Vais dizer que não
faz falta? Altas da noite e você deita na cama abraçando o próprio corpo. Aquela
estranha sensação de vazio por dentro e que transborda, de dentro para fora. Abraçando-se, aquele silêncio que afugenta pelo seus pelos dos braços em inteiro. Fica
aquela musica de fundo com a voz de John Lennon dizendo Let it Be.
Será que algum dia
a gente encontra alguém que completa a outra remenda de pele da gente? Será que
vai demorar muito?
Tão difícil ter
aquela química, aquela sensação de conjunto formando-se quando se abraça,
quando se toca, vagarosamente. Como coisa fácil que cresce sem medo e enfia a
cabeça para fora da toca, como coisa viva que respira lentamente, e cresce sem
demora, sem dor. Fácil.
Fico me
perguntando onde está esse lado metade que me fará sentir sensações inéditas. Onde
está os cabelos que desgrenharei com voracidade em meio a uma beijo, arrancando
mordidas dos lábios, apertando os sulcos da carne. Onde está o sorriso que me
fará sorrir sem parar em meio ao entrelaçar de pernas jogados em uma cama
quente, onde está o cheiro que será o lar, o aroma da casa com lareira acessa,
haliantos na janela e mesa posta para o café da manhã.
Não preciso dizer
que precisa-se também do calor do corpo que aquecerá a alma, por que é isso que
importa de verdade. O calor real de um outro alguém, esquentando nossa alma e
fazendo nosso corpo esquecer a vontade de ficar sozinho.
Annabel Laurino