroroso. Ao contrário das pessoas ultramodernas, não sabia que safra seria aquela, se o vinho era tinto ou suave, havia uma gravura de belos vinhedos da Itália na garrafa verde fosca, isso bastava para qualquer informação. Afinal o vendedor do posto dissera que vendia bastante. E agora para seu espanto as pessoas além de chatas gostavam de beber vinho ruim.
Quem a olhasse naquele momento acreditaria sim que era do tipo de pessoa ultramoderna, sentada na cadeira de frente para a escrivaninha, a taça de vinho do lado enquanto checava os e-mails com os cabelos presos em um coque bagunçado e os óculos caindo delicadamente pela ponte fina do nariz. Era o tipo de pessoa de aparências. Completamente centrada. Profundamente descontrolada.
Pegou o telefone e apertou uma tecla qualquer, nenhuma mensagem ou ligação, a não ser os recados impertinentes que o chefe havia deixado na caixa de voz. Dane-se o mundo, pensou amarga, tomando mais um gole da bebida fedorenta.
Abriu a janela e acendeu um incenso de jasmim. Era quarta-feira, quartas tendiam a ser dias muito ansiosos, a espera do feriadão e final de semana, a espera pelo descanso que qualquer pessoa precisa. Mas ela não queria descanso nenhum, seus finais de semana ultimamente vinham a ser muito mais tediosos do que qualquer segunda feira podia prometer a ser, muita chuva, muito choro acompanhado de filmes dramáticos e antigos com um pote de sorvete ao colo.
Não era o tipo de pessoa que se ocupada de seu oficio com leitura. Na sua cabeça, livros eram necessários para entrar na onda do “todo mundo ta lendo”, nada mais. Cansativo, out, old, nem pensar.
Passou a mão pelas bochechas descarnadas e sentiu um dó de si mesma que não cabia dentro de si, teve vontade de gritar. Teve vontade de estar na rua naquele exato momento, com o carro empenhado no transito da Paulista só pra poder gritar com um ordinário barbeiro qualquer. Nesses momentos a infelicidade de se estar no lugar errado e não ter com quem gritar é deprimente.
Passou a mão no telefone e não pensou. Não iria mais pensar em nada.
Trabalhava num escritório de direito em um prédio movimentado. Passava horas do seu dia trancada numa sala assinando papéis e falando palavras difíceis com gente que as vezes não entendia metade. Os quatro anos e meio da faculdade faziam-na se arrepender nos dias em que o sol aglutinava nas vidraças do prédio e não tinha para onde correr. Por isso se liberou a uma loucura qualquer, uma locurinha tola de meia tigela, quem iria perceber?
Digitou o número gravado na memória mais até mesmo que a senha do cartão de crédito. Atendeu depois de três chamadas, a voz ruída e um pouco bamboleante.
- Alô?
- Oi. Sou eu. – parecia tímida e a voz tremida como a de uma criança com medo de entrar em um quarto escuro.
- Ah ! Você! Como vai, ta tudo bem?
- É... To sim, e você?
- To bem também. Faz tempos que não nos falamos, desde o que? A festa na casa do Mário?
- É...
A conversa emergia para o ponto de repouso depois do ápice de um reencontro casual. E agora? Fazia o que? Era partir para o ataque ou deixar a conversar morrer em uma desculpa clichê para saber se o brinco da avó não ficou na casa dele, por acaso, simplesmente.
- Estou surpreso de você me ligar, não nos falamos há tanto tempo.
- Senti saudades. – mordeu o lábio com força empurrando a vergonha para dentro com mais um gole de vinho fétido.
- Uau. – pareceu nervoso, se não o conhecesse tão bem não saberia que estaria nesse exato momento passando a mão pela nuca e soltando um sorriso enviesado.
- Faço mal em te ligar essa hora?
- Não... N... Mal nenhum. Foi bom você ligar, pensei em você ontem, achei um filme que vimos juntos passando na televisão e lembrei do ensopado de carne que inventamos de fazer mas saiu tudo errado. Lembra?
- Saiu tudo errado naquela noite... – se permitiu uma risada lembrando-se do acidente com as panelas.
- Gosto de ouvir seu riso, é tão bom.
- ...
- Por que você parou de atender minhas ligações? Foi tudo tão rápido...
- Exatamente, achei que tudo entre a gente estava indo tudo muito rápido.
- Sempre com medo do que é bom.
- Eu sei.
- To indo ai.
- O que?
- Você não me ligou só pra dizer olá, não é mesmo? Então que tal a gente pular as entrelinhas, eu to sozinho, você também, somos dois adultos tal como manda o procedimento, e chego ai em cinco minutos, levo um vinho.
- Ah... Vinho não, tudo menos vinho. – olhou a garrafa em cima da mesa, abominando-a.
- Prometo levar um vinho gostoso, sei que você tem um péssimo gosto para vinhos. – ele riu, uma risada divertida.
- Você me conhece.
- Mais do que deveria.
- Mais do que eu queria.
- Pelo menos você irá beber um vinho decente.
- E talvez mais que isso... – sorriu olhando seu reflexo no vidro da janela.
- Estou chegando.
- Estou te esperado.
Foi até o banheiro e borrifou perfume nos pulsos, soltou os cabelos que despencaram em uma cascata ondulada, tirou os óculos e passou seu batom rosa, depois colocou os óculos novamente. Com um cara como ele as aparências do que não era eram postas de lado. Com um cara como ele, ela sabia que podia ter muito mais do que uma quarta feira prometia, e quem sabe, todos os dias da semana. Todos que viessem.
Quem a olhasse naquele momento acreditaria sim que era do tipo de pessoa ultramoderna, sentada na cadeira de frente para a escrivaninha, a taça de vinho do lado enquanto checava os e-mails com os cabelos presos em um coque bagunçado e os óculos caindo delicadamente pela ponte fina do nariz. Era o tipo de pessoa de aparências. Completamente centrada. Profundamente descontrolada.
Pegou o telefone e apertou uma tecla qualquer, nenhuma mensagem ou ligação, a não ser os recados impertinentes que o chefe havia deixado na caixa de voz. Dane-se o mundo, pensou amarga, tomando mais um gole da bebida fedorenta.
Abriu a janela e acendeu um incenso de jasmim. Era quarta-feira, quartas tendiam a ser dias muito ansiosos, a espera do feriadão e final de semana, a espera pelo descanso que qualquer pessoa precisa. Mas ela não queria descanso nenhum, seus finais de semana ultimamente vinham a ser muito mais tediosos do que qualquer segunda feira podia prometer a ser, muita chuva, muito choro acompanhado de filmes dramáticos e antigos com um pote de sorvete ao colo.
Não era o tipo de pessoa que se ocupada de seu oficio com leitura. Na sua cabeça, livros eram necessários para entrar na onda do “todo mundo ta lendo”, nada mais. Cansativo, out, old, nem pensar.
Passou a mão pelas bochechas descarnadas e sentiu um dó de si mesma que não cabia dentro de si, teve vontade de gritar. Teve vontade de estar na rua naquele exato momento, com o carro empenhado no transito da Paulista só pra poder gritar com um ordinário barbeiro qualquer. Nesses momentos a infelicidade de se estar no lugar errado e não ter com quem gritar é deprimente.
Passou a mão no telefone e não pensou. Não iria mais pensar em nada.
Trabalhava num escritório de direito em um prédio movimentado. Passava horas do seu dia trancada numa sala assinando papéis e falando palavras difíceis com gente que as vezes não entendia metade. Os quatro anos e meio da faculdade faziam-na se arrepender nos dias em que o sol aglutinava nas vidraças do prédio e não tinha para onde correr. Por isso se liberou a uma loucura qualquer, uma locurinha tola de meia tigela, quem iria perceber?
Digitou o número gravado na memória mais até mesmo que a senha do cartão de crédito. Atendeu depois de três chamadas, a voz ruída e um pouco bamboleante.
- Alô?
- Oi. Sou eu. – parecia tímida e a voz tremida como a de uma criança com medo de entrar em um quarto escuro.
- Ah ! Você! Como vai, ta tudo bem?
- É... To sim, e você?
- To bem também. Faz tempos que não nos falamos, desde o que? A festa na casa do Mário?
- É...
A conversa emergia para o ponto de repouso depois do ápice de um reencontro casual. E agora? Fazia o que? Era partir para o ataque ou deixar a conversar morrer em uma desculpa clichê para saber se o brinco da avó não ficou na casa dele, por acaso, simplesmente.
- Estou surpreso de você me ligar, não nos falamos há tanto tempo.
- Senti saudades. – mordeu o lábio com força empurrando a vergonha para dentro com mais um gole de vinho fétido.
- Uau. – pareceu nervoso, se não o conhecesse tão bem não saberia que estaria nesse exato momento passando a mão pela nuca e soltando um sorriso enviesado.
- Faço mal em te ligar essa hora?
- Não... N... Mal nenhum. Foi bom você ligar, pensei em você ontem, achei um filme que vimos juntos passando na televisão e lembrei do ensopado de carne que inventamos de fazer mas saiu tudo errado. Lembra?
- Saiu tudo errado naquela noite... – se permitiu uma risada lembrando-se do acidente com as panelas.
- Gosto de ouvir seu riso, é tão bom.
- ...
- Por que você parou de atender minhas ligações? Foi tudo tão rápido...
- Exatamente, achei que tudo entre a gente estava indo tudo muito rápido.
- Sempre com medo do que é bom.
- Eu sei.
- To indo ai.
- O que?
- Você não me ligou só pra dizer olá, não é mesmo? Então que tal a gente pular as entrelinhas, eu to sozinho, você também, somos dois adultos tal como manda o procedimento, e chego ai em cinco minutos, levo um vinho.
- Ah... Vinho não, tudo menos vinho. – olhou a garrafa em cima da mesa, abominando-a.
- Prometo levar um vinho gostoso, sei que você tem um péssimo gosto para vinhos. – ele riu, uma risada divertida.
- Você me conhece.
- Mais do que deveria.
- Mais do que eu queria.
- Pelo menos você irá beber um vinho decente.
- E talvez mais que isso... – sorriu olhando seu reflexo no vidro da janela.
- Estou chegando.
- Estou te esperado.
Foi até o banheiro e borrifou perfume nos pulsos, soltou os cabelos que despencaram em uma cascata ondulada, tirou os óculos e passou seu batom rosa, depois colocou os óculos novamente. Com um cara como ele as aparências do que não era eram postas de lado. Com um cara como ele, ela sabia que podia ter muito mais do que uma quarta feira prometia, e quem sabe, todos os dias da semana. Todos que viessem.
Annabel laurino
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"É ele. Reaparecendo. Abocanhando as bordas. Vem se espalhando por frestas. Rejuntando brechas. Unhando fendas e poros. Derrama-se por minhas lacunas. Exibido, como fogos de artifício. Assovia sem escorregar nas notas. Cantando sua vontade nas entrelinhas. Quer voltar a ser meu tema."
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"Mas o que é que você quer, menina? - perguntou-me já exausto de tanta teimosia. Eu o encarei no fundo dos olhos e fui sincera: Quero colo."
Caio Fernando Abreu
it's time to change
Coisas para serem feitas:
1 – mudar.
2 – mudar.
3 – mudar.
4 – mudar.
5 – mudar um pouco mais; mudanças, muitas, mude.
Nunca fui de escrever diretamente, e sim sempre
categoricamente, entre as entrelinhas dos meus textos, os poucos que acompanham
sabem, eu nunca falo a verdade logo de cara, prefiro ferve-la em requintes mais
bonitos e depois prepará-la com calma, umas pitadas de sabor aqui e acolá, sem
pressa, então voilá tem-se o resultado final, porém nunca direto.
Mas hoje a cabeça não
ta boa amigo e ultimamente escrever é doloroso, tempos difíceis esses. Já
percebeu o quanto as pessoas reclamam de incompreensão? Acho isso muito
injusto, mas é meu lado incompreensível e logo de cara, o meu lado que julga. No
fundo somos todos iguais, sensíveis, carentes, tristes, incompreendidos e
mortalmente só.
Legal quem tem alguém
de verdade pra segurar da mão e que fique do seu lado a vida toda e diga que te
ama muito mesmo que você esteja uma merda, de cabelo desarrumado e roupa
amassada sem nenhum tostão nos bolsos. Mas a vida rege verdades incoerentes e
estranhas.
Eu quero muita
coisa, mas nunca quis amor de mais ou dinheiro de mais, eu nunca nem se quer
parei para acreditar em contos de fadas. Ta, tudo bem, quando eu tinha uns
cinco anos eu acreditava sim que os sete anões podiam ser reais e que eles
viriam arrumar meu quarto e guardar os brinquedos do chão. Mas sempre foi só
isso, eu nunca me liguei em príncipes encantados e sapatinhos de cristal. Agora
então, muito menos. E não é insensibilidade não, é a minha realidade que
transborda quase sempre.
Ou eu sou louca ou
somos todos normais de mais, mas tenho querido as coisas mais fáceis do mundo. Eu
tenho querido dois na cama e pés roçando, canecas de café na mesa, chuva lá
fora, corpos nus, risadas na praia numa tardinha de pouco sol, sorvete
derretido na roupa, abraço apertado, dança maluca, jogos de vídeo game,
travesseiros quentes e roupa atirada no chão, surpresas no domingo, beijo na mão,
despedida lenta, olhos sonolentos e mãos bobas embaixo da mesa.
Eu não tenho
idealizado nada do que eu não tenha certeza que mereça. Essas cenas todas são
para justificar o quanto sou mortalmente romântica, humana e carente, como
todos nós somos. Ao contrário da maioria eu não acredito em perfeição. Ao contrário
do feminismo eu quero sim alguém que me cuide e me beije sem que eu tenha que
pedir.
Mas é verdade, eu
tenho mesmo passado por um momento de transitoriedade. Talvez eu ande
desacreditada demais da vida e as pessoas só me pesam. Eu fico pensando em ir
embora e deixar tudo como está até que tudo entre em um estado de decomposição
cujo nunca mais regressará ao que era antes, mas da um dó ver o castelo de
cartas caindo lento depois de tantas horas para edificar as torres.
E me apego fácil a
sorrisos, jeitos, manias, loucuras, imperfeições físicas e mentais, adoro uma
boca mordida e uma barba por fazer, coisas bobas, levinhas, uma mordida na
orelha e eu te dizendo que te amo muito.
Mas essas coisas
ficam na memória e não no tempo. Não se repetem mais.
Me vejo agora numa
ânsia por mudanças, ser tudo aquilo que a gente sonha com a cabeça no
travesseiro não serve mais, desculpa, já era. Está na hora de fazer os planos
entrarem em obra, você não acha? Eu acho. Está na hora de construir, de mudar,
de provar outros sabores. E como dizia o amado Caio, para provar novos chás é
preciso esvaziar a xícara.
Pois bem, vamos
esvaziar a xícara, a casa, vamos arrancar os papéis das paredes e esquecer toda
aquela fossa, toda os erros passados. E vou mudar.
Por que não? Faz
bem. Mudar é como pegar um ticket na fila de um parque de diversão e andar em
todos os brinquedos, é como sair por ai com milhares de possibilidades. Acordar
e perguntar “eai, o que vai ser de hoje?”. Mil possibilidades e você pode fazer
todas, você está mudando! Afinal, nada continua a mesma coisa, nada é hoje o
que será para sempre. É preciso entrar no curso da vida antes que estejamos
perdidos no esquecimento.
Dizem que quando a
gente muda a gente vai pra frente, e é verdade, a gente deixa milhões de coisas
para trás, esquecidas e se esquece também de muita gente, mas eu acredito que o
que tem que ser será e o que tiver que ficar ficará, com ou sem mudanças,
aquilo que tem força, permanece. E por isso hoje, é já um novo dia.
Annabel Laurino
sábado, 13 de outubro de 2012
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"Então eu me faço. Fria e indiferente, numa crueldade que só uma mulher machucada é capaz. Mas você me olha e me enxerga e isso me apavora. É por isso que tento esconder no telefone minha vontade de passar 50 dias inteiros por semana contigo."
Gabito Nunes
Gabito Nunes
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"Durmo, acordo, faço coisas, leio muito. E esse vazio que ninguém dá jeito? Você guarda no bolso, olha o céu, suspira, vai a um cinema, essas coisas. E tudo, e tudo, e tudo. Me arruma um namorado, benhê?"
Caio Fernando Abreu
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"É andar dois passos, voltar meio, sofrer um pouquinho por ser apegada ao antigo e ao mesmo tempo desesperada pelo novo."
Verônica H.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Sua falta
Os dias e as horas começam a passar e eu, triste, fico olhando para as janelas, as paredes, os livros, as musicas, o meu próprio corpo, sim, minhas pernas, meus braços, passo os dedos sobre os lábios e mordo-os, olho a TV, olho os pés, as balas de café, o carpete, olho tudo, todo o mundo, as pessoas na rua, os carros, as calçadas, o meio fio, os fios dos postes... E você não está aqui, suas mãos não estão nas minhas pernas, ou seus braços envoltos dos meus braços, sua boca na minha, a gente na cama do quarto rindo de qualquer bobagem com os livros sobre as nossas cabeças, e você muito menos está nas pessoas da rua ou caminhando nas calçadas que eu passo desatenta. E porque você não vem? Eu sei que te mandei embora, de novo, que abri a porta e sem piedade joguei suas coisas fora e disse que não sabia mais o que iria ser. Mas fica tão descolorido tudo quando você não está. Sabe o café? Nem mil gotas de adoçante o fazem ficar descente. Perco o paladar, o tato das coisas. Tudo fica cinza. Qual é a graça nessa gente? Cadê o sabor? Droga. Por que mesmo que você não está aqui? Volta logo.
Annabel Laurino
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“A maior parte de nós não é tão forte. O que é a honra comparada com o amor de uma mulher? (…) Vento e palavras. Vento e palavras. Somos apenas humanos e os deuses nos moldaram para o amor. Esta é a nossa grande glória e a nossa grande tragédia”.
(A Guerra dos Tronos – pág. 467)
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A gente sabe quando não dá pé, mesmo que existam alguns chavões só pra contrariar. Meu ego é uma faixa de segurança – teoricamente, até foi feito para confiar, mas. Você até quer confiar. Mas não depende só de você. Qualquer bêbado no trânsito confia. Confie em si mesmo, que idiotice. Algumas mentiras são tão bonitas de se ouvir.
Se você quer alguém rastejando atrás de você, sugiro esquecer ter me conhecido e comprar uma iguana ou algo assim. Se tem uma coisa que eu sei nesse mundo é de mim. Me conheço. No meu corpo tem cromossomos de uma zebra africana. Estou sempre fugindo dos leões. Algumas pessoas escolhem ser livres. Outras não têm chance de escolha, apenas são. E nunca mudam, mesmo que queiram. É uma questão de fase: paixão não revelada é paixão morta, amor não demonstrado é amor morto. Só mais uns dias e pronto. Estarei oficialmente no limbo, na liberdade anestésica de absolutamente nada sentir.
O que você está olhando? Até parece que nunca viu um covarde respirando antes. O que pesa, a grande diferença, é que você é daquelas pessoas que precisam de segurança, de lastro, de sentido, precisam de qualquer maneira ser feliz. Eu não. Sim, isso existe, é possível. Não sei lidar direito com as emoções. É só olhar diretamente para a luz calorosa do sol e meu corpo já responde com um espirro. Não vou entrar em detalhes ou dar satisfações. É uma longa história. Minha alma não tem a idade que aparenta."
Gabito Nunes
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
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Please don't wake me up too late.
Tomorrow comes and I will not be late.
Late today when it becomes
Tomorrow I
Will leave and go away.
Goodbye. Goodbye.
Goodbye. Goodbye.
Goodbye. Goodbye.
My love, goodbye.
The Beatles
marejo
Tava querendo me
apaixonar. Tava querendo entrar no estado ‘preciso tanto de você’. Mas
novamente eu me esqueci, você se esqueceu, me magoou fácil. Ninguém tem culpa não,
desse meu estado de tamanha frigidez que congela qualquer possível relação que
possa engrenar.
Fiquei apática,
triste mesmo, fiquei de uma maneira caída, de dar dó. Mas agora sei lá, você
sabe como eu funciono, sabe que quase sempre eu nem se quer demonstro nas feições
do rosto o que o coração chora para transmitir. Eu pensei mesmo foi em pegar as fotos
e destruir com tudo, fim, esquece o que passou e o que poderia ter sido, vou
embora, vai viver! Mas ai seria crueldade, comigo, contigo, com a gente e com o
meu pobre coração que se acostumou com o teu sorriso aberto e os teus braços
grandes envoltos do meu corpo. Seria matar uma flor linda que eu demorei tanto
pra deixar crescer.
Não posso destruir
com tudo. Mas estou fazendo as malas mesmo assim. Estou me antecipando de uma
emboscada que poderia fisgar a mim e ao meu mundo. Não suportarei ver nos
tornarmos aqueles casais banais e melancólicos, jogados num sofá no domingo, de
roupas amassadas se chamando de ‘mô’ ou de termos pejorativos. Não surpotarei
brigarmos um com o outro, discurtirmos o tempo inteiro, nos tornarmos robôs
numa relação tão bonita e cheia de cores.
Já vi que não
mudamos por ninguém, não mudaremos. Somos o que somos e seremos eternamente
assim. Prefiro te ter sobre os meus olhos, do que ao lado mas não mais você, o
você guardado na minha memória, que eu mordiscava a orelha com o brinco de
rockeiro e bagunçava seu cabelo pra te provocar.
Dói mais do que eu
esperava. Eu pensei que viveríamos as canções mais lindas dos Guns até as mais
charmosas dos Beatles, que iríamos percorrer o mundo de mãos dadas. Mas caí na
real, não estamos preparados para grandes aventuras enquanto estivermos com os
pés no chão.
Não sei por que
escrevo, escrevo acho para não sentir mais dor, mais saudade, mais peso. E
agora, quem ocupará meus dias? Quem me salvará da minha solidão? Quem irá criar
cócegas no canto dos meus lábios e me fará mais feliz do que já estive em anos?
Ah triste fim, eu
penso, deitada na cama brincando com a mecha de um cabelo e me sentindo amarga,
cruel e vazia, um dó de mim mesma que você não poderia imaginar, mas ao mesmo
tempo, uma mágoa, por tudo que poderia ter sido e não foi. Pelos erros que
cometemos e pelas minhas promessas de não me deixar ferir, mais uma vez, de
tantas vezes. No fundo eu sinto que se eu não tomar essa decisão, quem mais tomará? Vamos ficar nessa de brigas e amargas palavras até que o tempo se enrosque em nós e nos faça odiarmos um ao outro, restando somente o feio, o pó, a destruição do bonito, do saudável.
Só não me diga que
sentiu saudade, o sol não brilhará hoje, as nuvens tão carregadas de chuvas e nos
meus olhos, uma maré densa de uma saudade que explodirá em segundos enquanto eu
não te ver. Enquanto eu não te olhar.
Annabel Laurino
terça-feira, 9 de outubro de 2012
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"Não me aproximo porque, veja bem, sabe lá quem habita a tua solidão. Hesito. Recuo. Me afasto tristíssima. E te imagino em poses e sorrisos, voz grave e cabelos desgrenhados, preso nas minhas fantasias mais loucas e movimentadas. Numa delas sou um bichinho invisível, com asas, que adentra tua casa e te observa em segredo. Faço o contorno do teu corpo todo com os olhos, parada contra a parede do teu quarto, imóvel, enquanto tu te atiras na cama. Cansado. Tu olhas para o teto imaginando mil coisas, memórias, compromissos, desejos, saudades. Te fito com dor. A luz do abajur faz sombra na tua pilha de livros, que folheei um dia e quis pedir emprestado mesmo sabendo que não havia intimidade para pedidos. Por razões que desconheço, nossas aproximações foram sempre pela metade. Interrompidas. Um passo para a frente e cem para trás. Retrocessos. Descaminhos. Procuro sinais de algum amor teu. Vestígios de noites passadas. Tu não me vês, estou incógnita a te observar. Como sempre estive, olhando pelas janelas, de longe, coração apertado. Nós poderíamos ser amigos e trocar confidências. Assistiríamos a filmes, taça de vinho nas mãos, e tu me detalharias as tuas paixões e desatinos. Nós poderíamos ser amantes que bebem champanhe pela manhã aos beijos num hotel em Paris. Caminharíamos pela beira do Sena, e eu te olharia atenta, numa tentativa indisfarçável de gravar o momento e guardá-lo comigo até o fim dos meus dias. Ou poderíamos ser apenas o que somos, duas pessoas com uma ligação estranha, sutilezas e asperezas subentendidas, possibilidades de surpresas boas. Ou não. Difícil saber. Bato minhas asas em retirada. Tu dormes, e nos teus sonhos mais secretos, não posso entrar. Embora queira. À distância, permaneço te contemplando. E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa, nosso encontro pode acontecer inteiro. Porque tu és o único que habita a minha solidão."
Caio Fernando Abreu
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Você sempre assoprando em meus cabelos esse vento denso de confusão que sobressai dos seus lábios, esse vento que balança os fios e que desatina as ideias, me fazendo sempre voltar atrás do que eu já estava tão certa, me fazendo voltar ao marco zero, outra e outra vez.
Annabel Laurino
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
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"Um, dois e... quando me dou conta, já fui, me joguei antes de contar até três, disse o que não era para ser dito, fiz coisas que não era para ter feito, me arrebento rápido, nem dói de tão ligeiro. Mentira, dói de qualquer jeito."
Martha Medeiros
domingo, 7 de outubro de 2012
;
Foi arrumando a cama que a ideia se fixou na mente como um clique. Com as mãos nas cobertas e os olhos vidrados em um ponto fixo porém sem nada ver, foi que eu realmente decidi. Estar ao seu lado era tudo, não fazia mais sentido fazer planos, imaginar histórias, tentar revolucionar, enfim estava pronto, você enfim entrou no barco e pegou os remos sem que eu precisasse pedir, começou a remar sem que eu precisasse dar partida e quando eu vi, você me guiou. Estar nos seus braços é o que eu mais necessito em todos esses caminhos que possamos nos aprofundar ou nos aventurar, ou nos perder, quem sabe. De qualquer forma, é o que eu mais quero, estar nos seus braços. Estar nos seus braços.
Annabel Laurino
sábado, 6 de outubro de 2012
Distração
Se eu trabalhasse em uma forma de converter toda e qualquer sensação ruim, qualquer estresse provocado pela incansável forma de os dias se estenderem, eu o faria. Tenho escrito sobre tantas coisas, mas parece que nunca consigo alcançar o âmago do que eu realmente preciso dizer. Talvez seja porque essa coisa que eu tanto necessito colocar para fora ainda não está pronta para ser extraída. Ainda não desenvolveu-se por completo. E eu fico rabiscando em desenhos toscos de criança em bordas de papéis, escrevendo frases sem sentido no caderno, escrevendo longas cartas que nunca irei mandar, olhando a fumaça de um café fervendo subir com rapidez em uma dança repetitiva espiralando no ar, mas sem nada realmente acontecer.
Não sei se conseguirei esperar esse algo crescer. Um desespero grande toma conta e eu, que sempre fui por natureza impaciente, não aprendi a esperar, a deixar fluir. Fico fuçando as feridas e não permito que cicatrizem, fico remexendo nos armários até que encontre qualquer coisa além de um mofo ou uma aranha, ou um chapéu velho e mofado. Minha essência é por si estranha, vivendo a caça de encontrar beleza no mais feio quadro.
Eu disse claro e em bom tom que precisava viver, tenho feito isso. Mas ao mesmo tempo a vontade é de parar por pelo menos alguns segundos e escutar o que eu própria quero dizer mas não consigo. Porque viver, ultimamente, tem sido como saltar de paraquedas em um frenesi gigante, no meio de dois milhões de festas soando alto, todas ao mesmo tempo, e bilhões de rostos ao invés de nuvens, uma multidão de cores e entoações que me dispersam. E me confundem.
Não sei se conseguirei esperar esse algo crescer. Um desespero grande toma conta e eu, que sempre fui por natureza impaciente, não aprendi a esperar, a deixar fluir. Fico fuçando as feridas e não permito que cicatrizem, fico remexendo nos armários até que encontre qualquer coisa além de um mofo ou uma aranha, ou um chapéu velho e mofado. Minha essência é por si estranha, vivendo a caça de encontrar beleza no mais feio quadro.
Eu disse claro e em bom tom que precisava viver, tenho feito isso. Mas ao mesmo tempo a vontade é de parar por pelo menos alguns segundos e escutar o que eu própria quero dizer mas não consigo. Porque viver, ultimamente, tem sido como saltar de paraquedas em um frenesi gigante, no meio de dois milhões de festas soando alto, todas ao mesmo tempo, e bilhões de rostos ao invés de nuvens, uma multidão de cores e entoações que me dispersam. E me confundem.
Annabel Laurino
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
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Mergulho de cabeça nos lençóis, a procura do seu cheiro, que também não está lá, entranhado nos panos, guardado nas dobras…
Caio Fernando Abreu
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
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Agradeço sempre pelas sensações certas de que existe sim, em
algum lugar desse vasto mundo um lugar só meu, que talvez um dia eu encontre, e
existe sim coisas maravilhosas me esperando, aguardando o momento certo de
virem. Não vou ficar procurando nada, olhando embaixo dos tapetes da casa ou
olhando através da janela a cada cinco minutos. Enquanto isso eu resolvi
preparar um café e ler um bom livro. Eu sei que muitas vezes eu tendo a cair
naquela tediosa depressão de ‘quem sou ou para onde vamos e quem é você’
mas eu me encontro rápido, porque nunca me esqueci quem eu quero ser e para
onde eu quero ir. Fica mais fácil quando a gente sabe quem somos ou pelo menos,
o que nós queremos. A vida não vale mais a pena se vivida apenas de esperas e
sonhos movidos a ‘talvez’. A vida vale a pena quando a gente espera o que está
por vir e sabe exatamente o que quer, e onde quer chegar.
Annabel laurino
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Eu ia te escrever qualquer dia, eu tinha — e tenho — um monte de coisas pra te dizer, aquelas coisas que a gente cala quando está perto porque acha que as vibrações do corpo bastam, ou por medo, não sei. Mas as coisas todas, externo-interno, eram muito difíceis e escuras, eu não tinha condições de mostrar ou dar nada a ninguém que não fosse também escuro, compreende? Eu não queria, eu não quero dar trevas, dor, medo, solidão — eu quero dar e ser luz, calor, amparo (…)
terça-feira, 2 de outubro de 2012
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"Eu não espero que você seja o-grande-amor-da-minha-vida, parei de acreditar nisso na quinta série quando a moça que trabalhava na biblioteca do meu colégio me disse que estava se separando do marido dela. Meus pais estão juntos até hoje, mas a gente sabe bem como vão as coisas ali. A moça da biblioteca chorou. Não quero que você me faça chorar. Não quero que você seja um motivo ruim na minha vida. Você é motivo de sorrisos. (...) Não quero te odiar. Não quero falar mal de você pros outros. Pras minhas amigas. (...) Não quero que você me largue. Não quero te largar. Não quero ter motivos pra ir embora, pra te deixar falando sozinho, pra bater o telefone na sua cara. E eu não tenho medo que isso aconteça (eu nunca tenho), eu fiz isso com todos os outros. É só que dessa vez eu queria muito que fosse diferente. Dessa vez, com você, eu queria que desse certo. (...) Que eu não te visse com outra. Que eu não tivesse raiva. Que você não passasse a comer de boca aberta. Que você entendesse o meu problema com chãos de banheiro molhados pra sempre. Que você gostasse e cuidasse de mim como ontem à noite você cuidou. Eu quero que dê certo, não estraga, por favor. Não estraga não estraga não estraga. Posso pôr um post-it na sua carteira? Mesmo que a gente não fique juntos pra sempre. Mesmo que acabe semana que vem. Nunca destrua o meu carinho por você."
Tati Bernardi
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
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"Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não sentir nada."
Martha Medeiros
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