sábado, 16 de julho de 2011

Viva


Eu gosto do silêncio... Eu o venero. A quietude quente e amistosa. Mas hoje... Hoje eu quero abduzir o silêncio, quero amassá-lo como a uma folha de papel, quebrá-lo em pedaços indefiníveis e jogá-lo como uma bola arremessada no ar para muito longe. Quero rasgar as cortinas genuinamente brancas, pintar as paredes de qualquer cor que seja cor, quero abrir as garrafas de café e ligar o som, quero derrubar os móveis por acidente e deixá-los por lá por quanto tempo for preciso, jogados, esquecidos, corpos sem vida mortos no chão. Eu os matei. Que tragédia, que maldade. Quero, como quero dançar, mexer o corpo e passar as mãos pelas coxas em carne, minha carne, sentir a quentura do suor grudando, ligando as partículas da pele, quero pegar a pele e apertá-la, apertar a mim, e sentir, continuar, subindo e descendo. Meu corpo. Eu estou viva. Sim. Barulho e barulho. Estou viva. Movendo-me como uma alga marinha no mar sendo levada e levada, dançando, a água fluindo, posso até escutar o som. Morder, comer, jogar, pular, é só no que consigo pensar. Verbos. Sair, correr, olhar, respirar, sorrir, gargalhar. Apertar. Instigar. Mover.


  Annabel Laurino. 

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