domingo, 12 de agosto de 2012

A Deus dará



   Meu individualismo foi tão grande e de tamanho afeto que me arrobou. Cansada, criança pequena e carente, desperdicei minhas chances com você, vendei meus olhos incertos e desliguei minha mente insegura, andei passos de bêbada entre carros apressados de uma avenida ensandecida. Desagrada-me o triste ritmo e rumo que as coisas, nossas coisas, tomaram. Nos tornamos estranhos hablando uma língua desconhecida, desconexa, confusa. Tínhamos tudo e resolvemos ter nada. 
   Acho que não me entendes quando dizes que me entendes. E me perdes quando dizes que queres me ter. E assim, me ganhas quando dizes não me querer mais. Sem lógica, banal, to sem voz para continuar a falar, a explicar mais uma vez que nada na minha mente muito pequena, às vezes ampla, pouca coisa passa batido. Não sei que rumo tomar. Tento desenhar desenhos em quadros para que você possa me entender, me salvar dessa fuga inimaginária e você só me joga rumo ao vento, deixando-o lançar meus cabelos para o alto, sussurrar irresistível nos meus ouvidos e me mostrar a direção contrária. Distrativo. Me distraio fácil. E você disse, 'tudo bem'. Aprumei as velas, quando vi, feito barquinho a Deus dará em alto mar , ondas grandes, e a casa? E a vida certa? E o caminho de volta? Perdida, suspirei mais uma vez. Você já estava longe, e eu, muito mais. Nos perdemos.

Annabel Laurino