Não queria estar aqui, sentada no meio do quarto ouvindo o
silêncio obscuro da falta de palavras que me fogem da boca, que escorregam e
somem, quando eu mais preciso.
Pensando bem,
muitas coisas, ou pessoas, somem quando se mais precisa.
Estou pensando nas
coisas que eu mais desejaria no momento e me veio, meio que sem querer, meio
que abruptamente, uma lâmpada acessa e o rosto dele cintilou brilhante no canto
esquecido da memória.
Difícil dizer.
Qualquer coisa que seja. Passou-se tanto tempo, tanto e tanto, que pensar nele é
como pegar um objeto no porão adornado de pó e teias de aranha, rachaduras do
tempo e todas aquelas coisas mais que se acumulam pela falta de lembrança.
Lembrança do toque, do ver, do sentir...
Fiquei sentada um
longo tempo aqui e nada me vinha e de repente me veio ele, assim, de repente. E
lembrei do seu colo amigo, das suas maneiras doces e educadas, do seu afeto, da
sua forma carinhosa e se
mpre tão... Madura.
Sorri. Sem poder
impedir também. Sorri pois tudo que me veio foi doce. E o paladar tornou-se
doce, doce, e tudo que comecei a sentir foi doce também. E depois um pouco
amargo. Não, não foi saudade, não foi arrependimento nem coisas assim, nem
mesmo aquela velha história do “ah, SE eu tivesse feito diferente”.
Foi algo mais como admiração
misturada com um certo sentimento de queria-te-ter-aqui-agora, mas sem ser
saudade. Mais como necessidade latente. Tudo bem, saudade então. Foram bons
momentos, foram boas histórias. Cresci e estou aqui, pensei, sozinha, sempre,
quase sempre, praticamente sempre, sozinha.
Mas foi fato de que
ele me veio, e que permaneceu por um pequeno tempo, daí pensei e pedi pra Deus
que cuide dele, que tenha ele em mãos, e desejei paz, amor, tudo de bom.
Annabel Laurino.