sábado, 26 de abril de 2014

quinta-feira, 24 de abril de 2014

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Não é sobre amor, é sobre amar

    Me aconcheguei na minha cama, abraçando firme o meu próprio corpo. Tão frágil em mim mesma que eu podia sentir todas as imperfeições, todos os detalhes por baixo das roupas quentes, todas as nuances de um corpo no meu corpo, no meu próprio ser. Fiquei deitada por um tempo, me abraçando, o frio entrando pelas frestas da janela e um ventinho assobiando que eu prometi que no outro dia mudaria a cama de lugar, ou isso ou quando o inverno chegasse de vez eu morreria congelada. 
    Ah Zé, vem me abraçar. Vem agora antes que eu sucumba nesse colchão desse quarto tão pequenino e com tantos livros. Eu não quero pensar em mais nada, eu não quero mais ter que decidir, eu me rendo. Eu admito. Eu não sei amar. 
    E como não sei amar Zé, nem vem. Não vem me abraçar e nem cuidar de mim porque você só vai encontrar bagunça, desde as roupas jogadas para fora do roupeiro, a minha escrivaninha com pilhas de pratos e canecas usados, tudo revirado, os quadros nas paredes tortos, tudo uma baderna de coisas deixadas para trás após tocadas. Nem vem porque o meu mundo é um caos de confusão e desordem e eu não sei por onde começar. Você por aqui seria a coisa mais bonita entrando nos últimos dias, e ao mesmo tempo tão deslocado. 
    Não sei amar porque não aprendi ainda a como esquecer o meu egocentrismo, a minha necessidade, o meu egoismo. Ainda não me rendi a ninguém Zé, ainda não me feri por alguém. Ou melhor, sim, há muito tempo. Mas não era amor, ou era. Não sei dizer. Só sei dizer que doeu, muito. As vezes quando chove ainda dói. Lembro de ter te dito, Zé, que nunca mais na vida eu queria provar aquela dor e se aquilo era amor, bem, eu queria que o amor se ferrasse. 
    Depois de tudo, peguei minha mochila, enchi de suprimentos e me isolei nas montanhas. Recebi visitas continuamente, mas quer saber? Eu não queria mais assunto com a civilização. Não renunciei o amor por pouco Zé, por um tris. Dai percebi que era radical de mais, infantil de mais. Já não me bastava ser tão torta e eu queria ir contra a massa de vez, renunciar o amor era suicídio social acima dos padrões admitidos. 
    Dessa forma eu desaprendi o que eu nunca soube de verdade, se era a maneira certa ou se era mesmo aquilo. Não sei nada sobre o amor, não sei nada sobre amar. As vezes invejo essa gente toda que enquadra o amor em molduras bonitas de frases perfeitas, que expõem ele para a literatura de páginas amarelas e com capa chamativa. Invejo todos eles, acho um máximo essa coisa de saberem algo sobre o amor, ou nas menores e mais prováveis das hipóteses, eles saibam tanto quanto eu, o que me falta é literatura.
    Abraço o meu corpo como forma de que só eu mesma me sirvo. Que eu me cuido, que eu me dou segurança. Mas quando ja não consigo mais ignorar, a vontade é voltada sempre para um rosto desconhecido, o outro. Nos meus sonhos mais lúdicos eu chego a imaginar uma vida perfeita, com uma pessoa bacana, que fale de filmes e livros e saiba cozinhar. Que trabalhe, não queira filhos e que me leve para jantar aos finais de semana. Nos meus sonhos mais lúdicos eu aceito as imperfeições de outra pessoa como se fossem as minhas, as minhas imperfeições que eu abraço agora, forte e atentamente, sabendo que vão além das imperfeições físicas, que as imperfeições físicas nada tem a ver com isso, que há aquelas mais de dentro, mais da alma, do próprio ser.
    Para alguém que não sabe amar até que eu entendo um pouco de dividir o espaço, de dividir uma boa caneca de café. Para alguém que não entende nada de amor, eu sei falar de meias e inverno, mas sei que isso não basta.
    Zé, as vezes eu choro baixinho, choramingo, na verdade. Bate uma saudade de algo que eu nunca tive e sempre sonhei em ter. Bate uma vontade de ter um guarda-chuva pra dividir num dia cinza. Eu queria entender como é o amor da parte mais feia dele e depois me encantar pela bonita. Para isso é necessário paciência, eu sei. E é o que menos me sobra. 
    Quero ser amada mas não sei amar e isso é tão feio que eu me envergonho. A minha companheira de quarto com quatro patas apenas me olha e me da uma lambidela de conforto. Tudo bem.
    Com esses dias frios ainda em frente eu penso em mudar a cama de lugar e tirar essa bagunça de vez do quarto, para poder te receber, Zé. Talvez você me traga boas novas, coisas limpas, lenços perfumados de Paris e bombons recheados de creme de menta. Talvez você me traga abraços e carinho e um cafuné também. Esperarei, amigo. Esperarei dias melhores, esperarei pela paz de um coração tranquilo, esperarei aprender a amar. Esperarei.
     Porque é isso que se faz quando não se pode mais desesperar. Se desesperar. 






Annabel Laurino 
    


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“Você se cansa de amores incompletos, de amores platônicos, de falta de amor, de excesso disso e daquilo. Se cansa do “apesar de”. Se cansa do rabo entre as pernas, da sensação de estar sendo prejudicado, se cansa do “a vida é assim mesmo”. Você se cansa de esperar, de rezar, de aguardar, de ter esperanças, cansa do frio na barriga, cansa da falta de sono. Você se cansa da hipocrisia, da falsidade, da ameaça constante, se cansa da estupidez, da apatia, da angústia, da insatisfação, da injustiça, do frenesi, da busca impossível e infinita de algo que não sabe o que é. Se cansa da sensação de não poder parar.”



 PC Siqueira

segunda-feira, 21 de abril de 2014

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"Anotaria mais tarde, na mesma noite, antes de dormir, talvez enganado, e totalmente óbvio: a vida é dinâmica."


 Caio Fernando Abreu

sábado, 19 de abril de 2014

Eterno de mim

   Onde eu comecei e onde eu estou plantada. Penso nisso enquanto continuo parada na esquina do calçadão. Onde eu comecei e onde eu estou plantada. Enraizada. Firme com meus pés sobre as calçadas sujas de pedras desgastadas, pisoteadas no meio do tempo. E que tempo longo, num intervalo deste eu apareci. Nasci aqui e aqui fiquei, nessa cidade de pedras e cascalhos. Nessa cidade de água e cheiros. 
    Passei muito tempo fora de mim. Hoje eu sinto que estou mais dentro, mais e mais dentro de mim. Hoje eu diria que eu estou introspectiva, que eu mudei sem ter mudado, eu só deixei de me vestir de algo que as pessoas ao meu redor gostariam de ver. Eu coloquei a roupa que eu queria, eu encarei as ruas, eu me vesti de mim. 
    É sábado e um vento sobe e me encontra nessa esquina onde eu analiso o fluxo. Onde o vento assopra nos meus ouvidos e mordisca a minha pele, que reclama de frio, braços nus, despreparados. É sábado e tudo tem cheiro de inverno, de chocolate, de café, de livro velho e essa gente passa e ninguém me vê, ninguém me nota. 
    Lembro que acordei pelo inicio da tarde, muito tarde, eu pensei. Era para ter acordado cedo, enfrentado o dia, efetuado minhas tarefas de sábado, caído na minha rotina. Mas acordei tarde. Acordei procurando alguém ao meu lado, acordei tateando as cobertas quentes pelo meu corpo e procurando mãos que estivessem me tocando, mas não estavam. Um vazio de uma presença além do tocável. Eu queria que quando eu acordasse alguém estivesse me segurando, como se eu caísse na vida real depois do sono e precisasse que alguém me colocasse nos braços. "Calma, calma, essa é a vida, você só acordou, ta tudo bem, é só mais um dia."
    Não reclamo mais. Deixei de reclamar da vida, das coisas, das pessoas. Entrei numa espécie de aceitação, não que eu me conforme, mas não vejo mais motivos para reclamar, para esbravejar. Tenho entendido muito melhor o mundo a minha volta e tudo bem. Não sei se isso é bom. Talvez um dia eu me canse de algumas coisas e as abandone por decreto, sem explicação. E não sei se isso é bom.
    Vamos indo, vamos pedalando com o tempo numa estrada vã de sonhos e pensamentos sem saber o que exatamente alcançar, sem saber bem aonde estamos indo. Sem saber o que é amor, o que é a vida depois da vida ou o que é a morte depois da vida e se a morte existe ou é só um pensamento. Vamos indo sem saber se para a morte ou para a vida. E levantamos nossos braços, para passar as mãos nas folhas das árvores acima de nossas cabeças, agarrando as folhas, agarrando o que pudermos, enquanto pedalamos. 
    Onde eu comecei e onde eu flui plantada, é onde eu retorno sempre. E me convenço, e me conformo, me conheço. Onde começa e onde termina. Eu sou o inicio e o fim. Enquanto a minha eternidade durar. 




Annabel Laurino 


Quando percebi, estava olhando para as pessoas como se soubesse alguma coisa delas que nem elas mesmas sabiam. Ou então como se as transpassasse. Eram bichos brancos e sujos. Quando as transpassava, via o que tinha sido antes delas, e o que tinha sido antes delas era uma coisa sem cor nem forma, eu podia deixar meus olhos descansarem lá porque eles não se preocupavam em dar nome ou cor ou jeito a nenhuma coisa, era um branco liso e calmo. Mas esse branco liso e calmo me assustava e, quando tentava voltar atrás, começava a ver nas pessoas o que elas não sabiam de si mesmas, e isso era ainda mais terrível. O que elas não sabiam de si era tão assustador que me sentia como se tivesse violado uma sepultura fechada havia vários séculos. A maldição cairia sobre mim: ninguém me perdoaria jamais se soubesse que eu ousara.Ninguém me perdoaria se soubesse que eu sei o que elas são, o que elas eram. Caio Fernando Abreu


domingo, 13 de abril de 2014

Dream a Little Dream Of Me



Ella Fitzgerald & Louis Armstrong 

Sobre bolsos pequenos, sobre não ter espaço para tanto

    O frio chegou. Acordei no final da manhã de domingo com a noticia que estava marcando 14°. Não poderia ficar mais feliz. Voltei para casa, noite escura, sete horas e a lua lá em cima, banhando tudo. É nessas horas que a nostalgia bate e eu me sinto acolhida, dentro do meu casaco preto de bolsos pequenos que só cabem minhas mãos e nada mais.
    Para que eu preciso de bolsos pequenos se eu não poderia colocar neles todas as coisas que eu guardo? Que eu escondo e você nem sabe, é tão furtivo, é o que eu faço, sem ninguém perceber. Como papéis de bala que todo mundo soca na bolsa ou nos bolsos. Eu e as minhas coisas não ditas, eu e os meus papéis de bala amassados.
    Agora sem espaço, eu não tenho aonde por. Engulo no solavanco firme e que dói na garganta que lateja, reclama. Guardar é mais fácil, engolir não.
    Como as lembranças que eu vou guardando, só para depois, sozinha, ficar remoendo. Um fusca azul passa e eu tenho a remota memória de saber o que fazer mas não tem ninguém ao lado, estão ocupados. É uma brincadeira, eu lembro, aquela em que você se vira e bate em alguém por causa do fusca azul. A coisa é essa. Mas a brincadeira não flui. Mantenho as mãos no bolso sem espaço para essa recordação, engulo-a.
    Penso que chegarei em casa e tomarei uma boa caneca de café, dobrarei as roupas, colocarei uma musica para tocar e depois, depois é só o depois que fica longe, bem distante e que eu não preciso pensar.
    Agora, no momento, eu quero meias, quero chocolate, quero filmes antigos e a minha cama. Quero o abraço do favorecimento romântico sem o drama pós filme. Você me entende? Eu sei que não.
    Nessas noites que parecem lânguidas onde o frio beija o nariz da gente, onde as mãos geladas parecem tão finas, tão pequenas, nessas noites cheias e com dias curtos, vezes com sol forte, vezes com chuva branda, eu quero desejar fininho, deitada no chão do meu quarto com a musica ao fundo, a letra ressoando. Estarei cantando junto, assim:  "Just hold me tight and tell me you'll miss me".





Annabel Laurino 


sábado, 12 de abril de 2014

quinta-feira, 10 de abril de 2014

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“Você gosta de como ela te abraça, te entende, te ouve, te beija, te olha. Você acha bonita a forma como ela mexe a colher dentro da panela, amarra o sapato, segura o guarda- chuva, tosse, liga a televisão. Só aquele tom de voz te tranquiliza, só aquele abraço te salva do caos de uma semana infernal.”




 Clarissa Corrêa

terça-feira, 8 de abril de 2014

Rise to The Sun


I feel so homesick
Where's my home
Where I belong
Where I was born
I was told to go
Where the wind would blow
And it blows away - away




    Alabama Shakes 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

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"Eu não sou sentimental - Eu sou tão romântico quanto você. A ideia, você sabe, é que a pessoa sentimental acha que as coisas irão durar para sempre - A pessoa romântica tem a confiança que não durarão."



Este Lado do Paraíso - Scott Fitzgerald 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

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"Qual o sentido de ficar com alguém se essa pessoa não muda sua vida? Disse isso, e Julio estava presente quando disse: que a vida só tinha sentido se a gente encontrasse alguém que mudasse, que destruísse sua vida."





Alejandro Zambra in Bonsai