Frágil
– você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o
protejam, para que sintam sua falta. [...] Você se comove com o que não acontece,
você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos
poucos começa a passar.
Caio Fernando Abreu
sábado, 28 de abril de 2012
.
“Seja como
for, continuo gostando muito de você - da mesma forma -, você está quase sempre
perto de mim, quase sempre presente em memórias, lembranças, histórias que
conto às vezes. Saudade…”
(Caio Fernando Abreu)
...
Todas as palavras
do mundo não irão expressar o respeito a um cão tão imensuravelmente forte como
você, meu amigo.
Se algum dia você virar uma estrela no céu, espero que você
seja a mais brilhante.
Não, você não pode saber o que escrevo agora, você ainda está deitado na cozinha, ainda está do mesmo modo que
te deixei quando me ausentei nesses cinco minutos para poder escrever isso que
escrevo.
Você será sempre o
cão mais lindo e maravilhoso que eu poderia pensar em ter, você foi bravio e
destemido e lutou como um guerreiro. Quem poderia ser mais forte do que você?
Pensando bem, você não poderá ser uma
estrela, seria muito pouco, você teria de ser um cometa ou um planeta luz, algo
bem forte e lindo, cheio de luzes e faíscas flamejantes com auroras boreais todos os dias batendo ao pico de montes terrestres e chamas coloridas salpicando os arredores do globo planetário que seria você. Eu poderia dar seu
nome a ele, se eu pudesse. De qualquer forma, você seria o planeta estrela mais lindo do céu. Você brilharia quando eu o avistasse numa noite de verão. Eu saberia que era você sem pestanejar. Sei disso.
Já sinto saudades amigo,
seja forte meu companheiro bravio.
E tenha certeza caro amigo, não esquecerei de você.
Jamais.
Annabel Laurino.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
...
"Amor
não resiste a tudo, não. Amor é jardim. Amor enche de erva daninha. Amizade
também, todas as formas de amor."
Caio Fernando Abreu
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Beijo Invernal
É agora que os nós dos dedos tornam-se esbranquiçados no dorso
da dobra que articula em volta da camisa de inverno sendo repousada na cama. É
agora que o vento frio encarapita-se dentro da camisa de inverno, como bolhas
de ar gelado brincando de entrar e sair da roupa enquanto ela repousa macia em
cima da cama. É agora, nesse momento eterno e especial, que os finos pelos
erguem-se de um sono caloroso, despertando-se para o frio invernal. Na pele do
pescoço que se arrepia, viva, ela e seus pequeninos poros rugindo de uma
sensação lenta e mordaz que escorre pela coluna, ergue aos ossos dos cotovelos
e pela lombar, beija a coluna. É agora que a maciez da pele reflete no espelho,
que o corpo delgado esconde-se nas camadas quentes das lãs e que o corpo busca
refugio no outro corpo ou na caneca fiel do café amargo. Ou doce. Para matar os
dias briguentos em que nós mesmos somos adornados pela santa preguiça de querer
a cama e nada mais. Mas penso eu, que se é agora que essa mágica eterna
acontece, e quem pode nos garantir que acontecerá novamente, o que quero eu com
a cama, a apatia a vida ou ao drama melancólico e banal?
É agora irmão, é
agora que os versos nascem como filhos luzidios, que as folhas secam e que tudo
transmuta-se em uma ternura lenta, como o alentar de um beijo quente decaindo
frio nos lábios do mundo. É agora. É agora.
Annabel Laurino
segunda-feira, 23 de abril de 2012
...
Ando concluindo por ai, em meio aos tropeços e solavancos, em meio aos engasgos e quedas diárias, que ser forte tem sido cada vez mais difícil do que eu poderia imaginar. Mas graças a Deus, não mais do que eu possa suportar.
Annabel Laurino.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Olhos de Gato, saudades de você minha doce senhora
Aqueles pincéis eram tudo para ela. Via-a organizando-os sobre a mesa depois do almoço, ou como sempre ocorria nos dias chuvosos - e me lembro de chover muito naquele tempo - antes do chá das três. Havia sempre uma xícara de chá ao lado dos pinceis, todos manchados de inúmeras cores, suas hastes descascadas, mas ela não parecia se importar. Os olhos eram como olhos de gato, incrivelmente perceptivos, anotavam mentalmente o tamanho da tela e vagueavam sobre o espaço branco e genuíno, como se descifrasse a si mesma no que seria feito.
Nunca falei sobre ela. Nunca consegui escrever sobre ela. E nem mesmo agora, nesse impeto momento de coragem para expurgar essa avalanche de lembranças as palavras me parecem insuficientes para descrever ela, olhos de gato, a senhora dos pinceis manchados.
Ela passava as tardes ali, pintando flores e frutas, de telas em alto relevo a linhas delicadas, recheadas de uma realidade transbordante que vezes eu me pegava duvidando se a realidade mesmo não seriam suas pinturas e não mais o momento presente em que vivíamos. Quando ela entrava para seu ateliler, fazendo crochês tranquilamente sentada no sofá desbotado, ela levantava os olhos de gato incrivelmente verdes sobre seus óculos moderninhos e sorria displicente quando me via chegar, as maças do rosto coradas e cheias de bluch rosado erguidas sobre o rosto anguloso e clássico. O nariz fino sem se mover, os lábios delineados como os de Monalisa, em um sorriso nada aberto, nada sensível.
Ela não era uma pessoa sensível. Apesar de todas aquelas cores em que tinha de conviver todos os dias. Tinha um ar ferino, resguardado e durão. Mas era de certa forma uma porta não trancada, porém sem maçaneta alguma, você só tinha que dizer as palavras certas para poder entrar lá dentro e descobrir o seu lado mais obscuro. E eu tinha medo disso, de descobrir ele, o lado obscuro, que quase ninguém conhecia. Sei hoje, pois entendo tudo muito melhor.
Fico me perguntando se ela teria como saber disso que escrevo agora. Sei que não, tudo bem. Mas talvez, se houvesse alguma maneira, eu gostaria de saber como ela mantinha toda aquela calma pintando e de onde ela encontrava tanta força para conseguir ser ela mesmo em seu próprio mundo. Que cores eram aquelas que ela via sobre as flores e que ninguém mais conseguia enxergar? Como exatamente ela via o mundo?
Não obterei respostas. Aqui nesse silêncio mudo, o tilintar das palavras não expressam minha gigantesca saudade. E aqui, ruminando lembranças me delicio sorridente em momentos felizes em que olhos de gato me ensinou tanto em seu formoso silêncio sem nem desconfiar que enquanto a observava com meus olhinhos brilhantes como as lentes de uma máquina fotográfica, registrava tudo.
Saudades. Muitas saudades de olhos de gato, minha majestosa senhora de lábios de Monalisa.
Encerro mansa essa lembrança, lembrança fiél que o tempo não poderá apagar.
Annabel Laurino.
quarta-feira, 18 de abril de 2012
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"Podia esperar de qualquer um essa fuga,
esse fechamento. Mas não de você, se sempre foram de ternura nossos encontros e
mesmo nossos desencontros não pesavam, e se lúcidos nos reconhecíamos
precários, carentes, incompletos. Meras tentativas, nós. Mas doces. Por que
então assim tão de repente e duro, por que?"
Caio Fernando Abreu
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“Me enfiei em casa e não saí. Um desgosto.
Leio o tempo todo. Sento no jardim. Ouço música. Tento escrever, mas não sei se
quero ou se preciso, e não consigo. Umas carências.”
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Caio Fernando Abreu
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terça-feira, 17 de abril de 2012
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Para os caros e raros leitores que acompanham minhas linhas neuróticas de raciocinio vezes diário, vezes lá que outra, comunico que me sinto só. Que me sinto triste, não estou legal ou feliz ou momentaneamente perto de me sentir plena. Que todas as frases e letras de musicas e textos mirabolantes foram ilusões feias de uma mente declinada a se iludir. Não liguem para isso, ou para aquilo outro ou qualquer outra coisa que seja. Não liguem e ponto. Apenas me sinto terrivelmente só, uma solidão que se faz quando mesmo acompanhada do mundo inteiro em uma corrente de corpos entrelaçados e mesmo assim algo dentro de você insiste em se sentir sozinho e mortalmente vazio. Não sei ainda o que é, não descubro. Quem souber, avise. Manifeste-se por favor. Não cobro nada. Sou mansa. Embora vezes não pareça.
Annabel Laurino.
Annabel Laurino.
...
Uma sofreguidão lenta se apossa de mim nesse momento. Como
um pedaço de alguma coisa grande da qual entala na garganta, estranha. Minuciosa
e mansa, seus dedinhos finos e pequeninos dedilham minha face na tentativa de
descobrir até mesmo minhas feições mais secretas, para destruir-me aos poucos.
Tenho muito medo de toda essa sensação. Pois é incrivelmente familiar,
uma tristeza funda que se instalou no peito, um choro engasgado, entalado e
aperfeiçoado dos mais profundos soluços.
Desistência.
De tudo, de tudo
que se pediu, que se quis e não veio ou se veio não foi como o esperado.
Vontade de chorar e chorar, de pedir que o
tempo pare só para refletir melhor.
A sensação é quase a mesma de comprar uma
roupa nova e quando chegar em casa vesti-la e perceber que ela não era tão
bonita assim, talvez nem mesmo servisse tão bem assim. Enganada e triste, sinto
vontade de me jogar na cama e chorar horas a fio e tentar retroceder esse medo
de mim mesma, essa angustia. Sou cruel, já disse, tenho medo disso, desse
alento todo de podar relações da qual me sufocam sem a maior piedade, e então
afundar em uma fossa de dar gosto durante, digamos assim, meses.
Por favor, repito
constantemente, haveria como só por um momento que alguém acendesse a luz desse
coração escuro e me mostrasse à direção?
Dizem que quando tomamos uma decisão ela deve
ser seguida até o fim, que se deve passar por cima de todas as dificuldades e
tentar, com todas as forças.
Mas não sei se
encontro isso agora dentro de mim, é difícil dizer. De tudo que eu esperava
fazer, lutar era o menor item da minha lista no momento. Não por preguiça ou
por incapacidade, mas chega um momento que você já lutou de mais, que você
esbravejou de mais, que você não quer mais promessas não cumpridas, não quer
mais sair por ai carregando ninguém nas costas ou esperando o melhor de tudo e
alguém. Chega um momento que você automaticamente quer e pronto, quer agora,
quer o bom, o melhor. Claro que você quer lutar. Eu quero lutar. Mas não
sozinha, de novo. Não dessas maneiras tortas que sempre acabo mal.
Não quero ver o
mesmo filme novamente. Posso estar errada, sei que posso. Mas não correrei o
risco de jogar tudo para cima e vendar os olhos, de novo não. Nem mesmo que eu corra
o risco de passar semanas em uma terrível tristeza, nem que eu me perca
novamente dentro de mim mesma, nem que eu chore até me acabar, nem mesmo que eu
tenha que me sentir tão terrivelmente só a ponto de me ferir, nem que seja
triste e lamentavelmente angustiante.
Não
correrei o risco.
Annabel Laurino.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Fúlgida alma, fugaz
Que nossas alma sejam puras
Que nossas lindas almas brancas e genuínas sejam sempre
assim, tão lívidas e puras
Que a pureza límpida seja a casa de nossas almas
Leves e flutuantes
Que a beleza fugaz seja como nuvens pastosas adentrando os
lábios de nossas almas brancas
Que as nossas almas brancas se dêem as mãos
Que elas ouçam com seus ouvidos puros
A doçura branda
Que sussurra
Ao pé da musica lilás
Desenroscando-se no peito da alma branca
Que genuína agarra-se as mãos da minha
Só para não largar
A mão quente e vívida de pureza
Que ela afortunada encontrou pelo caminho
Que elas não se percam
Que nossas almas simplesmente sejam
Unidas em um sonho
Brandindo sempre
sobre os céus azuis pastosos de uma época até o eterno
Para sempre
Nossas almas
Annabel Laurino
...
E o meu lugar é esse
Ao lado seu, no corpo inteiro
Dou o meu lugar pois o seu lugar
É o meu amor primeiro
O dia e a noite as quatro estações
Skank
sábado, 14 de abril de 2012
...
E depois que aqueles dias estranhos foram embora, um eu antigo e nebuloso juntou suas roupas velhas em uma mala esfarrapada e também se dignou por ir. Bateu a porta em silêncio absoluto e partiu. Desde então, além de mais luz e mais som, a casa parece mais firme e limpa, vezes chove um pouco aqui dentro, mas tudo bem, natural, tudo estável, mais feliz, mais leve. Desde aqueles dias em que o eu antigo me abandonou e eu nova e recente cheguei para ficar, tudo parece mais lindo, mais simples, sempre tão mais bonito e cristalino. Brilhante, eu diria.
Annabel Laurino
...
Porque as mãos dele eram quentes sobre aquelas mãozinhas dela,
tão pequeninas e gélidas. Porque o corpo dele era tão grande perto do corpinho
pequenino dela. Porque quando ele a olhava havia aquela doçura candente e
brilhante. Porque quando ele a beijava, era um beijo doce e delicado. Porque
quando suas mãos pousavam na cintura dela eram sempre tão sigilosas e
cuidadosas, subindo por suas costas, protetoras. Porque quando ele sorria era
capaz de arrancar os maiores pesares de dentro do coração dela, fazia-a sentir
nova, como se todas aquelas coisas feias e terríveis, e todos os bichos papões
de dentro do armário e as bruxas feias com seus narizes envergados houvessem
evaporado do ar. Ele a fazia sentir de uma forma nunca sentida antes. Porque
quando ela olhava para ele, com aquele jeito todo altruísta, doce, forte e
protetor, aquela maneira responsável e tão – Deus do céu! – homem de ser, ela
realmente o via em seu futuro, ela realmente o via segurando sua mão em todos
os momentos que futuramente poderiam passar juntos. Não havia duvidas sobre
isso. Porque, simplesmente, era ele. Simples assim.
Annabel Laurino.
Custa, chega, não cansa, descansa
Se você quer saber, é claro que custa muito até você entender realmente. E custa. Custa tempo, olhos inchados, pensamentos vazios e as vezes transbordantes. Custa insonia, ou até sono demais - como desculpa para os dias ferinos que nos engolem aos poucos e o único jeito é dormir - custa tudo, nariz inchado, olhos pequenos, lenços de papel jogados pelo quarto e uma Mata Amazônica inteira desmatada. Claro, vem logo o custo da culpa. Custa ansiedade, chutes e socos no travesseiro, ursos de pelúcia tragicamente mortos e descabeçados, textos escritos com frenética e devoção para logo, excluídos sem a menor piedade. Custa tudo irmão. Custa. Mas depois de todo esse custo, você realmente entende tudo que deveria entender e nada mais faz sentido. Sim, nem mesmo entendendo a coisa faz um sentido completo. Porque dai você percebe que não teve razão todo o trabalho que teve esperando o entendimento vir. E assim, você só aprende que é mais fácil sentar num banquinho e esperar. Esperar a coisa vir é mais fácil do que buscar ela em toda esse martilho cansativo. Você sabe, um dia, cedo ou tarde, não tem diferença, você entende.
Annabel Laurino.
Chafurdando naquela caneca negra e brilhante de ponteiros tardios e flutuantes
Mais uma daquelas noites em que se passa em claro. As
pálpebras relutantes, cansadas e arroxeadas, suplicantes por nem que sejam
trinta minutos de um tranqüilo descanso. O café posto ao lado, fumegante. As
mãos tamborilando aflitas no teclado e uma solidão indefesa e raquítica, como um filhote
de rato recém nascido e abandonado.
São nessas horas
da noite, quando o frio se faz intenso sobre o corpo sozinho, quando não há mão
alguma para repor por cima da minha ou um braço sobre meus ombros desfalecidos
e cansados, são nessas horas de dispersa atenção do mundo que reflito sem nada
mais refletir.
Fico um tanto só
nesses pensamentos cristalinos. Brotam como gotículas de chuva encarapitando-se
na soleira de uma janela ou decaindo da ponta fininha e delicada da pétala de
uma flor. São pensamentos que me trazem saudade, pois conseqüentemente me
trazem lembranças. Vezes esses pensamentos nascem como idéias, com questões
introspectivas e paralelos múltiplos sobre o que ser e não ser.
Não faz sentido,
eu sei. Mas é como se uma parte minha me obrigasse a todo instante a pelo menos
me entregar a mim mesma a esses momentos que vem tão raramente e se debruçam
sobre mim.
Queria escrever
uma musica ou pintar um quadro, tirar fotografias, registrar uma arte, fazer
algo que talvez expressasse todo esse sentimento acumulado que trasborda desde
o medo a solidão e depois retorna a saudade.
Queria não me
sentir assim tão só, e literalmente só, nessa hora da madrugada. A companhia se
faz apenas pelo som dos dedos trabalhando freneticamente no teclado, o arrastar
dos lábios sugando a bebida na caneca quente, e alguns grilos do lado de fora
da janela do quarto.
Tudo parece tão
imenso.
Estou vestindo um
moleton gigante que cobre meu corpo inteiro, desde os braços por completo até
os joelhos. Não é meu, claramente. E traz nele um cheirinho tão bom. Vesti-o na
esperança de não me sentir mais assim, tão só.
Sei lá, talvez
sejam essas duvidas todas que não consigo – e não tem jeito de conseguir –
transparecer e expressar, de alguma forma que não ferisse a ninguém. Tais como
todos os meus pensamentos conclusivos. E esses tão vorazes já até me tiraram
quem eu mais queria por perto.
Acho que não tem
jeito. A maneira é terminar afogada nessa caneca de café, minha boa dose de
companhia e chafurdar na cama, ler um pouco, escutar uma musica que faça algum
sentido e dormir, ou não dormir e ver o dia rarear com o sol límpido nascendo
lá longe e então fingir que depois de tendo dormido posso começar um dia que na
verdade nem terminou, para mim.
Concluo que essa
solidão não é domável. Que só sentindo-a posso desfazer-me dela.
E veja. Só
sentindo, sentindo-me só, posso desfazer-me dela.
Annabel Laurino.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
:
"Tão estranho. Às vezes penso que, quando escrevo, sou apenas um canal transmissor, digamos assim, entre duas coisas totalmente alheias a mim, não sei se você entende. Um canal transmissor com um certo poder, ou capacidade, seletivo, sei lá."
Caio Fernando Abreu
Que queres querer este querer?
Mas como explicar? As vezes eu só queria, sabe? Daqueles querer um tanto frouxo, meio que esganiçado, letargio e com o elástico todo guenzo. Um querer que a gente nem sabe se é certo, se seria bom, se funcionaria, se haveria então chances de acontecer... Eu só queria. Um querer que eu nem sabia se existia. Doía, doía as vezes quando eu lembrava da vontade de querer, mas sumia novamente como se alguém colocasse o dedo no interruptor e apagasse a luz. Ele vinha e ia. Inconstante. Duvidoso. Eu não daria ouvidos a ele. Mas sempre me deixava pensar naquele tipo de querer tão desejoso.
Annabel Laurino.
domingo, 8 de abril de 2012
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É como um anjo que veio me dar
harmonia nesses dias meios remotos, o sorriso é tão aberto, me transmite tanta
paz, é como um vento forte e gostoso no rosto da gente... É, eu amo ele profundamente.
Caio F. Abreu
sexta-feira, 6 de abril de 2012
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Não é preciso apagar a luz
Eu fecho os olhos e tudo vem
Num caleidoscópio sem lógica
Eu quase posso ouvir a tua voz
Eu sinto a tua mão a me guiar
Pela noite a caminho de casa
Eu sinto a tua mão a me guiar
Pela noite a caminho de casa
Maria Gadú
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Nem tudo que é fantasia vira sonho, nem tudo que é realidade vira realização
Ah se tudo fosse como naquele filme Meia Noite Em Paris... Se
tudo fosse como uma interminável viagem introspectiva e profunda. Imaginativa,
sim, porém fiel ao fato de nos conhecermos mais a fundo e, Santo Deus! Estamos
falando de Paris!
Assim que o filme
acabou me vi sentada sozinha no sofá da sala, chorando baixinho e vendo a cena
final como se fosse algum mapa filosófico para minha própria vida. Oras, que
coisa linda caminhar na chuva, escrever sobre os bulevares de Paris, aqueles
cafés, aquelas roupas, os rostos, as ruas, tudo. Tão bonito. Meu coração
pareceu inflar no peito como se baixinho ele próprio chorasse em uma admiração
gritante.
Enquanto a chuva
caia, meus olhos pareciam grudar na tela da TV. E veja só, aquele homem de
sorte tendo a oportunidade em meio a história do filme de sentar-se com
todos aqueles homens que admirava tanto e de conhecer todas aquelas maravilhas dos anos 20. E
eu aqui, não tão longe, sentada em frente a tela de um computador esperando ver uma máquina de
escrever, anos 60 e 70, trabalhando em um jornal auspicioso e qualquer de NY,
chaminés de de fumaças de cigarros encarapitando-se no ar frio da sala recheada de telefones
antigos tocando, homens em seus ternos bem vestidos, um cheiro de café mesclado
ao mofo dos papéis e das folhas amareladas, dos sapatos molhados em um dia de
outono e chuva. Ah... O coração parece que vai criar pernas e sair de mim,
fazendo tudo isso ser real.
Uma comparação
entre mim e aquele homem do filme me fez sentir-me ainda mais só, até o sofá
parece mais fundo agora. Queria estar em qualquer outro lugar, e penso nas
milhares de pessoa que escolheria de ver a
minha frente e conversar, conhecer, ter uma chance única na vida. Penso em tudo que eu gostaria
de viver, algo longe dessa realidade intangível, dessas feridas que marcam o
corpo e a alma, e dessas tristezas que, assim como todos nós, carrego todos os dias
como uma mala morta sendo arrastada atrás de mim, para todos os lugares.
Vivemos
reclamando do passado que não vivemos, ou desejando uma fantasia longe de ser alcançada. Eu,
todos os dias que acordo, gostaria de estar acordando em outra época, e isso,
quase sempre me parece tão impossível. Mas então eu faço um café, eu leio um
livro, eu busco vida em autores que não publicam mais seus livros, eu escuto musicas que não tocam mais nas rádios há muitos anos, eu pinto
o cabelo de uma cor diferente, eu uso batom vermelho e escolho sapatos antigos, me sinto
confortável, me olho no espelho, depois olho no calendário. Tudo bem, isso
passa. Essa sede toda de sermos aquilo que não somos, talvez um dia passe, ou não.
Enquanto isso eu vou colocando uma cesta de flores todos os dias na minha
janela, escrevendo poemas, mandando cartas, cozinhando biscoitos de Natal,
prendendo o cabelo com fitas de seda e chorando em filmes antigos e profundos. Enquanto
isso eu vou untando a fantasia de uma vida que poderia ter sido, com uma que é
agora. Enquanto isso eu vou empurrando a vida até ela me empurrar, em digamos
assim, para algum lugar plausível e... Desejado.
Annabel Laurino.
Insaciedade Medrosa
Parece um tanto sem graça no começo. Eu sei. Afinal, o que
se pode haver de tão atraente e delicioso em um copo d’água sem nenhum cubo de
gelo enfeitando-o graciosamente? E, conforme dita a física e a química, nele não ocorrem aquelas gotículas decaindo sobre o vidro frio do copo, com uma poça pequenina e sem
vida por baixo, o acumulo de todas aquelas gotículas geladas. Não. Não há gotículas
nesse copo, apenas um canudo branco de listras rosas dependurado e retorcido pelo
bocal do copo em aparência demasiada abandonada, quase intocável. Compreensível
que nada de atraente você veja nisso, nessa cena auspiciosa de um copo solitário
repousando por cima de uma mesa velha, sem gotículas ou pequenina poça de gotículas
geladas ao fundo e nem mesmo cubinhos de gelo, e sim, apenas um retórico e
contraditório canudo branco com listras cor de rosa. Cheio, o copo cheio quase
transbordante. De fácil acesso, a água que contém ali, com toda aquela coisa
que a água faz, beijando o bocal silenciosamente, tenho sede. Sim, uma sede incansável
de me esquecer de mim e beijar a água, encostar os lábios no canudo branco e
chupar dele toda essa água, esse toque de água. Mas contenho-me afável. Tenho
medo do que pode acontecer, se vou conseguir parar depois. Como posso fazer?
Sou insaciável, digo, e me vejo aqui, nesse momento dispersivo de pouca fé, com
uma gula imensa sobre algo, digamos assim, não atraente para os olhares
alheios. Eu, porém, quase me sinto gritar com essa cena. Me vejo nela, veja só.
É como se o copo, o lindo copo bojudo de vidro gélido fosse um sistema
funcional acoplado dos acontecimentos recentes, você perguntaria “o tempo?” e
eu responderia com um aceno fiel, “sim, o tempo”, e então o canudo sendo eu, em
minha coragem destemida que me falta sã, a roupa da coragem, sim, por que para
provar da água é necessário o canudo, como uma rota, ele ligaria-me a água, e
sem coragem, não há o que conseguir ter. E veja só, a água enfim seria ele, por
que não? Então percebes que o copo me traz a água e a água me tenta com um
canudo flutuante do qual sem ele não posso provar d’água. Claro, como menina
travessa, pensei em encostar meus lábios no bocal do copo, mas seria de tamanha
gula e não é assim que me apresenta tal. Preciso reunir algo para chegar a
coragem e ainda não o sei o bem. Como posso fazê-lo? Teria então que ir com
delicadeza, sutileza e com carinho, amor, afeto e etc. afins que intermináveis me
faltam nos bolsos? Pois então estou perdida, sem a coragem não consigo entrar
nessa. Ou no copo, ou na água, agora tanto faz.
Annabel Laurino.
Aros de Tartaruga e suas mãos envelhecidas apontando do passado ao medo. Argh
Preparei uma somática de pontos. Prós e contras. É complicado dizer mas depois de tanto tempo sendo pisoteada pela vida, tendo ela sentadinha na arquibancada com um bloco de notas nas mãos enrugadas e olhos tão críticos por baixo daqueles óculos de aros de tartaruga vermelho, e analisada por ela e sempre, sempre, sendo surpreendida por aquelas anotações criticas que viabilizavam me trazer, querendo ou não, resultados em acontecimentos nem sempre tão agradáveis assim. Agora decidi que já chega. Pode chamar isso de pirraça, coisa que não vai dar certo, mas decidi me sentar ao lado dela e puxar um bloco de notas também. Decidi uma nova tática de abordagem, de agora em diante enquanto ela me analisa a analisando eu a analiso escrevendo seus pontinhos tortos no caderninho velho e esfarrapado com meu nome em cima. Não me entenda mal, estou somente cuidando da minha autopreservação mental. Não posso enlouquecer novamente. Não posso me deixar ser pega de surpresa e caindo naquele tal lugar que se chama decepção e coisa e tal.
Annabel Laurino.
terça-feira, 3 de abril de 2012
;
“Pensamentos matinais, desgrenhados, são frágeis como cabelos finos demais que começam a cair.”
Caio Fernando Abreu
...
"Não sinta fome de nada, além de mim. Confia em mim, sem comida você dura vinte dias. Ficaí. Sem beber, você demora uns quatro dias pra morrer. Relaxa, ficaí, porque sem amar você pode durar a vida inteira sem ter valido a pena. Ficaí enquanto vejo uma maneira de não jogar pela janela todo tipo de amor que vem até mim tão fácil. Porque apesar da sua cara de brabo, você é tão fácil, tão leve, tão solto, tão tudo que eu sempre quis quando me agarra pelo braço, me pega pelos quadris, mastiga todo meu corpo e cospe fora somente minhas mentiras, carências e toxinas."
Gabito Nunes
Gabito Nunes
segunda-feira, 2 de abril de 2012
...
“Não foi desejo. Nem vontade, nem curiosidade,
nem nada disso. Foi um choque elétrico meio que de surpresa, desses que te
deixa com o corpo arrepiado, coração batendo acelerado e cabelo em pé . Foi
sentimento . Não foi planejado, nem premeditado. Foi só um querer estar perto e
cuidar, tomar todas as dores e lágrimas como se fossem suas. A vontade e o
desejo vieram depois, bem depois. Não foi um lance de corpo, foi um lance de
alma. Não foram os olhos, nem os sorrisos, nem o jeito de andar ou de se
vestir, foram as palavras. Uma saudade e uma urgência daquilo que nunca se
teve, mas era como se já tivesse tido antes. Foi amor. É amor.”
Tati
Bernardi
Momento
Não me entenda mal, mas hoje quando acordei, eu só quis ficar um pouco só. Acho que preciso um tanto dessa dose diária de me sentir como um flanco pedaço de maça abandonado. Sinto terrível falta de pensar sozinha, sem nenhum outro pensamento querendo bater a porta do meu. E sinto uma terrível falta dos meus momentos introspectivos, da janela aberta, dos livros ao lado, do café quente, das musicas esquisitas e de esticar as pernas por cima da mesa, esticar os braços sobre o computador e escrever até ter câimbras nos dedos.
Talvez nem seja tanto isso, talvez eu só queira respirar um pouco. Só isso. Não me entenda mal. Hoje eu acordei assim mesmo, querendo sentir saudade, querendo ficar sozinha, querendo não ser tão humana, carnal e boba.
Eu só estou com medo novamente, de que tudo desmorone e você não esteja mais do meu lado depois. Eu sei que isso não vai acontecer, toda vez que eu olho para você tenho uma segurança enorme que até hoje ninguém me fez sentir, e tenho mais certeza ainda que do meu lado você não sai, eu sei. Você não é que nem eu, que tem medo, duro, egocêntrico, egoísta individualista e chato, você não é assim. Mas eu tenho medo, algo em mim está mudando e acho que é esse lado durão que está descolando de mim. Você está tirando ele e isso me apavora. Tenho vontade de entrar para minha toca pegar meus livros e roê-los num canto qualquer, chorar baixinho, jogar um cobertor por cima do corpo e chorar ainda mais .
Então me vens doce, olhas para mim, esses seus olhos grandes e brilhantes, esse seu jeito homem e seguro de si, esse carinho todo que você me da, esse cavalheirismo, esse amor, suas palavras doces, sua maneira de me fazer sentir a pessoa mais incrível do mundo... O medo se descola aos poucos, nem sinto a dor de quando ele puxa os pelos dos braços e vai embora. Estou hipnotizada. Você está aqui. Tudo está bem.
O momento recente já virou passado. Estou bem novamente.
Talvez nem seja tanto isso, talvez eu só queira respirar um pouco. Só isso. Não me entenda mal. Hoje eu acordei assim mesmo, querendo sentir saudade, querendo ficar sozinha, querendo não ser tão humana, carnal e boba.
Eu só estou com medo novamente, de que tudo desmorone e você não esteja mais do meu lado depois. Eu sei que isso não vai acontecer, toda vez que eu olho para você tenho uma segurança enorme que até hoje ninguém me fez sentir, e tenho mais certeza ainda que do meu lado você não sai, eu sei. Você não é que nem eu, que tem medo, duro, egocêntrico, egoísta individualista e chato, você não é assim. Mas eu tenho medo, algo em mim está mudando e acho que é esse lado durão que está descolando de mim. Você está tirando ele e isso me apavora. Tenho vontade de entrar para minha toca pegar meus livros e roê-los num canto qualquer, chorar baixinho, jogar um cobertor por cima do corpo e chorar ainda mais .
Então me vens doce, olhas para mim, esses seus olhos grandes e brilhantes, esse seu jeito homem e seguro de si, esse carinho todo que você me da, esse cavalheirismo, esse amor, suas palavras doces, sua maneira de me fazer sentir a pessoa mais incrível do mundo... O medo se descola aos poucos, nem sinto a dor de quando ele puxa os pelos dos braços e vai embora. Estou hipnotizada. Você está aqui. Tudo está bem.
O momento recente já virou passado. Estou bem novamente.
Annabel Laurino.
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