segunda-feira, 30 de julho de 2012

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Queria tanto fazer tudo diferente agora, mas não sei por onde começar.

domingo, 29 de julho de 2012

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Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido.  Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer te amo outra e outra vez. 

Caio Fernando Abreu

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Paul – Holly, estou apaixonado por você.
Holly – E daí?
Paul –E daí?! E daí muita coisa. Eu a amo. Você me pertence.
Holly – Não. As pessoas não se pertencem.
Paul – Claro que sim.
Holly – Ninguém vai me pôr em uma jaula.
Paul –Não quero colocá-la em uma jaula. Eu quero amá-la.
Holly – É a mesma coisa.
Paul – Não é não. Holly…
Holly – Não sou Holly. Não sou nem Lula Mae. Não sei quem eu sou. Sou como esse gato. Somos dois coitados sem nome. Não  pertencemos a ninguém e ninguém pertence a nós. Nós nem sequer pertecemos um ao outro
(…)
Paul –Sabe qual é o seu problema, Srta. Quem-quer-que-seja? Você é medrosa. Não tem coragem. Tem medo de encarar a realidade e dizer “A vida é um fato. As pessoas se apaixonam sim e pertencem umas às outras sim, porque esta é a única chance que têm de serem realmente felizes”. Você acha que é um espírito livre, selvagem e morre de medo de ser enjaulada. Bem, querida, você já está nessa jaula. Você mesma a construiu. E ela não fica em Tulip, Texas ou em  Somaliland. Ela está em qualquer lugar que você vá. Porque não importa para onde você corra, você sempre acaba trombando consigo mesma.




(Breakfast at Tiffany's - Bonequinha de Luxo)




Garoto lindo e sua pipa estimada


    Fico me perguntando por que você não foi embora ainda. Quer dizer, eu não quero que você vá. Francamente, eu quero que você fique. Sim, fique. Você sabe, eu gosto muito quando você está por perto. Me sinto leve, solta, desinibida, como se a vida fosse um punhado de pó colorido e seus bilhares de grãos desfacelando pelo ar, como se eu estivesse numa daquelas cenas de filmes antigos, como Bonequinha de Luxo, com Holly sentada na janela com um violão nos braços cantando para a Nova York lá embaixo.
    Fica vai. Quero estender minhas pernas sobre teu colo, tirar os sapatos e te permitir me tocar, se você quiser, então só então eu vou ver aquela sua face de menino tímido todo com cuidado para me fazer um simples carinho. E vou te pedir que encha a minha caneca de mais chá, e você vai levantar e vai dizer “Com certeza”. Sei que eu dou o maior trabalho, esse jeito de menina mimada com manias, trejeitos, frescurinhas, minha independência e auto-suficiência que irrita, mas você me atura. E eu não entendo como.
    Por que você não abandonou o barco ainda meu amigo? Quer dizer, o barco já tava furado quando você chegou, não tinha pé, tava inundando. Mas você todo louco não quis nem saber e começou a arremessar as mangas e tirar a água fora, tapar os buracos, aprumar as velas, dar sinal de comando, você que nunca tinha dado partido num barco antes. As vezes eu penso que você tem problemas de infância, sei lá. Vai ver eu sou para você uma pipa que quando pequeno você perdeu no céu e nunca mais conseguiu pegar, uma pipa estimada e diferente que só você dentre seus amiguinhos possuía, e agora você vê em mim essa bendita pipa que por um estranho motivo você não quer deixar fugir. E fica me segurando, me agarrando entre essas mãos grandes que são maiores que os meus pés. Aceitando os meus defeitos como se fossem normais, como se eu merecesse todos os seus cuidados, todo esse amor sem medidas.
   Ah eu sei, fui eu que disse que queria que você ficasse. E eu quero mesmo. Você me acostumou mal, não tenho culpa, ou tenho, sei lá. Eu só preciso te ligar, dizer que preciso muito, muito de ti, ou nem usar do muito, só do preciso e você já esta na minha porta com os bolsos cheios de boas palavras e de sua boa educação. Eu amo isso, acho que nem mais gosto de você, eu amo muito você. Mas não me peça nada, por favor. É sabe, não me peça aquela coisa séria que não vamos utilizar de nome. Ta tudo bem assim na verdade. Cargas leves por que somos muito pirados para qualquer loucura séria. Mas eu quero te pedir, muitas coisas aliás. Sim eu tenho uma lista de todas as coisas que eu quero te pedir. São todas boas e bobas, mas são coisas. E eu não quero ouvir um não. Eu quero seu sim, sims. E sei que você me daria qualquer coisa.
    Lá vem eu e meu lado mimada que você só piorou depois que chegou aqui. Mas não posso fazer nada. A não ser te telefonar daqui a pouco e te contar que comprei uma meia calça nova, que eu to cheirosa, que o domingo ta lindo e tem uma penca de coisas que podíamos fazer e que eu to te esperando. Sei que no começo da frase você já estaria abrindo a porta e vindo pra cá. Sabemos.
    Garoto lindo, já disse como eu amo seu sorriso ultimamente?


Annabel Laurino

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Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço. 






 Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Quando eu deixei Anna


    Ficou parado no meio do corredor durante aqueles longos segundos pesarosos. Não lembrava como tinha ido parar ali. As pessoas passavam som suas bagagens cheias de seus vícios consumistas. Seu corpo não se mexia. Seus pés retesados no chão, paralisados por todo o peso árduo de seu corpo, como uma areia úmida e densa, quase como um cimento solidificado. Estava paralisado. As únicas coisas que se moviam para ele eram seus pensamentos dentro de si, como bilhares de flechas, setas contorcidas e confusas, se direcionando para todos os lugares da mente.
    Forçou um movimento. Seus olhos se ergueram. Viu uma placa amarela acima de sua cabeça, era grande, amarelo forte. O que tinha escrito nela? Forçou a vista, mas não fazia sentido, as letras não se uniam. Abaixou um tanto os olhos e havia um amontoado de batatas fritas em diversos sabores empilhadas organizadamente a sua frente. Ergueu novamente os olhos e conseguiu ler, estavam na promoção. O slogan da marca remetia que o produto era saborissíssimo e que o consumidor não se arrependeria de sua escolha. Mas ele sabia que se arrependeria sim, que assim que comprasse as benditas batatas e abrisse o pacote só para então colocar a primeira dita cuja batata oleosa, escamando em seu óleo industrial e a arremessasse dentro da boca daria por si do quão horrível eram, mesmo que valessem quase nada.
    Sentia fome. Ali parado, em meio a um supermercado cheio, era sábado, tarde de sábado. As pessoas sempre resolvem fazer compras aos sábados à tarde, quando saem dos seus serviços e precisam saber o que irão fazer de almoço no domingo e então se abastecer de compras, comida e suprimentos para uma semana toda.
    Uma velha, muito velha, de pantufas e cabelos grisalhos passou por ele com seu carrinho do supermercado raspando rente ao seu corpo fazendo-o balançar para frente e depois para trás. A velha continuou o rumo, ele apressou-se em manter o equilíbrio. Olhou suas costas virando o corredor adiante e sentiu todo o ódio que podia sentir jorrando como coisa velha e suja. Teve vontade de gritar com a velha e suas pantufas patéticas. Mas não o fez. Voltou sua atenção para as batatas. Há quanto tempo estava ali? E se comprasse um pacote e provasse uma e fossem boas? Se caso comprasse o dinheiro que tinha daria para uma garrafa de Gatorade? Que horas eram?
    Mas a pergunta essencial de por que estava ali, aquela hora da tarde, de cabelo oleoso, pele escamando e oleiras roxas não parava de pairar em sua mente desconjunta. A mais importante.
     Desistiu das batatas. Danem-se as batatas. Começou a caminhar para fora do supermercado lotado, todos aqueles corpos cheios de si, seguindo todas aquelas direções desordenadas e confusas, será que toda essa gente percebe o quão idiota são, com suas vidinhas cheias de afazeres, seus relacionamentos arrumadinhos, questionou-se.
   Quando chegou a porta, o sol forte golpeou seu rosto e sentiu arder todo aquele calor em sua pele tão branca. Semicerrou os olhos. Que peso duro que sentia dentro de si. A noite passada encheu sua mente com um golpe violento.
     Era tarde da noite. Tinha se atrasado. Não queria ter se atrasado. Em recompensa trazia embaixo do braço a comida chinesa favorita dela. Podia dar uma desculpa qualquer. Era sexta feira. Não era verdade que a cafeteria tinha estado lotada o dia todo. Tinha dado muito movimento. Mas não tinha estado lá o dia todo. Então não seria verdade. Daria uma desculpa. Uma convincente.
    Abriu a porta. Parou de chofre no marco da porta, a mão congelada na maçaneta da porta assim como seu cérebro paralisado tentando absorver o que via. O sofá da sala era apinhado de roupas, roupas e roupas. Sua camisa do flamengo, seu boné do clube do futebol, sua jaqueta de couro preta, suas calças jeans rasgadas, seus tênis de esporte, tudo estava jogado pelo apartamento. Tudo era uma confusão. Parado na porta com a chave de chaveiro estranho, e como odiava aquele chaveiro estranho com um maldito porco que devia ser rosa, mas com o passar do tempo e de mão e mão o porco que seria rosa mas agora preto e sujo, pendido pela sua mão.
      Não, pensou. Como se um freio tivesse sido acionado na sua mente. Não. Não. Não pode ser.
      Ela estava sentada na poltrona ao lado da TV. A TV que não ligava e que ele já havia prometido milhares de vezes que daria um jeito.
      O corpo acentuado vestindo um vestido de algodão azul bebê, muito transparente, a linha curva dos seios, parecia que não usava nada por baixo, ele percebeu, os cabelos molhados, segurava o queixo com a mão olhando para fora da janela pensando, ou chorando, mas quieta. Era uma quietude gritante aquela.
     Soltou a comida chinesa na mesa de entrada. Como um robô. Como se fosse um sonho. Não teve coragem de acender a luz, de dizer oi, nem mesmo de largar o chaveiro imundo para não provocar ruído algum. Mas não se conteve.
   - Anna, o que aconteceu?
    Silêncio.
    Ela se levantou, calma e lentamente e ficou parada diante da janela, com os pés fundos no chão, no tapete chinês ao lado do abajur de conchas. Ele estava certo, não vestia nada por baixo do vestido azul bebê. Como se tivesse saído de baixo do chuveiro e apenas colocado o vestido, nada mais. Os cabelos negros pendiam sobre as costas delgadas a brancas.
    - Anna...
     Ela não respondeu. Continuava quieta como uma folha seca.
    Começou a caminhar pelo apartamento. Tudo revirado do avesso. Suas roupas, suas coisas, o banheiro era uma desordem de toalhas úmidas, desodorantes, pasta de dentes, escovas, cremes, espalhados pelo chão.
    - Anna o que está havendo?
     Mas Anna não se mexeu, Anna continuava a não se mexer. Então ele chegou bem perto, se aproximando devagar e lhe tocou com o dedo, como uma criança curiosa cutuca um objeto estranho com muito cuidado, para ter certeza que ele não vai lhe machucar, lhe ferir.
   - Anna, me responde. Anna, amor, me responde.
    Seus olhos negros eram tão negros, brilhavam pela luz da cidade que entrava sorrateiramente.
    Ela abriu os lábios de botão agora muito cinzas e secos, abriu lentamente como se os descolasse um do outro. Ficou com eles entreabertos, os dentes curvos e brancos transparecendo na linha dos lábios. Os olhos fitando lá longe algo sem importância.
    - Vai embora. – conseguiu dizer – Pega suas coisas, vai embora.
     Mas ele não entendeu. Ou entendeu e não queria entender. Anna se afastou, a mão dele pendeu no ar como coisa morta e perdida. Ele entendia sim, lá no fundo da memória, lá no riozinho perdido da retina, ele entendia completamente.
     Foi só um caso, duas semanas. Apenas duas semanas. Duas semanas confusas em que seu corpo não se satisfazia de nada, e não era água, não era comida, não era bebidas, festas, futebol com os amigos, um xaveco no bar, uma curtida com uma puta qualquer, ele tinha que ter um caso. E hoje tinha sido o ultimo dia. Tinha se prometido que hoje iria ser o ultimo dia. Droga. Tinha comprado comida chinesa. Esperava chegar em casa e ver aquele filme com o Tom Hanks que Anna gostava. Ele não gostava. Mas era o mínimo. Droga. Tinha sido a ultima vez.
     - Anna... – Não sabia como começar. Se falasse que sabia do que ela estava sabendo conseqüentemente ele admitira o erro. O maldito erro.
    - Eu sei de tudo. Eu to sabendo Fernando, mas vai lá, pega suas coisas, rápido, vai embora, sai daqui, vai pra casa daquela... Vai embora.
    Quando olhou para ele seus olhos ardiam, ele não pode não dar um passo para trás. Suas palavras eram tão frias, tão duras. Então resolveu se calar, porque sentiu foi a vontade de se jogar no chão por baixo daqueles olhos negros e tão cheios de desgosto, de decepção. Ele podia ver todas as viagens, as conquistas deles juntos sendo jogadas pela janela ao seu lado, cada uma, uma a uma, e logo tudo que eles fariam dali a um ano. Tudo por um casinho, por sua sede detestável e suja.
    Caminhou com as mãos na cabeça até o quarto e pegou uma mochila velha preta de lona empoeirada, começou a juntar tudo. Suas camisas, suas calças, seus tênis, seus... Não, não pegaria mais nada. E as fotos? Os CDS de musica, deveria pegar? Que desgraçado, cachorro, imbecil, um relacionamento de dois anos e ele preocupado com os CDS e as fotos.
    Pegou o essencial. Saiu para a sala, pegando o resto. Anna tinha sumido.
    Sentou-se no banco próximo a porta. Começou a se desesperar. Era o fim. Tinha acabado. Anna não ia lhe perdoar.
    De repente ela apareceu, os cabelos molhados, o rosto longo com o nariz fino e as sardas sobre as bochechas fazendo uma envergadura sexy pelo rosto de pele macia e branca. Teve vontade de pular sobre a mesa da sala e sair jogando tudo longe, alcançá-la e agarrá-la nos braços, apertar aqueles braços, sentir aquele seu cheiro, então tudo voltaria ao normal, eles ririam, foi só um caso, sentariam na varanda, a noite tava linda lá fora, Anna faria aquele seu chá de flores e frutas que fazia tão bem, e então sentariam sobre o sol, Anna com sua pele transparente, com uma flor no cabelo servindo de presilha, seus chinelos coloridos e seus vestidos hippie com Féris, o gato, em seu colo para que alisasse seu pelo cinza desbotado em meio ao seu ronronar.
   - Anna. – pediu. Era um chamado, um pedido, uma súplica.
   Ela não respondeu, sentou-se no sofá agora vazio, isento de todas aquelas tralhas que agora estavam todas amontoadas dentro de suas malas na porta. A coluna ereta. Não se mexia. Cruzou as pernas, acendeu um cigarro, um cigarro com a baga vermelha, meu Deus, teve vontade de se atirar sobre ela e arrancar aquilo de suas mãos, estava louca, sabia que era para irritá-lo. Então soprou a fumaça, lentamente, o cheiro enjoou seu estomago, entranhou nas suas vísceras e ele teve nojo, da fumaça, de Anna apática de sua presença, nojo das suas coisas nas malas, do caso de duas semanas. Era um nojo inexplicável, uma vontade parecida com a de não fazer mais nada, enfiar a cabeça dentro da terra e se esconder.
    Não tinha mais o que dizer. Se dissesse iria chorar. Iria gritar. Ela não o escutaria. Conhecia Anna. Ele podia fazer uma cena se quisesse. Fingir um ataque cardíaco no meio da sala e ela ficaria ali, sentada, fumando aquele maldito cigarro, mergulhada no seu ódio.
   Começou a sair do apartamento, fechou a porta atrás de si todo sem jeito, as bolsas de roupas pesando mais do que na verdade pesavam.
    Sem rumo, foi para a casa do amigo, o Pedro, que morava no centro. Ficou no sofá. Não dormiu. O Pedro só falava de pegar umas garotas loucas que moravam a duas quadras, coisas nojentas, seu cérebro não assimilava. Onde estava com a cabeça? Por que teria feito aquilo?
     Então Pedro trouxe as garotas loucas para casa. Duas loiras, uma alta com cara da Zooey Deschanel e a outra com corpo de atlética com luzes prateadas e voz de menina de quinze. Não tava com paciência. A garota com a voz de menina de quinze tentou conversar. Não respondeu. Ficou sentado no sofá preocupado em ver o programa do Jô Soares e segurar o telefone como se Anna fosse ligar.
     Até que a garota com voz de quinze desistiu e foi para o quarto de Pedro se sumindo lá dentro com o próprio e a cópia da Zooey Deschanel.
     Quando o primeiro raio de sol de sábado brilhou lá fora, jorrando-se sobre os prédios das ruas, vestiu uma calça qualquer, e saiu sem rumo. Pedro não estava em casa, não o vira sair. Não vira ninguém sair.
     Desde que Anna me deixou, esse seria seu novo monologo que deveria escrever, pensava enquanto descia as ruas sem rumo. Mas Anna não havia o deixado. Anna havia o mandado embora. Com todas as suas coisas. Ou ele que se mandou embora? Era isso então que queria? Se ver livre? Mas livre de que?
    Teve uma saudade imensa de Anna, de seus vestidos de algodão, dos seus pés gelados, das suas sardas, seus chás, suas musicas indianas, seus amigos gays, suas unhas vermelhas, sua pinta minúscula sobre a omoplata, seus olhos sérios e distantes, sua voz ronronando no seu ouvido no domingo de manhã implorando que buscasse o jornal. A forma como lia o jornal com os óculos pendido na ponte do nariz, as mãos de boneca segurando firme o papel em tom sério e compenetrado.
    Horas depois, sem rumo foi no supermercado que encontrou sua fuga.
    Fora lá, naquele supermercado fedorento da cidade que conhecera Anna. Ou que reencontrara Anna. Depois de seis meses que não se viam desde uma festa estranha na casa de um cara também estranho na praia, no verão, foram destinados aquele supermercado batido de final de bairro, todo velho. Se olharam na fila do caixa, Anna sorriu com seu riso de dentes ondulados e brancos, aquela suas sardas parecendo dançar no rosto fino, os cabelos negros e compridos presos como uma onda em uma fita vermelha, uma mancha de tinta amarela na profundidade do queixo com o pescoço. Duas semanas depois e estavam apaixonados. Duas semanas depois e Anna dormia nua na sua cama, a omoplata branca com uma pinta minúscula e sexy, de bruços sobre seus travesseiros de fronhas desbotadas. Dois meses depois e ele havia lhe entregue a chave do apartamento. Uma semana a mais e descobriram que o apartamento de Anna era melhor, tinha uma sacada e ela tinha espaço para trabalhar. Mais dois meses e haviam comprado Féris, ou ele havia lhe dado com uma fita azul marinho envolta do pescoço. Por que Anna havia amado o gato. Por que ele fazia tudo por ela.
    O sol rugiu na sua cara desmantelada e branca. Sentiu o gosto de ferro na boca, não havia comido nada ainda. Começou a caminhar falsamente pelas calçadas.
    Passou a mão na franja loira.
    Desde quando deixei Anna.
    Seria assim seu monólogo. Um longo monólogo sem solução.
    E não é da mesma forma a vida?
    Questionou-se sem parar de caminhar.
  
   
Annabel laurino.

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"Daquelas que namoram como crianças, como se fosse seu primeiro beijo. Daquelas que ocupam seu tempo e pegam na sua mão bem rapidinho, deixando milhares de desejos. Daquelas que sem querer treinam seu subconsciente para agradá-las, mas é tão bom vê-la sorrindo que você vai pelo impulso de satisfazê-la, tão menininha ela que você precisa dessa sensação. Que ciclo de infantilidade mais vicioso. (...) você precisa de uma dose dela diariamente. Pode evitar três dias, mas no quarto você já está em contagem regressiva para tê-la. Aquela menina com expressões faciais de criança, que você quer apertar até ela gritar: - Sou sua, sou sua."

Tati Bernardi

quinta-feira, 26 de julho de 2012

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“Não quero um relacionamento sério. Já passei por isso. Quero um relacionamento onde eu possa rir o tempo todo.” 

Gabito Nunes

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“Agora é assim, primeiro eu. Quem não gostar das regras, não joga. Tô feliz, acredita? Olha só a ironia, fui buscar o amor e já tinha. Fui tentar ser feliz e já era. Fui tentar me encontrar e me perdi. E, que loucura, precisei me perder pra me valorizar.”


Tati Bernardi

quarta-feira, 25 de julho de 2012

E como seria o mundo se no mundo não tivesse a gente?

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“Se acalma pequena, quem foi feito um para o outro o destino dá um jeito de unir. ”


Caio Fernando Abreu

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"É preciso acabar com esse medo de ser tocada lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso."




Caio Fernando Abreu

terça-feira, 24 de julho de 2012

O Amor Mais Bonito


    No instante que me iludo, é quando você me esquece. Quando volto à tona, você mergulha nos meus olhos. Se eu te roubo rosas vermelhas, você faz "bem-me-quer". Quando hesito, é quando você já está na estrada.
    Se me perco no teu beijo, você fica tentando encontrar um caminho. Quando me encho de receio, você me diz estar pronta. Eu te ponho em xeque-mate, você me diz que cansou de jogar. Quando não quero me machucar, você me telefona no meio da noite.
    Eu vejo o sol nascer no mar, você se preocupa em não molhar os pés. Quando eu não durmo, é quando você sonha loucuras sobre nós dois. Quando sinto teu gosto na minha boca, você pede economia nos clichês. Se não quero parecer patético, você se diz um poema apaixonado.
    Eu quero parar o tempo, você procura seu relógio embaixo da cama. Quando me escondo, é quando você me quer em cima de você. Se apresso meu passo na sua direção, você engata a marcha ré. Quando reuno meus pedaços, você dá o coração para bater.
    Eu deito no seu colo, você se preocupa em fechar a janela. Quando me poupo, é o instante que você se dá de graça. Se ando em alta velocidade, você conta os níqueis pro pedágio. Eu perco as chaves, você insinua mudar pro meu apartamento.
    Um amor físico, fatídico, real, raro e patente. Um amor que nasceu, mas nunca viveu. Um amor que aconteceu, mas não foi ocupado. Daquelas comédias românticas que ninguém tem tempo de rir, pois já começa pelo final. Os amores mais bonitos são aqueles que nunca foram usados.


Gabito Nunes

domingo, 22 de julho de 2012

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Embora ainda ninguém compreendesse esse fato retórico, quando deixada muito distraída tinha a tendencia saborosa de sentir outros perfumes e de querer segui-los em dessabores. Sumia e ressurgia com uma liberdade de espirito quase invejável. E as vezes, pois ai então eram o buraco escuro cujo os que se encantavam por aquela estranha moça sempre se perdiam, é que ela podia não voltar. Quando deixada muito desatenta de atenções extremas, sentimentos mirabolantes, paixões ardentes, vida brilhante, entendiada, procurava outras curvas onde pudesse se perder, e despedaçava corações com o cuidado de um elefante recém desperto.

Annabel Laurino.

Let it Be


  Vais dizer que não faz falta? Altas da noite e você deita na cama abraçando o próprio corpo. Aquela estranha sensação de vazio por dentro e que transborda, de dentro para fora. Abraçando-se, aquele silêncio que afugenta pelo seus pelos dos braços em inteiro. Fica aquela musica de fundo com a voz de John Lennon dizendo Let it Be.
    Será que algum dia a gente encontra alguém que completa a outra remenda de pele da gente? Será que vai demorar muito?
    Tão difícil ter aquela química, aquela sensação de conjunto formando-se quando se abraça, quando se toca, vagarosamente. Como coisa fácil que cresce sem medo e enfia a cabeça para fora da toca, como coisa viva que respira lentamente, e cresce sem demora, sem dor. Fácil.
    Fico me perguntando onde está esse lado metade que me fará sentir sensações inéditas. Onde está os cabelos que desgrenharei com voracidade em meio a uma beijo, arrancando mordidas dos lábios, apertando os sulcos da carne. Onde está o sorriso que me fará sorrir sem parar em meio ao entrelaçar de pernas jogados em uma cama quente, onde está o cheiro que será o lar, o aroma da casa com lareira acessa, haliantos na janela e mesa posta para o café da manhã.
    Não preciso dizer que precisa-se também do calor do corpo que aquecerá a alma, por que é isso que importa de verdade. O calor real de um outro alguém, esquentando nossa alma e fazendo nosso corpo esquecer a vontade de ficar sozinho.

Annabel Laurino 


Des-espera

    Não esperar nada, de ninguém. Isso tem ajudado tanto, feito tanta diferença ultimamente. Cargas mais leves e fluidos melhores. Sem pesos que não se consiga suportar, e agora todos os pesos são somente meus. De mais ninguém. As mãos continuam quentinhas e quietinhas dentro dos bolsos sem manifestar qualquer gesto adiante para carregar as malas pesadas de alguém. E não é isso o que todos sempre pedem? "Não cuide de mim, eu me viro sozinho, você não pode resolver tudo por mim...". Segui o conselhos elementares meu caro. E agora, egoismo ou não, eu sigo em frente sem olhar para os lados, por que é isso que todos querem. Que você não se intrometa, que você não tente cuida-los. Acho que todos nós no fundo queremos seguir com as nossas próprias ideologias para algum lugar qualquer, mesmo que um lugar de nada, a gente não quer ninguém na nossa cola dizendo o que devemos ou não fazer. E tanto faz na verdade. Fico apática a qualquer coisa, qualquer movimento muito próximo.
   Não vou mentir. As vezes queria tantas coisas, tantas atitudes das pessoas, que nunca vêem. Queria tanto que alguém um dia dedicasse uma musica em meu nome, ou que escrevesse sobre mim. Queria tanto ver uma dessas coisas assim, alguém se esforçando por mim, jogando todos seus medos, seus traumas, suas falhas, seus vazios, mudando, escalando montanhas, só para estar perto e então ficar.
   Faz parecer que se pede um milagre, quando tudo que eu peço na verdade são as mesmas coisas que doou desproporcionalmente. E fico só. Sempre só, esperando.
   Foi dai então a ideia de virar um cactus gigante e verde, e cheio de apatia e indiferença e não esperar nada e nem mesmo mais contar os dias. Não revolucionou grandes diferenças, as coisas continuam a não chegar, mas dói menos. Quase nem sinto nada. É mais fácil.

Annabel Laurino



sábado, 21 de julho de 2012

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A próxima vez que a gente se encontrar
Eu vou te dar um beijo, sem pensar, calado
A próxima vez que a gente se beijar
Eu vou querer o mundo com você, do lado


(A Próxima Vez - Maria Gadu) 


Quase sem querer


Tenho andado distraído
 Impaciente e indeciso 
Ainda estou confuso só que agora é diferente 
Tô tão tranquilo e tão contente 
Quantas chances desperdicei
 Quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo 
Que eu não precisava provar nada pra ninguém 
Me fiz em mil pedaços pra você juntar 
E queria sempre achar explicação pra o que eu sentia
 Como um anjo caído fiz questão de esquecer 
Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira 
Mas, não sou mais tão criança
 A ponto de saber tudo Já não me preocupo seu eu não sei por que 
Ás vezes o que eu vejo quase ninguém vê 
Eu sei que você sabe quase sem querer 
Que eu vejo o mesmo que você
 Tão correto e tão bonito 
O infinito é realmente um dos deuses mais lindos 
Sei que ás vezes uso palavras repetidas 
Mas, quais são as palavras que nunca são ditas? 
Me disseram que você 
Estava chorando 
E foi então que eu percebi 
Como te quero tanto 
Já não me preocupo seu eu não sei por que
 Ás vezes o que eu vejo quase ninguém vê 
Eu sei que você sabe quase sem querer
 Que eu vejo o mesmo que você

Maria Gadu

sexta-feira, 20 de julho de 2012

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E se ninguém quiser nos salvar, não há problema. Colocamos uma musica, dançamos feito loucos, tomamos boas doses de drinks de coca-cola e gelo, inventamos um clube secreto, ficamos nus, pintamos o corpo, corremos pela casa, estragamos a cozinha na tentativa de cozinhar, cataremos arco iris e faremos origamis de papel. Ta tranquilo, ta tranquilo. Loucura, besteira, amor de mais, nessa vida não falta. A gente da um jeito. Não há problema.

Annabel Laurino.


quinta-feira, 19 de julho de 2012

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"Se ninguém nos perdoar, a gente se manda. Se você não suportar minha companhia, a gente se ajeita. Se isso nos matar do coração, a gente se assopra. Se for passageiro, a gente se poupa. Será que a gente consegue voltar a ser só amigos? Vamos encarar, nas entrelinhas tortas a gente nunca foi só isso. E se não for tudo que a gente espera? Sei lá, é muito tarde pra saber. [...]  Só quero dizer que você é minha coisa mais favorita do mundo. Só quero voltar àquela praia e continuar o que a gente começou."


Gabito Nunes

quarta-feira, 18 de julho de 2012

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Queria que você gostasse de mim por mim. Caótica, distraída, perigosamente despreocupada. Meio despenteada, tão preocupada com coisas vagas. Queria que você também se encantasse com minhas imperfeições. 


— Caio Fernando Abreu







Adaptado.

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É lindo demais. É atrevido de mais. É novo, sadio. Deu uma luz na minha cabeça, sabe quando a coisa te ilumina?

Caio Fernando Abreu



terça-feira, 17 de julho de 2012

Brisa Leve


    Que mesmo por baixo dessa loucura toda a vida rege bons fluidos. Que o teu amor e o meu amor não se percam nem mesmo no encontro das luas acima, quando pontilhadas em um céu estrelado. Sei que ta difícil agora, que a maré parece sempre tão contrária, mas vezes ou outra a gente ajeita o barco, apruma as velas e aponta para um novo horizonte. Por que é preciso mudar a trajetória às vezes, para não se perder do rumo certo, mudar a direção faz a gente se encontrar. É estranho não? Desde jovens a vida faz a gente acreditar que a fórmula perfeita de nos descobrirmos é olhar sempre para a mesma direção, um foco, uma meta. Mas lembra daquela musica do U2? Quanto mais você vê, menos você enxerga.
    Não ando pedindo nada. Mas desejo muita coisa. Um coração bom, paz de espírito, gargalhadas involuntárias e aquelas dores na barrida de tanto rir. Geralmente, ultimamente, ando encontrando muito isso com você. E tem me feito tão bem esses nossos encontros. É assim que prefiro chamar toda vez que a gente se vê. Encontros. Te encontro sempre e você me encontra e então no meio de um sorriso eu me encontro sempre tão feliz. Consegue entender?
    Não sou perfeita. Física, emocionalmente. Minhas imperfeições são agudas, como um grito lento no meio do escuro. Sou irreparável. Mas compreensível.
     Olhando o céu negro de um inverno qualquer a Ursa Maior parece tão distante. Penso em tudo e quase todos, mas desejo só um alguém e pouca coisa. Uma caneca de café, um bom livro, você ao lado, aquela coisa leve, paz sabe, aquela felicidade pequena, mas que se espalha e deixa a gente quentinho por dentro.
      Não sou de fantasiar, de criar historinhas, não mais. Depois que te acordam, que a vida te acorda e você desperto, de olhos esbugalhados, apavorado pela realidade que a vida, as pessoas e tudo mais te esfregam na cara você não consegue mais dormir. Não é ruim. Você aprende que simplesmente nada deve levar muita força. Não obrigue o ponto fraco dos objetos embora cada um deles tenha um. Sendo lei da física ou não, não se deve aplicar as pessoas. E você entende isso, cedo ou tarde.
      Me deixo ser, de braços abertos reconstituo as esperanças e reúno forças. Ta tudo bem na verdade embora um caos total, embora a bagunça seja grande e a história esteja hard, eu ando contando estrelas, escutado mais musica, pensado mais no tempo, o tempo para não se perder, para não se desperdiçar.
    Agora mesmo eu faço isso. Peço tudo de bom, para mim, para você, para nós. Que enquanto eu estiver nos teus braços seja sempre eterno, que teus olhos me guiem como tem feito ultimamente, e que os dias, os dias sejam bonitos como passarinhos livres batendo asas sobre o céu.


Annabel Laurino. 

Na tua


"[...] Me diz alguma coisa, vai. Me fala tudo aquilo que eu ando louca pra ouvir da sua boca. Sussurra, então. Ou me ensina a receptar telepatia, essa língua que só os inteligentes e evoluídos e incógnitos e brancas-nuvens conseguem decifrar. Porque eu já estourei minha cota de intuição. Diz que me adora, que gosta de mim, que sente saudades minhas e uma vontade insana de me ver em plena quarta-feira. Sei que não muda nada, mas eu preciso ouvir. Ou isso, ou eu pego minha bicicleta e dou o fora daqui. Agora. Sabe, não está dando muito certo, às vezes eu me sinto meio o Dick Vigarista gritando para o Mutley fazer alguma coisa. E você só olha meu desespero patético e fica rindo. E então? Como vai ser? Desisto. Eu acho, às vezes, que seria mais produtivo perseguir pombos em praça pública. Bem, eu só queria dizer que, apesar desse seu jeito todo iceberg de ser, eu te acho um rapaz incrível. Você é o melhor ser humano entre os piores que já conheci. Ou o pior entre os melhores. Não sei. Sei que eu inexplicavelmente estou na tua e você sabe disso. Não dá bola, assim que meu ataque trevoso de angústia cessar, eu sei, não vou me importar nem um pouco se você ficar na tua, se você não ligar de me aturar falando pelos cotovelos, deitada do teu lado."

Gabito Nunes

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Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. 






 Caio Fernando Abreu




segunda-feira, 16 de julho de 2012

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De alguma forma absurda, nunca estive tão bem. 








 Caio Fernando Abreu

Gerânios


    Como um jardim de gerânios. E não sei bem por que aqui falo e inicio logo, com pressa, antes que me perca na linha fina de pensamentos e com tamanha sede anoto preciso o nome, gerânios, como algo conhecido, como amigas flores que me recordasse muito bem.
    Seguindo então, repito, como um jardim de gerânios desfolhastes minhas ultimas pétalas coloridas.
    Talvez meio amargo, mas profundo, se anotares bem. Desfolhastes. Sim, despedaçastes minhas ultimas alegrias virulentas e qualquer carinho que eu poderia ter por esses teus sorrisos amigáveis que me gesticulavas na ponta dos lábios e que vezes ou outras colavas nos meus.
    Tudo bem eu acho. Ta tudo bem na verdade.
     Essas coisas meio brutas acontecem, e quando acontecem mesmo que deixem a gente de uma tamanha vontade de gritar, ora nos deixam calmos, sabendo então que foi melhor entender que não estavas aqui para me pegar no colo em uma noite fria, com meu coração machucado, para me salvar de um incêndio, para curar minhas dores, repartir minhas alegrias. Foi bom saber que simplesmente estavas, mas quando distraído por qualquer outra coisa mais bonita, faiscante, peixe nadando em nuvens, balas coloridas, desenhos animados nas matines, coisas assim, sumistes.
      Parece tão blasé falar pontilhado, como um segredo que eu registro mas com medo de alguém entender detalhes.
      Os detalhes que escondo são simples, não me envergonho: Abri a porta, de deixei ir embora e fostes, pisando firme sobre o jardim de gerânios, pisoteando todas as pétalas, os ramos, esbugalhando os miolos, pisastes. Morrendo os gerânios, te vi ir embora com a vida feita, arrumada, os gerânios mortos, debulhados, frágeis. Fiquei olhando aquela cena por um tempo, foi tão rápido.
     Agora nem sei por que registro, faz um tempo. Aconteceu sem aviso, nem eu percebi, tomo nota agora enquanto penso sobre.
     A cena dos gerânios morrendo, você os pisoteado, você com seu topete pra cima, a vida firme, as coisas prontas, as roupas limpas, ficou na retina. E me doem a morte dos gerânios, ainda. Você sabe, claro, gerânios são uma espécie muito linda de uma flor vivente, precisam de cuidado, como qualquer coisa viva, e assim que você não cuida, quando se leva a mão em gesto brusco, morrem.
     Morreram.

Annabel Laurino.



sexta-feira, 13 de julho de 2012

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Saudade de te ver por aqui, esses dias. Saudade menino, que saudade.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

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"[...]Chega um momento em que você precisa decidir qual azedume parece mais suportável: deixar pra lá todos os seus desejos ou então sentir-se corroído um pouco todos os dias. Você tem razão, alguma coisa dentro de mim morreu. Talvez eu tenha me perdido de mim mesmo. Mas não sei se posso, ou mesmo quero voltar. Tá feito."




Gabito Nunes

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Mas eu não posso reclamar. É, não posso reclamar. Mas eu queria reclamar, conversar, entender, decidir. Ou então gritar, berrar, rugir, enlouquecer até você verbalizar uma improbabilidade tal como "garota, cala essa boca lotada de marimbondos e pequenas palavras mal escolhidas e vê se escuta isso: eu amo você demais". Como fazem nas histórias da locadora que não temos paciência de assistir, porque no fim a gente fica sabendo que assim como amar, ser amado também é uma coisa que se aprende. E hoje, isso de amor é muito blá.


Gabito Nunes 

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E tem gente maravilhosa que, de repente, vai ficando longe, difícil de ver – e aí dança. 




Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Out, Down, o que quiser dar nome, tanto faz

    Consideravelmente é justo entender que mesmo que eu tivesse na maior fossa da minha vida, morrendo por dentro, cheia de dor, tristeza, jardim negro da Branca de Neve, que minha cabeça estivesse para ir pro ralo, que meus pés já não tivessem força para sustentar o corpo, eu ainda assim não te contaria. Claro, eu faço parte dessa laia de mentirosos que prefere dizer que tudo está bem. Prefiro engolir o choro, colar um sorriso nos lábios e cantar musicas sem sentido, te abraçar forte e acreditar que tudo está bem. Mesmo que quando você vai embora meu mundo perde a cor, eu te deixo ir sem dizer nada. Mesmo que eu chore baixinho todas as noites antes de dormir, eu não digo nada. E não direi que me sinto sozinha, que ando mal, que acredito que morrerei cedo, que não sei o que eu faço aqui, que tenho medo do escuro, que odeio todos os meus defeitos, que não aguento mais, que estou fraca, que preciso muito de alguma coisa, alguém, que preciso de forças, que a coisa ta preta, que a luz não entra, que ta hard, que ta cruel. 
    Não vou contar a você dos meus sonhos, meus pesadelos. Para te poupar, já que nem eu me aturo nesse melodrama todo, nesse blasé, tudo muito blá, out, chato. Agora para piorar a chuva começa a cair fininha lá fora, final de segunda feira, to no pique do meu drama e a noite recém começou, a chuva me deixa sempre tão down e ta chovendo, não sei se vou segurar.
    Eu com medo de ficar sozinha, ando com medo de tudo, quase tudo me assusta, até mesmo viver.
    To cansada, a cama parece quente, quase nem comi, tudo perdeu o gosto. Coloco o pijama e fico tentada a te ligar, mas sei que começarei a chorar no telefone e você já me viu chorando aquele dia, não quero ouvir você me dizendo nada e você vai me dizer todas aquelas coisas, aquelas explicações da vida. Para mim, eu que entendo tudo fácil, já sei como funciona, já entendi tudo. Não se pode confiar em quase ninguém hoje em dia. Mas eu confio em você, não sei se é certo, se to fazendo bem em te entregar assim tão fácil meu peso, minhas dores, meu melhor. Mas vou te dizer que só tenho você. Não tenho mais ninguém que confie assim tanto. 
    Estou tão fraquinha, corpo, alma, coração. Quem sabe você possa vir edificar isso, quem sabe somente eu possa dar um jeito nessa coisa errada que não sei dar nome. Ainda tenho que pensar, o que eu já tenho feito a mais de dias, o dia inteiro.
    Tomo chá, olho a chuva, a segunda acabando, indo embora. Eu sozinha, que triste, que dó. Nada da pé, nada da fundamento, tenho que mudar, investir. Investir em que? 
    Não sei, nada faz sentido mais.


Annabel Laurino.

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Eu não sou interessante. Você entende? Sei como é, só porque eu sou bonitinha, eloquente e meio exótica, com seus olhos você enxerga uma garota inteligente, divertida, culta, impressionante, talvez boa de cama. Eu não sou nenhuma dessas coisas. Eu não tenho graça nenhuma.[...] Falo sério. Talvez eu até mereça essa sua atenção momentânea, mas a longo prazo sou uma garota que não funciona direito. É como se eu fosse uma vitrola antiga, com a agulha defeituosa. Se você parar para prestar mais atenção em mim, vai se dar conta que eu fico roçando no vinil e atrapalhando a música, provocando aqueles ruídos que dão agonia nos dentes. E sabe o que é pior? Eu não tenho conserto, não há peças de reposição no mercado, sou uma causa perdida. Por que você não abraça uma árvore? Vai dar na mesma. [...] Eu não quero me comprometer. Eu agradeço sua atenção, mas estou dando todas as chances pra você desistir. Aceite minha oferta e pense bem, caia fora, garoto. Ou eu não me responsabilizo.


Gabito Nunes

domingo, 8 de julho de 2012

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Olho tudo isso que vejo e não tem outra magia além dessa, a de ser real, e vou dizendo lento, como quem tem medo de quebrar a rija perfeição das coisas, e vou dizendo leve, então, no seu ouvido duro, na tua alma fria, e vou dizendo louco, e vou dizendo longo sem pausa - gosto muito de você gosto muito de você gosto muito de você.


 Caio Fernando Abreu


Dialongando


- Eu não vou casar, sabia?
- Mesmo?
- É, mesmo. Não penso nisso, sei lá.
- Também não, é tão... sei lá.
- Pois é, quero aproveitar meus 20 aos 30, muito, depois, quem sabe.
- É, faz sentido. Penso o mesmo.
- Gosto muito de viajar, sabia?
- É, eu também.
- Viajar o mundo todo, conhecer lugares.
- Sim, para que casar?
- Verdade.
- Sendo que eu daria uma péssima esposa.
- E eu então, péssimo marido.
- Mentira, você é maravilhoso. Um cavalheiro, faz todas as vontades, quase nem parece existir.
- Que nada. Eu faço as SUAS vontades.
- Sim, pois é.
[silêncio]
- Então dos 20 aos 30 será bem movimentado?
[risos]
- É...
- Eu vou para nova York.
- Nova York?
- Aham, meu sonho.
- Sempre gostei de Nova York.
- Pois é, vamos nos perder.
- Que nada, eu te encontro.
- Quanta certeza...
- Como eu disse, eu sempre gostei de Nova York. Eu te encontro.
- Será mesmo...?
- Deixa comigo.
- Deixar com você?
- É, fica tranqüila.
- Então... Nova York?
- Sim.
- E nunca vamos nos casar?
- Não digo nunca... Mas, relativamente.
- Relativamente...
- Pois é.
- E você vai me encontrar?
- Com toda a certeza que sim.
[sorriram]
[havia certeza]


Annabel Laurino

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Penso em ti quando a vida me pesa e as pessoas batizam com nomes sórdidos esses lados escondidos da emoção. E fico sempre mais forte, mesmo sentindo saudade.




 Caio Fernando Abreu

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"Então eu corro. Me dá de novo a vontade de ir embora. Eu to sempre indo embora mas aí vai um super clichê...: é de tanto que eu só queria ficar. E queria que você não achasse que sou sempre louca, ainda que eu seja."

- Tati Bernardi

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Você pode. Se quiser, você pode conquistar o seu destino, inventar a sua verdadeira vida. Sim, você pode.


 Caio Fernando Abreu

sábado, 7 de julho de 2012

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Não pretendo te contar sobre minhas lutas mentais. Você terá nas mãos minha simplicidade e minha leveza, que podem não ser totalmente verdadeiras, mas foram criadas com muito carinho pra não assustar pessoas como você. Não vou ficar falando sobre a complexidade dos meus pensamentos, minha dualidade ou minhas dúvidas sobre qualquer sentimento do mundo. Vou te deixar com a melhor parte, porque eu sei que você merece. Guardo pra mim as crises de identidade e a vontade de sumir. Não vou dissertar sobre minhas fragilidades e minhas inseguranças. Talvez eu te diga algumas vezes sobre minha tristeza, mas só pra ganhar um pouquinho mais de carinho. Ofereço meu bom humor e minha paciência e você deve saber que esta não é uma oferta muito comum.
Se você tivesse chegado antes, eu não teria notado. Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado. Você anda acertando muita coisa, mesmo sem perceber. Você tem me ganhado nos detalhes e aposto que nem desconfia. Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão.
Você não precisa saber que eu choro porque me sinto pequena num mundo gigante. Nem que eu faço coisas estúpidas quando estou carente. Você nunca vai saber da minha mania de me expor em palavras, que eu escrevo o tempo todo, em qualquer lugar. Muito menos que eu estou escrevendo sobre você neste exato momento. E não pense que é falta de consideração eu dividir tanto de mim com tanta gente e excluir você dessa minha segunda vida, porque há duas maneiras de saber o que eu não digo sobre mim: lendo nas entrelinhas dos meus textos e olhando nos meus olhos. E a segunda opção ninguém mais tem.




(Caio Fernando Abreu)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Apatia Encharcada


    Lá fora a chuva açoita com o vento a mais de uma hora. Fico me perguntando, a essas alturas na quarta caneca de café, quando ela poderá parar e se irá parar. Não me importo que chova, mas todo esses pingos pingados no vidro sempre tendem a me deixar um bocado nostálgica.
    Olho as pessoas lá fora, meros transeuntes na rua, seguindo seus rumos cotidianos, decisões feitas no café da manhã, com seus compromissos marcados, lista de afazeres, compras por fazer, trabalho para prestar.
    Enquanto isso, estou aqui dentro dessa minha caixinha de fósforos, como quem se esconde, quem foge de alguma coisa.
    Na verdade já nem sei se fujo, por que afinal desisti de me proteger. É fugindo que as coisas mais te devoram. E me devoram, devorarão, ainda estão a devorar. Não espero, mas fico em repouso, como quem não se importa. E ainda assim a vida sempre encontra um jeito de surpreender.
    Tentei arrumar os armários, lavar a louça acumulada na pia, limpar a mesa, tirar os lixos, arrumar a cama, mas não consegui. Não me veio forças. O que me veio foi uma irritação, uma irritação pela tentativa de arrumar tudo, de deixar sempre as coisas em ordem.
    Tendo a pensar que estou deprimida, não sei. Ou então algum tipo de esvaziamento de emoções. Queria tanto algo bem bonito servido no jantar com uma sobremesa gostosa e quentinha, chocolate quente com marshmallows, brownie com calda de chocolate.
    Queria alguma surpresa, presente envolto de fita branca com laço gracioso. E nesse querer, que nem sei se é certo, eu acumulo uma raspa, resto, vestígio recíproco, de esperança.
     Claro que eu me pergunto pra que, por que, de que adianta. Claro que eu não sei, não faz sentido, quase nunca sei. Mas essas minhas ações tendenciosas são o que me deixam viva, mas não vivendo. Não ando vivendo nada, vivo o básico, respiro o básico, sinto o básico. O que eu queria mesmo, de verdade, nunca vem.
     Fico sentada na cadeira do quarto tentando fazer um filme na cabeça, montando personagens, figurinos, tudo muito chato. Out. 
    Mas não importa agora. Não me permito chorar, não me permito entristecer. Não estou triste, só não sinto mais nada. É isso.
    Talvez, ah que cansaço só de pensar, seja a hora de trocar o disco. Sim, tirar as roupas velhas dos armários, limpar a vida, sacudir a poeira, talvez seja hora de morrer por dentro e nascer por fora, deixar a vida se renovar.
    Não sei, é só uma ideia. Seria difícil, teria que decodificar tudo, refazer, excluir pessoas, gestos, lembranças, sabores antigos, saudades amenas, ser forte, não tenho forças, ignorar, levantar o queixo, estufar o peito, e já quase nem tenho ar.
    Uma porção de coisas que hoje, com essa chuva lá fora, essa apatia por dentro, não tenho certeza se seria capaz de fazer.

Annabel Laurino.

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Talvez seja esse o problema. Uma vida sem manhãs. Estranho é que não escolhi. Não consigo precisar o momento em que escolhi. Nem isso, nem qualquer outra coisa, nem nada. Foram me arrastando. Não houve aquele momento em que você pode decidir se vai em frente, se volta atrás, se vira à esquerda ou à direita. Se houve, eu não lembro. Tenho a impressão de que a vida, as coisas foram me levando. Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito. Sem se importarem se eu não queria mais ir. Agora olho em volta e não tenho certeza se gostaria mesmo de estar aqui. Só sei que dentro de mim tem uma coisa pronta, esperando acontecer, o problema é que essa coisa talvez dependa de uma outra pessoa para começar a acontecer. 




 Caio Fernando Abreu

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Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar.

Caio Fernando Abreu