Quem não os tem? Quem não é perseguido por eles?
Oh não, não falo de fantasmas aprisionados de histórias de
terror conhecidas corriqueiramente por ai.
Os fantasmas de que falo, são muito mais aterrorizantes e
muito mais perseguidores; Os fantasmas do passado.
Tenho uma porção deles.
Mas em especial, aquele que guardo em uma caixa forrada
restritamente guardada no fundo do meu próprio sub consciente, é tudo aquilo
que um dia eu não tive a metade de coragem de fazer. Não, não falar. Fazer.
Falar é muito fácil, como soprar e assoprar.
Falei muito, expliquei muito. Expliquei a mim mesma para mim
própria, e refiz assim para todos a minha volta. Uma perca de tempo total, por
si só.
Perdi o tempo a cada
letra que derramava meus lábios, a cada arfada pulsante que se soltava em uma
só palavra era um pequenino segundo em que poderia estar cometendo o ato
daquilo que eu mesma proclamava.
Mas, nem tão fácil se torna o ato de realizar. É muito mais
difícil, tanto quanto se calar.
Eu muito precisava correr, mas permaneci-me constante no
mesmo lugar.
Eu muito precisava desprender-me mas muito acorrentei-me
ainda mais.
E muito mais do que precisava era e sempre foi relativo a um
só ser. Aquilo que perdi facilmente como um pingo que despenca rápido e
disperso.
Se esse ser, ser este que ainda guardo tão bem em meu
coração, tivesse a idéia do quanto seria eu capaz de buscá-lo em qualquer parte
do mundo, o quanto faria para respirar o seu mesmo ar, ar este que se toma meu
e seu. Se ele soubesse...
Ser meu, que não é
mais meu a muito tempo. Mas, sempre será em minha memória.
É ele que meche com todas as cartas que eu coloco
inocentemente, é ele que gira facilmente meus planos de cabeça para baixo, que
sacode meu mundo e que facilmente o constrói e destrói em um piscar. Piscar
esse que me apaixonei. Sem saber que apaixonava-me.
E se esse ser
acreditasse. Se pelo menos tivesse em seu coração o terço da dor, da fisgada
funda que sinto quando meus olhos retém-se aos seus. Se pelo menos esse ser
cujo qual eu muito falei, expliquei, e talvez, só talvez, pouco agi; Tivesse
idéia do quanto o amo.
Talvez mesmo assim partisse.
E eu já estou tão acostumada em o ver partir, quanto em o
ver chegar. E a dor torna-se quase, apenas quase, amigável, uma conhecida eu
diria.
Este ser não é um
fantasma do meu passado. São apenas os meus sentimentos que me ligam a ele que
me fazem por instantes dispersos e abruptos relembrar o distante que nem foi
tão distante assim. O quanto expliquei, falei, e chorei. Pouco, muito pouco
mostrei.
Se eu pudesse, se
realmente uma pequena chance me fosse concedida, um pedido apenas eu faria.
Este que vos falo,
se por um pequeno acaso do acaso vir de ler o que vos escrevo, saberá tão por
imediato que minhas pequeninas frases de dor e amor lhe caem muito bem. Tão bem
que lhe vestem perfeitamente, e agradecida sou, por existir e por lhe amar,
mesmo que me doa, que me desfaleça, mesmo que não acredites, mesmo que ninguém
mais me ouça. O amor é assim mesmo, não precisa de razão para existir, ele simplesmente
existe. Com ou sem seus fantasmas, com ou sem passado, nunca deixa de brilhar.
Iluminar. Cortar. Ferir.
Annabel Laurino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário