sábado, 18 de fevereiro de 2012

Gesticulando fios de luz, amanhecendo como se não houvesse amanhecer

    Acordei seis horas da manhã como se seis horas da manhã nunca tivessem existido.
    Fiquei olhando para o céu, através das frestas da janela do quarto, cinza escuro que foi clareando ao poucos com a chegada do sol.
    Parecia que não havia dormido nada e continuou parecendo mesmo depois de ter bebido café e visto os ponteiros do relógio chegarem se arrastanto até as nove da manhã.
    Estou mais certa do que nunca que escrever utiliza uma grande e imensa e desfavoravel e revigorante, porém quase insignificante, se você quer saber, força de vontade. Brutal. Estou mais certa disso agora, já que acordei com o olho direito meio inchado, como se tivesse cheio de areia, levado um soco, respingado de limão, sido beliscado e todas as atrocidades que você quiser pensar que possa recriar uma cena bem idiota, e que eu com essa lentidão toda me recuso a pensar, e que resulte num olho feio e machucado.
    Mesmo assim me obrigo a estar aqui agora parafraseando tudo isso como se fosse uma incrivel aventura de acordar, beber café, mosquiar dormente vendo as horas passarem e depois anotar tudo isso como se Peter Pan tivesse me visitado ou eu tivesse entrado por um buraco mágico até o País das Maravilhas.
    Não sei, acordei com uma sensação estranha. Como se tivesse muitas coisas retidas dentro de mim, talvez seja esse livro comovente que ando lendo, talvez seja essa áurea auspiciosa que me toca lentamente com as suas mãos brancas e frias, e me tomando, me engolindo, me fazendo rever milhares de valores e acertos, que antes eu havia decretado como encerrados.
    Não é estranho como o dia as vezes amanhece e parece que muda tudo a sua volta muito rápido, como num piscar de olhos?
    Estou tentando pensar direito, mas acho que a minha mente oscila entre o incomparável e detestavel sono e preguiça.
    Daqui a pouco estarei saindo de um banho gelado, entrando dentro de roupas macias e finas e perambulando pelo centro da cidade com um óculos imenso de sol no rosto, um olho direito machucado e milhares de pensamentos sonolentos e contraditórios no bolso.
   Tudo bem, ta tudo bem, talvez seja o efeito do sol, do dia, do calor, do café, da preguiça, do sono, da lentidão, da falta de vento, ou do livro até mesmo. Não sei.
    E acho que nem quero descobrir.



Annabel Laurino.

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