E o choro não escorria por suas faces há dias. Simplesmente
não saia, não brotava, ficou lá fechado durante horas esperando a hora certa de
escapulir, mas nem quando mais doeu o corpo ou o coração ele saiu, foi no silêncio,
na lembrança bruta da madrugada languida, do pensamento em saber que se foi,
que não volta, que não tem mais jeito, que todo o tempo perdido já foi. E toda
a luta, todos os gritos de vitória, todo os momentos insistidos, as esperanças
guardadas, todo o esforço, as caminhadas pela manhã, as ligações, os abraços,
as cartas, os beijos, as tardes de música, tudo, simplesmente jogado na mão do
tempo e dito: “Toma, vai lá, joga em qualquer canto”.
Não
precisava ser assim, por isso talvez tenha doido tanto. Por que não dependia
nem mesmo da sua dor, nem do seu choro, nem da vontade de arrancar seus próprios
cabelos. Sentava na cadeira do quarto e escrevia sobre infinitos assuntos, mas
nenhum assunto era tão desesperado quanto aquele que ficava guardado no fundo
do peito. Como nenhuma dor fora tão desesperada assim. Como nenhuma vontade de
chorar tão... Tão assim, do nada.
Nada foi
premeditado, logo ela que vivia de planos, lista de afazeres e futuro contado. É,
estava cada vez mais certa de que o amor modifica. Destrói barreiras, mexe com
a gente, sacode, grita e deixa a gente louco. Amor não é nada dessas coisas que
poeta beat tenta passar, não é nada amor ever paz e gatinhos cor de rosa no
meio da noite. Amor é coisa bem louca, machuca. Só serve pra deixar a gente
magro e sem vida.
Debruçada no vidro da janela admirava a chuva cair lá fora como uma
criança se diverte em ver a avó mexer a massa do bolo na batedeira e colocar
delicadamente sobre a forma untada e ajeitada. Deliciava-se no meio do choro ao
mesmo tempo que via o tempo lá fora dançar com a sua dor, uma intimidade tangível, meio próxima e distante.
De uma coisa sabia, não
poderia dizer que por alguma coisa não valera a pena. Pelo menos sabia que
havia dado valor, havia lutado da forma mais bonita e honrosa que pode existir,
sabia que havia sido entregue.
Que
coisa mais bonita, sorriu. Ser entregue. Ela sabia que tinha sido, tão
disposta, tão apaixonada, fizera tudo que pudesse fazer.
E chorou
como quem chora aos soluços meio que pedindo “pare não suporto mais.” As idéias
vinham na mente como balões recheados de tintas em neon explodindo no ar. Havia
sido verdadeira, mas mesmo assim não fora verdade, apenas o fim.
Que
desilusão, que pobre coração. Vasculhou os bolsos do casaco e simplesmente não
encontrava nada, nem uma carta sua, nem um beijo, nem um te amo recebido e que
envelhecido, talvez morto e no fundo do quarto estivesse coberto de pó e que
nem mesmo assim, saberia dizer se pelo menos ele, havia sido de verdade.
Annabel Laurino.
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