Desaprendi o que é o amor.
Sério mesmo. Não estou escrevendo isso por que acho que possa causar uma certa ligeira impressão de ingenuidade. É verdade. Eu desaprendi completamente o que é amar.
Não sei mais como é que se sente esse troço.
Que coisa mais estupida. E digo isso, estupido, á cada vez que essa ideia se forma mais nítida na minha cabeça.
Vejo casais na rua, no cinema, na cafeteria, na praça, no restaurante, enfim, e há sempre aquele ar de envolto sabe, como se fossem dois imas grudados e preenchidos, como se um canal de ar estivesse ligado entre os dois bombeando algum tipo de hidrogênio romântico os revitalizando naquela aura auspiciosa de caricias, olhares, risos estravagantes e cheios de segredinhos, abraços, mão na mão, olho no olho, beijo no rosto, charminho e tal.
Eu desaprendi tudo isso.
Sinto-me como um robô recém tirado da dormência durante sei lá quanto tempo, me fechei tanto dentro dessa lata, dessa armadura, que agora não sei como voltar á funcionar. Se me olham, acho que é por que tem algum tipo de coisa errada no rosto, o batom está borrado, minha saia está amassada, estou descabelada, sei lá. Invento milhares de proposições para responder qualquer vestigio de sinal de atração que alguém possa ter por mim. Por que não acho que seja possivel existir. Por que desaprendi á saber quando existe. E vezes nem noto. Nem sei. É necessário que liguem buzinas, chamem um carro alegórico, a xuxa cantando nos meu ouvidos, a multidão do maracanã me empurrando e me amassando, gritando nos meus ouvidos, sinais de SOS, fogos de artificio, fogueiras o que for para que eu perceba. E olhe lá.
Como se faz para que eu volte a funcionar, para que eu saia desse estado de profundo desinteresse pelo amor?
Olho todos os dias pela janela e vejo o sol, é verão, e aquele impulso vital que tanto o Caio Fernando Abreu dizia está por ai, pairando, e eu espero que ele venha, que ele me toque, mas ele não vem e não me toca.
As vezes acho que me fechei de mais, até de mim mesma. E vejo nessa minha cobertura externa tantos defeitos que não me dou espaço. Nem pra mim, nem para quem quer que seja. E vou ficando pra trás, sendo engolida pelos dias que se passam.
Não sei se é necessário que alguém toque lá no fundo pra que isso aconteça, ou que eu me toque, ou espere me tocar. Não sei como se faz, se me atiro nessa maré nova, se espero ela se atirar sobre mim, simplesmente não sei. Não há como saber.
E isso meio que dói.
bebellaurino.
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