segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

meu mundo, mundo meu




         A cidade é imensa. E eu perdida no meio disso tudo. Decodificada em substâncias sóbrias de café e saudade líquida. Nessas andanças eu me encontro em cada vidraça de um prédio de esquina, nessas andanças eu vasculho o mundo inteiro num pisar de pés pequenos que esmagam sem piedade as folhas secas perdidas pelas calçadas.
Aliás, as folhas secas já começaram a aparecer. Constato isso enquanto cato uma ou outra e admiro maravilhada as suas ponteiras bem contornadas, suas manchas de vermelho e verde que se misturam como se pintadas à mão. Nas noites desse verão que logo irá acabar eu cheiro o ar, procuro nessa imensidão vasta de uma atmosfera que se modifica a todo instante a chegada do meu velho amigo outono. Cachecóis, casacos, luvas e gorros. Os cafés quentes, os beijos no meio da rua com o frio congelando os narizes já avermelhados, o vento soprando seco nos cabelos bagunçados, fecho os olhos e como uma criança eu faço um pedido, quero que o outono venha logo me beijar.
Não sei por onde estive. Durante o calor caustico que assolou todos os dias nessa cidade de pedras, eu me mantive como um coelho, na minha toca mágica, reclusa. Senti as profusões de calor como uma mortal qualquer, mas me abstive de participar do tão aclamado verão e todas as suas parafernalhas de entretenimento.  Eu vivi nesse meio tempo num espaço além do espaço permitido, eu vivi além de mim.
Não morri, mas revivi. Não sobrevivi porque me desfiz inteira, para que de uma outra maneira completamente nova eu pudesse voltar a caber em mim. Ou caber simplesmente. As vezes eu sentia que eu não me cabia direito. Agora me caibo melhor. Me ajeito delicadamente todos os dias na minha forma, a forma de mim. Nesse instante eu já posso sentir que sou, sou mais essência do que antes já pude ser. Por isso eu continuo, nas minhas andanças de flaneur.
Hoje o que resta é o tudo de mim. Hoje nada sobrou, tudo é novo. Eu sou nova, me fiz de novo. Hoje, o meu mundo é multifacetado de mil conotações difusas e que brincam entre si. Ora é, ora não é. Esse mundo, mundo meu, mundo que se modifica a todo instante, esse mundo de uma atmosfera amórfica e azul.

Annabel Laurino 

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