Não é que a vida deixou de ser legal. Ela só esta meio que
desconexa agora. É meio como olhar a vida pela janela e o vidro estar muito
embaçado. Quase não consigo ver nada e definir coisas, pessoas, paisagens, não
da. Mas tudo bem. Ando ouvindo bem. Agora. Ando prestando atenção nos sinais,
nas conotações de rastros que antes eram jogados para trás, para os lados,
ignorados. Aprendi uma coisa muito importante esses dias.
Foi algo muito
simples, nunca talvez, tenha sido tão fácil. Cheguei bem perto do espelho e me
olhei. Admirei esses olhos redondos que mal defino cor, não sei castanhos, não
sei verdes, não sei, mas os admirei, pelo brilho, pela sinceridade, não sei...
Mas, era tão eu. A pele envolta do rosto, dos ombros pequenos e nus, os lábios,
tudo tão carnalmente e ao mesmo tempo, não. Meio como a gente começar a amar a
gente mesmo, a gostar desses nossos defeitos, dessas nossas manias. E gostei de
ver isso. Nunca tinha me visto assim.
Perceber isso me deu
uma doida vontade de sorrir. Quantas vezes não parei sozinha no quarto querendo
saber por quem eu lutaria se agora eu já não tinha mais ele, por que não podia
mais ter? E ao me ver no espelho, tão branca e macia, tão jovem e tão cheia de
vida, redescobri milhares de pigmentos
importantes. Um deles gritou assim: “Ei menina, não é lutar por alguém, é lutar
por você!”. E sabe, faz total sentido agora. Quanto tempo faz que eu não luto
por mim?
Annabel Laurino.
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