terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Dor, oh dor conhecida.

    Acho que a pior dor que pode ter é aquela que vem no final do dia. Não, não desvalorizo aqui o amontoado existencial de outras dores. Mas afirmo que a pior e mais conhecida é a que acompanha o crepúsculo estampado na janela aberta do quarto, que adentra amena como uma manancial fina e vem mansamente com suas sapatilhas de algodão. Depois do dia cheio, da tarde quente, das coisas loucas, dos inesperados das horas, da turbinação do sol, das peles, rostos, e temperaturas em alto grau você se joga na cama e olha para o celular. Meu Deus, a ultima pessoa que você acabou de falar era a pessoa que até então era a mais especial da sua vida e vocês acabaram de brigar. Ninguém até agora perguntou como foi o seu dia. A cabeça lateja, o café não resolve, o corpo rasteja, os olhos ardem, e por dentro tudo parece em cacos. Você até pensa se essa momentânea gripe de dor no corpo e nariz estranho não venha a ser uma forma de todas as coisas trancadas lá dentro estarem escapulindo para fora, fisicamente.
    Dói tanto se sentir tão só, é como querer água num deserto, os pés uns torrões de areia frita, a longitude imensa a sua frente, nem uma viva alma, e o sol acima torrando os miolos, tudo tão dolorido, só e tudo que você quer tão longe.
    Tudo que eu mais quero era um ligação, ou um abraço, ou um beijo terno no rosto, umas frases por mais clichês que fossem, um café feito, uma conversa construtiva, alguém que me ouvisse também, um colo, um afago no cabelo, e tudo ia ficar bem.
    As vezes parece que a gente entra para essa guerra só e sai só sem mais nem menos. Parece até que tem alguém que fica nos chutando pelas costas nos empurrando para seguir em frente mesmo que tudo pareça tão desesperador.
    Acho que posso estar só com medo, ou talvez arrependimentos. Não sei, é um misto de coisas. Só sei que meu telefone não toca, que ninguém liga, que meu velho amigo novamente me esqueceu. Fico tentada a procurar alguém, fico tentada e discar os números e sei lá, puxar conversa. Mas até isso se torna cansativo.
    É aquele velho sentimento de querer ser salvo, entende?


Annabel Laurino.

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