sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Fantasmas


Quem não os tem? Quem não é perseguido por eles?
Oh não, não falo de fantasmas aprisionados de histórias de terror conhecidas corriqueiramente por ai.
Os fantasmas de que falo, são muito mais aterrorizantes e muito mais perseguidores; Os fantasmas do passado.
Tenho uma porção deles.
Mas em especial, aquele que guardo em uma caixa forrada restritamente guardada no fundo do meu próprio sub consciente, é tudo aquilo que um dia eu não tive a metade de coragem de fazer. Não, não falar. Fazer.
Falar é muito fácil, como soprar e assoprar.
Falei muito, expliquei muito. Expliquei a mim mesma para mim própria, e refiz assim para todos a minha volta. Uma perca de tempo total, por si só.
 Perdi o tempo a cada letra que derramava meus lábios, a cada arfada pulsante que se soltava em uma só palavra era um pequenino segundo em que poderia estar cometendo o ato daquilo que eu mesma proclamava.
Mas, nem tão fácil se torna o ato de realizar. É muito mais difícil, tanto quanto se calar.
Eu muito precisava correr, mas permaneci-me constante no mesmo lugar.
Eu muito precisava desprender-me mas muito acorrentei-me ainda mais.
E muito mais do que precisava era e sempre foi relativo a um só ser. Aquilo que perdi facilmente como um pingo que despenca rápido e disperso.
Se esse ser, ser este que ainda guardo tão bem em meu coração, tivesse a idéia do quanto seria eu capaz de buscá-lo em qualquer parte do mundo, o quanto faria para respirar o seu mesmo ar, ar este que se toma meu e seu. Se ele soubesse...
 Ser meu, que não é mais meu a muito tempo. Mas, sempre será em minha memória.
É ele que meche com todas as cartas que eu coloco inocentemente, é ele que gira facilmente meus planos de cabeça para baixo, que sacode meu mundo e que facilmente o constrói e destrói em um piscar. Piscar esse que me apaixonei. Sem saber que apaixonava-me.
  E se esse ser acreditasse. Se pelo menos tivesse em seu coração o terço da dor, da fisgada funda que sinto quando meus olhos retém-se aos seus. Se pelo menos esse ser cujo qual eu muito falei, expliquei, e talvez, só talvez, pouco agi; Tivesse idéia do quanto o amo.
Talvez mesmo assim partisse.
E eu já estou tão acostumada em o ver partir, quanto em o ver chegar. E a dor torna-se quase, apenas quase, amigável, uma conhecida eu diria.
    Este ser não é um fantasma do meu passado. São apenas os meus sentimentos que me ligam a ele que me fazem por instantes dispersos e abruptos relembrar o distante que nem foi tão distante assim. O quanto expliquei, falei, e chorei. Pouco, muito pouco mostrei.
  Se eu pudesse, se realmente uma pequena chance me fosse concedida, um pedido apenas eu faria.
  Este que vos falo, se por um pequeno acaso do acaso vir de ler o que vos escrevo, saberá tão por imediato que minhas pequeninas frases de dor e amor lhe caem muito bem. Tão bem que lhe vestem perfeitamente, e agradecida sou, por existir e por lhe amar, mesmo que me doa, que me desfaleça, mesmo que não acredites, mesmo que ninguém mais me ouça. O amor é assim mesmo, não precisa de razão para existir, ele simplesmente existe. Com ou sem seus fantasmas, com ou sem passado, nunca deixa de brilhar. Iluminar. Cortar. Ferir.


    Annabel Laurino.

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