Eu vejo o sonho. O embaçado ofuscante do irreal. Eu sinto o
cheiro da terra, da terra macia e molhada, do orvalho, da grama verdejante
cobrindo o campo vasto. Eu sinto o escuro. A noite fria que se decorre por todo
o espaço aberto. Eu vejo a lua, brilhante grande e solitária. Sozinha, parada,
pequena e frágil, eu, eu mesma sozinha.
Mas ainda assim eu
posso sentir, o cheiro do amor próximo. Ah ele esta próximo. Um cheiro doce,
mas não tão doce, é mais como um doce misturado ao amargo. Um amargo bom, da essência
da vida. O natural de tudo.
Eu posso sentir, mas
não posso ver. Eu posso prever mas não posso saber. Não tenho certeza, mas
minha alma canta tão alto que é possível dedilhar a face da verdade que aos
poucos como pequenas e afastadas notas de uma musica ao fundo se aproximam de
meus ouvidos, quase como um sussurro baixo que se eleva lentamente á uma fala
normal, a uma canção normal. Celestial, eu diria. É como perceber que uma
estação esta próxima, mas não poder vê-la ainda, na verdade, você não pode ao
todo ver, você pode apenas sentir. Como no inverno. Sentir as folhas secas
caírem lentamente das copas das arvores, ver a grama macia e verde se tornar
aos poucos desbotada, sentir o cheiro da terra cada vez mais forte, ver as
arvores aos poucos se despir do verde forte para um verde musgo borrifado de um
amarelado desbotado. Sentir o ar mudar, como um vento frio que eriça os pelos,
gela a pele.
Mas o amor não é
assim, tão mudo de cores. É mais pintado. É como a primavera. Como as flores
brotando, como os pássaros cantando, o mar se abrindo e o sol sorrindo. É como
uma transformação. É como se anunciasse o verão, o começo de um recomeço
qualquer, que não é tão qualquer assim.
Eu posso sentir lá
dentro de mim um chamado pequenino cantando e dançando, titubeando forte
anunciando a chegada do breve e novo amor. Onde esta eu não sei, sei apenas que
vem, lentamente, quase como uma pluma. Uma pluma grande e branca, linda e majestosa,
para pousar graciosamente em mim e então, o que era grácil torna-se
avassalador. Como uma grande explosão de cores ou um fleche de uma foto
ofuscante. É meio que assim.
Annabel Laurino.
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