segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Listen to The Rain

    Ninguém pode espiar dentro do meu mundo. Não há frestas nem vãos de portas abertas, ele é selado pelo mais forte de todos os velcros. E é agora, presa nesse mundo escondido que analiso a chuva lá fora que bate e volta nos vidros frios da janela do meu quarto, gotas que produzem barulhos altos nas telhas da casa e ressoam aqui dentro e que trazem conforto. É como se eu ainda estivesse em um tempo atrás mas totalmente aqui agora, nesse presente right now que é continuamente contínuo e se transforma a todo instante. Só que mesmo assim, mesmo assim meu caro, é no passado que eu penso quando deito a cabeça no travesseiro todas as noites, é nele em que eu me lembro.
    Como dizia a musica do Cazuza, eu vejo um futuro repetir o passado. E eu me vejo constantemente lá, no meu futuro intocável e lembro constantemente do passado, o passado que agora já deixou de existir pois não atua mais sobre mim, a não ser claro como uma lembrança, com saudade.
    Será que estaremos todos destinados a isso, sermos passados, termos passados e nunca mais retornarmos a ele? Eu lembro de um livro que eu li, The Great Gatsby, o caro e pobre Gatsby que acreditava constantemente que ele poderia ter seu passado de volta intacto, que ele poderia ter Daisy de volta e sim, que ele poderia fazer com que tudo, exatamente tudo, voltasse a ser como antes. E assim, Gatsby vivia constantemente correndo em direção ao seu futuro refletido num passado distante.
    Um mundo intocável esse a partir do momento em que já se perdeu, acredito. É por isso que nesse mundo em me escondo cheio de lembranças, de fotos e recordações memoráveis e que ninguém pode ver, ninguém pode sentir e nem espiar dentro dele, porque ninguém jamais sentirá exatamente o que eu senti quando vivi tudo aquilo. A não ser, claro, quem viveu comigo.
    Gotas de chuva ainda caem lá fora, é um dia cinzo e eu ouço musica velha pra espantar qualquer tipo de silêncio indesejável. A gente sempre prefere o barulho, a gente sempre prefere o conforto de fingir que algo não está ali quando na verdade ele está.
    E o que está agora é um futuro que eu não consigo prever.
    Assusta? Me pergunto.
    Assusta.




Annabel Laurino 

5 comentários:

Élison disse...

Assusta sim, se não assustasse não ia ter graça, mas, de cabeça erguida da pra tirar de letra ;)

Annabel Laurino disse...

Verdade. O sunto é consequência do pulo que se dá. Que graça teria sem ele?

Élison disse...

é... não teria suspense, emoção. Seria como comprar um Kinder Ovo e já saber qual o brinquedo vem junto.

Annabel Laurino disse...

Exatamente! Adorei.

Luiz Felipe Pinheiro disse...

O futuro ser imprevisível é assustador sim, mas é o 'truque' da vida para nos manter vivos, não saber o que vem pela frente, é a graça de viver, mesmo que amedronte-nos as vezes.