domingo, 11 de março de 2012

Embalando-se em um balanço pintado de mar


    Quero tirar uma fotografia, agora, nesse exato instante. Mas não tenho em mãos uma câmera fotográfica.
    Por um lado é até bom. Pois assim não me sinto culpada por não poder elucidar para você os sons. Sim, não se pode fazer isso através de uma fotografia, não é mesmo?
    Vezes ou outra, lhe confesso, não ouço nada. Mais ou menos no momento em que a onda pequenina e gelada toca gentilmente os meus pés, e cobre os meus dedos, minhas unhas pintadas de laranja.
    Fico parada aqui numa sede imensurável de compreender como tudo isso veio parar aqui. Mas esse sentimento é o mesmo de se estar apaixonado. Achar tudo incrivelmente mágico porém sem poder entender qualquer detalhe do que se está sendo sentido, por menor que seja.
    A areia úmida gruda na pele morna que se arrepia com o beijo do vento, o mesmo que embala e sacode o mar. A espuma densa veste sua grinalda branca. As bolhas formigam e explodem no ar. A ponta da caneta risca no papel em um arranhar nervoso e trabalhado, o sussurro das ondas, cantando ao pé do ouvido. As crianças brincam e o cachorros correm. Os músculos se movem no encalço do sol.
    Uma paz de espírito se apossou de mim.
    “Deus é muito lindo”, repito sem parar até que se possa entender nem que seja um bocado desse sentimento tão abstrato.
     Os pigmentos esverdeados do mar reluzem todos juntos, e penso que estranho quando uma gotícula sozinha, margeando em minha pele translúcida, perde sua cor, solitária. Olho para o céu, cinza arroxeado, pelo final de tarde, brilhando feliz. Um navio com suas luzes acessas navega lá longe. Arrasto os olhos pelo horizonte sem fim e sinto uma alegria, um formigamento no peito. Eu vejo Deus sorrir para mim.




Annabel Laurino



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