Nossa biópsia teve diagnóstico: relação maligna. A distância se amarrando ao tempo, como último recurso de uma cura. Nós em coma por muitas semanas, para que a sanidade combatesse a fantasia que criei. A eutanásia de um amor nunca devolvido.
Você não infecta mais a minha tranquilidade. Meus anticorpos, as recordações daqueles meses, abortando suas aproximações impulsivas e vazias. Boa notícia. Achei que morreria de você.
Não tem mais febre no rosto, quando você chega. Não tem mas arritmia, quando você fala comigo as mesmas palavras; o mesmo discurso; a mesma mentira; o mesmo eu, eu, eu. Não tem mais pontos frouxos do coração esgarçados pelo som da sua voz turista. Não tem mais tentativa de anestesiar o desconforto com embriaguez crônica e muita mão no copo ou no bolso ou no cigarro que tentei fumar; e luz fraca, para que você não radiografasse meu amor hemorrágico. Não tem mais o seu sorriso contaminando as minhas decisões."
Priscila Nicolielo (Texto Anticorpos que o Coração Cria; in Casal Sem Vergonha)