segunda-feira, 20 de setembro de 2021

dançarina das palavras

 

Hum. Jogo o corpo por cima do corpo. Ensaiei uma dança erótica com a escrita. Ensaiei de escrever tantas vezes por aqui. Perco o caminho em pensamentos de desistência, falta forças nas mãos pra traduzirem o que o corpo quer. O corpo quer se libertar. Por isso sigo nessas reticências que são caminhos. Profundos ecos dentro do peito. Qualquer coisa pra fazer parar de sangrar. Uma ruptura e pronto, o corpo de deságua inteiro sem rumo. Mas esse não ter rumo é bom, é bom porque permite entrecaminhos. Possibilidades.

Veja, retorno sorrateira.

Nessa dança sem precisão o corpo vai retornando aos seus sentidos mínimos como se acordasse. E a saudade antes latente vai se fazendo quase ou menos presente. Continuo frase a frase porque isso é salvação.

Você já viu um corpo dançar num domingo chuvoso? Então veja.

Pra onde vai minha língua bailando dentro do corpo enquanto procura as palavras, as malditas benditas palavras, já não sei. A língua escorrega numa ou outra vírgula, lambe e lambe o verso e assim dançamos, corpo a corpo, pulsação de palavra que vai nascendo na ponta da boca e eu vou perdendo a timidez.

Não irei mais me esconder. Tiro as roupas das palavras. Nuas elas são mais bonitas diante da luz. Gosto assim.
Mas nenhuma palavra consegue traduzir esse retorno. Talvez redenção? Loucura? Vou procurando e procurando, levanto as cobertas, também não se encontram ali. Nunca fui precisa. Necessito de uma palavra única que sirva como uma luva nessa situação.

Fui dançando tão divertidamente e sozinha que parei aqui, nesse entre espaço. Olá você que lê essas linhas, seja bem vindo ou bem vinda, e veja o corpo dançando em piruetas, liberto de si mesmo, o corpo alcança dimensões surpreendentes.

Que delicia escorregar as mãos pelas palavras, com cuidado, pois se não as danadas fogem.

Retorno porque muito cansei de estar longe.

Retorno porque preciso de espaço e desse espaço pra me estender, pra dançar, alcançar plenitude e gozo no espaço entre as palavras. Não peço permissão, não se engane. Não sou assim.

 

Só preciso dançar. O que vem depois, não sei.


Annabel Laurino