domingo, 17 de outubro de 2010

Noite

Noite, como noite, escuro como breu. Rios d’água espalham-se pela fria noite. A cidade ofuscasse de luzes pequenas espalhadas por avenidas vazias e frias. Frio, o vento gela e arde. Levanta os pelos, eriça a alma. Meu mundo levanta, minha doce essência arde. Arde da saudade. A saudade que flameja, rasga o peito. O coração desperta a dor, grita e insidia. Como um incêndio chama. Oh ele chama. Chama e desperta. Dor, amor. As lágrimas caem como luva. Difundissem como mel nas grandes poças das ruas. Torrenciais de água espalham-se por todo lugar. O vidro pinta-se com minha respiração arfada, quente, abafada. A mesma que tracejava seu rosto. Ardente, quente, duro e sensual. Sussurre em meus ouvidos a melhor doçura que sopra de seus lábios. Diga letra por letra o amor que lhe traga. Diga-me, querido. Diga-me quanto tempo mais eu vou esperar por ver você chegar. Seu brilho, seus olhos sorrindo, seus lábios dizendo me amar. Apenas nessa noite, concedo ao céu que me esqueça. Que me deixe só. Por que o que penso não é digno para que ninguém saiba. O desejo é como calda quente que derrete em brasas, queimando e ardendo. Puxando-me, agarrando-me, tocando-me, amando-me. Ame-me como a chuva ama ao cair, ao alastrar, ao ficar, ao molhar. Molhe-me, gele-me, congele-me, aqueça, ferva-me, flameja-me. Por favor. Só diga que venha, me adorar, me conter. Permanecer. Permanecer pra sempre. Até o céu claro tragar a escuridão. A solidão.





Annabel Laurino.


“Y Le coeur en chamade, C'est une embuscade”





Um comentário:

Unknown disse...
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