domingo, 30 de outubro de 2011


"Foi muito lindo te ver pela 
primeira vez e pensar, sem 
palavras: eu quero.''














Caio Fernando Abreu

Choro


    E o choro não escorria por suas faces há dias. Simplesmente não saia, não brotava, ficou lá fechado durante horas esperando a hora certa de escapulir, mas nem quando mais doeu o corpo ou o coração ele saiu, foi no silêncio, na lembrança bruta da madrugada languida, do pensamento em saber que se foi, que não volta, que não tem mais jeito, que todo o tempo perdido já foi. E toda a luta, todos os gritos de vitória, todo os momentos insistidos, as esperanças guardadas, todo o esforço, as caminhadas pela manhã, as ligações, os abraços, as cartas, os beijos, as tardes de música, tudo, simplesmente jogado na mão do tempo e dito: “Toma, vai lá, joga em qualquer canto”.
    Não precisava ser assim, por isso talvez tenha doido tanto. Por que não dependia nem mesmo da sua dor, nem do seu choro, nem da vontade de arrancar seus próprios cabelos. Sentava na cadeira do quarto e escrevia sobre infinitos assuntos, mas nenhum assunto era tão desesperado quanto aquele que ficava guardado no fundo do peito. Como nenhuma dor fora tão desesperada assim. Como nenhuma vontade de chorar tão... Tão assim, do nada.
    Nada foi premeditado, logo ela que vivia de planos, lista de afazeres e futuro contado. É, estava cada vez mais certa de que o amor modifica. Destrói barreiras, mexe com a gente, sacode, grita e deixa a gente louco. Amor não é nada dessas coisas que poeta beat tenta passar, não é nada amor ever paz e gatinhos cor de rosa no meio da noite. Amor é coisa bem louca, machuca. Só serve pra deixar a gente magro e sem vida.
   Debruçada no vidro da janela admirava a chuva cair lá fora como uma criança se diverte em ver a avó mexer a massa do bolo na batedeira e colocar delicadamente sobre a forma untada e ajeitada. Deliciava-se no meio do choro ao mesmo tempo que via o tempo lá fora dançar com a sua dor, uma intimidade tangível, meio próxima e distante. 
    De uma coisa sabia, não poderia dizer que por alguma coisa não valera a pena. Pelo menos sabia que havia dado valor, havia lutado da forma mais bonita e honrosa que pode existir, sabia que havia sido entregue.
    Que coisa mais bonita, sorriu. Ser entregue. Ela sabia que tinha sido, tão disposta, tão apaixonada, fizera tudo que pudesse fazer.
    E chorou como quem chora aos soluços meio que pedindo “pare não suporto mais.” As idéias vinham na mente como balões recheados de tintas em neon explodindo no ar. Havia sido verdadeira, mas mesmo assim não fora verdade, apenas o fim.    
    Que desilusão, que pobre coração. Vasculhou os bolsos do casaco e simplesmente não encontrava nada, nem uma carta sua, nem um beijo, nem um te amo recebido e que envelhecido, talvez morto e no fundo do quarto estivesse coberto de pó e que nem mesmo assim, saberia dizer se pelo menos ele, havia sido de verdade.


Annabel Laurino.


sábado, 29 de outubro de 2011

.


    Se alguma vez, por descuido ou coisa assim, ouvir It’s impossible,pense em mim. Ou não. E se a saudade bater, escreva uma carta que pode ser cheia de queixas, ou cheia de sol. Será bemvinda.
   Te gosto para sempre. 




Caio Fernando Abreu



Admito

Que não sejamos idiotas e deixemos o tempo passar. Mas é não sendo idiota e sendo a mulher metida, mimada e crescida antes do tempo que sempre fui que admito que sinto a sua falta. Que tenho vontade de estar perto, de ligar pra você de escutar o som da sua voz, e você dizendo-me as milhares de coisas que eu, nessa coisa insana, também sinto vontade de lhe dizer. Mas como egoísta e orgulhosa, não digo. Por que sofri de mais em meio a essa entrega que em troca nada tive. Por isso engulo essa vontade, choro, não tem problema, mas renuncio, acabo com esse amor, te afasto de mim, e não espero mais nada. Por que sei como você é, sei que você não é capaz e que nunca, nada muda.


Annabel Laurino.

.

‎"E já não dói mais . Mas dá saudade . Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás ."


Caio Fernando Abreu



Clube dos Babacas


Você sente essa acidez mórbida escorrendo pela garganta como se fosse um veneno muito amargo ou coisa assim? Você também sente o coração preso, apertado, como se mãos pequeninas de unhas afiadas e forças nos dedos o expresse como se exprime uma laranja? Bem, então você também deve sentir vontade de gritar, de me ligar, de me dizer mil coisas, de me xingar, de dizer que me odeia, de chorar, e de rir de alivio por ouvir o som da minha voz. Que ótimo. Bem vindo no meu mais exclusivo clube de babacas. Funciona assim: Precisa-se que seja orgulhoso de mais para dizer e expressar sentimentos, idiota de mais a ponto de ceder e de fazer joguinhos infantis não revelando e não falando aquilo que mais da vontade de falar e precisa-se que tenha um coração grande, machucado, revoltado e ferido e que ame muito, mas muito mesmo. A regra é: seja um idiota pro resto da sua vida e se foda nas suas feridas amargas em um sábado a noite enquanto o resto do mundo foi ser feliz e soube o que a gente não sabe. Que pra amar tem que lutar, e isso é o outro requisito do clube, precisa-se ser um medroso total.

Annabel Laurino

.


Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora. Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso. A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam sua falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia alguém mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.

Caio Fernando Abreu


E agora, barra, um dia fui, barra, não sou mais.


    O dia foi bom. Não teve nenhuma subtração ou soma. Nenhum acréssimo na minha sacola de viajem. Nada. Não que tenha faltado oportunidades para rechea-la mais, apenas não quis. Não venho querendo. Trago apenas o essencial, nada mais do que o necessário. E pessoas, bem, não são exatamente o essencial.
    Digo, acordei e vi o céu de meio dia bem pintado e refletido pela janela do quarto, o sol era tão vivo que cegava a vista mesmo se visto de uma direção distante. O ar pungente de verão, calor, febril, a pele suando, o corpo recém desperto ainda cansado, dormente.
    Mas depois de um certo tempo, mesmo assim, o dia melhorou. Como sempre melhora aliás. Incontáveis xícaras de café, mais capítulos escritos, alguns textos, afazeres diários, e etc, etc, etc, blábláblá.
    Depois de tanto me lançar a fundo, depois de tanto querer tocar lá dentro, de mergulhar no desconhecido, me atirar em incertezas, agora eu ando pelas beiradas, na superfície. Entende? Antes o muito era pouco, agora o pouco e muito não me servem mais. É uma medida razoável. Se me sinto bem, então tudo bem. Não conto dias, não conto nem mais as horas que despercebidas correm a solta pelos ponteiros do relógio. Parecem que fogem da seta traiçoeira.
    Sei que não é muito generoso da minha parte ficar assim, tão fria. Mas não é por escolha, é fatalidade.
    Ando como uma jardineira maníaca podando as arvores antes que cresçam, esvaziando o jardim, não aceito, estou seletiva, nego, sou madura, não percebo, não sinto, e praticamente nem ouço. Mas sigo, sigo em frente e quando vejo que mais um dia chegou ao fim, aliviada, tiro meu avental machado de tintas, minhas luvas pesadas, minhas botas de combate, minha máscara protetora, e caminho até a cama, coloco um pijama quente e macio, azul clarinho de preferência, abraço um urso, escovo os cabelos, bem como bonequinha sabe? Daí eu me deito, em posição fetal, e choro durante algum tempo, escuto uma música bem drama-ever-nunca-mais-posso-te-esquecer e depois, bem, depois escorregando pelas bordas, caio em um sono profundo, duro e quente, de lembranças ardentes de alguém que um dia fui, de quem amei, de cenas que vivi, que não voltam mais.


Annabel Laurino.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Silêncio frio, Silêncio denso


    Um lenço caído no piso frio e amadeirado do mais lustroso ao polido, surtiria maior ruído do que esse que se rompe entre nós. Ruído frágil, silêncio obscuro. É uma verdade tangível que aos poucos racha a lona quente que nos coloca um do lado oposto do outro. A diferença é que agora o silêncio denso subterfugia sobre nós, que já não existe mais “nós”. E paro agora, reflito, “Quando foi mesmo que existiu?”. As mágoas são como balinhas coloridas que em chuviscos saltitantes escorregam nas nuvens incrivelmente densas desse silêncio lúgubre e auspicioso. Elas, as balinhas vestidas de mágoas multicores acompanham na dança de salpicos as feridas um dia marcadas, as dores partidas, as brigas remediadas, as doses não medidas.
    É meio como entrar em um vácuo constante. Ninguém escuta nada e como uma queda negra a menor e mais fina agulha caída no chão tornaria-se um barulho e tanto em meio a esse silêncio.
    Por que silêncio mesmo, é que se rompe. Rompem-se todas as coisas que um dia foram verdadeiras, e restam-nos as duvidas. Oh sim as duvidas... Se já não bastasse o silêncio e agora mais as duvidas.
    Porém já não posso dizer que sinto alguma coisa. É verdade que nem se quer ouço. É meio como partir silenciosamente na calada da noite sem ninguém perceber. Foi melhor assim, eu prefiro que seja dessa forma. Não gosto de dizer adeus e de todas as vezes que já disse, instantes depois eu voltava, corria para teus braços e chorava em teus ombros quentes amaciando seus cabelos e beijando seus lábios. Porém, agora prefiro que seja assim, prefiro partir sem deixar rastros e nem bilhetes e nem nada que posso marcar o dia em que realmente esse silêncio... Se adornou de... Eu... Você.
    Prefiro que seja como uma música, que quando lentamente é chegada a hora final e os instrumentos vão encerrando suas notas, a orquestra torna-se mais preguiçosa, mais calma, mais branda, e densamente, silenciosamente, você sente, a sim, você sente, que aos poucos, mesmo que você não queira, a música simplesmente chega ao fim. E com a maestria clássica de um bom maestro que age sobre o tempo, a paisagem toma conta de nossos olhos cansados e tudo que vemos, silêncio, sim, ah o silêncio, por que sobra-te este, agora que não existe mais nada.

Annabel laurino.

.


Eu desisti. Desisti de tudo que eu mais queria, daquilo que eu mais desejava. O coração palpitava de vontade, mas eu resisti e desisti. E desistirei sempre for que necessário, sempre que eu estiver perto do fundo do poço. Depois do não, depois do ‘fim’, desejei que Deus me dê forças e fé, muita fé para continuar. Porque não vale à pena, não compensa. Porque tem pessoas que não valem à pena.

Caio F. Abreu


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

.


O escritor é uma das criaturas mais neuróticas que existem: ele não sabe viver ao vivo, ele vive através de reflexos, espelhos, imagens, palavras. O não-real, o não-palpável. Você me dizia “que diferença entre você e um livro seu”. Eu não sou o que escrevo ou sim, mas de muitos jeitos. Alguns estranhos. 
(Caio Fernando Abreu)


2 da manhã

    Nossa, são duas e meia da manhã e eu ainda estou aqui, sentada na cadeira do quarto, digitando freneticamente nos teclados desse computador lento e ultrapassado. Escuto música e penso, Beatles não é maravilhoso?
    Pode até ser, mas que seja, estou tentando fugir nesse exato momento. Talvez de mim, desse coração traidor, dessa vontade insana de deletar algumas coisas, pessoas... Vontade de não viver mais aqui, de viajar. Sabe como é, colocar as roupas e os livros em uma mala qualquer, escrever um breve e rápido recado e depois “Mundo ai vou eu”. No melhor estilo Thelma e Louise. O que que tem? Não ria. Eu sou assim. Não é uma mascara não, eu sou assim mesmo. Sou muito doida, muito viciada... Mas não quero falar de mim.
    Sabe que eu canso de mim? É canso mesmo. As vezes fico com uma puta de uma vontade de me pegar, dobrar em milhares de vezes muito bem dobradas, passada, colocada em uma sacola e dizer pra alguém ai, “toma, pega e some, leva, não quero mais.”. Porque nem eu me aturo, é complicado, sou complicada, mas quem não é?
    Hoje o dia foi muito bom, as coisas parecem fáceis, nada sinto. De um lado da vida tudo parece pronto, fácil, é só caminhar e pegar, “seja feliz criança e se divirta”! Porém de outro é como, “cuidado, com calma... Com calma...Olha ai o buraco!”. Se estou fazendo certo, se estou sabendo como agir, não sei, não tem como saber.
     Continuo vendo sempre as mesmas coisas, só mudou o modo de se ver. Como tem que mudar, aliás. To começando umas coisas novas, meio ao estilo Hepburn, não desista, veja, seja forte, e inove! A vida te surpreende e de repente, quem diria, ein?
    Algumas coisas você gosta por que aprende a gostar, como... Ir para a escola, convenhamos, quem gosta? Mas daí você conhece amigos, conhece coisas legais, unindo o útil ao agradável e pronto baby, não se estressa.
   Mas, nem tudo é assim. Ou talvez seja. Preciso refletir sobre isso e vou tentar descobrir, vou começar a desligar o telefone e me afogar em mágoas em outros corpos, outros beijos e ver como fica essa vida doida, que de loucura eu já to até os tubos. Mas é assim mesmo, passei por aqui pra dizer que não ta fácil, mas não to afim de melancolia, chega de melancolia, chega de chorar, chega de sofrer, chega, chega! Nem que eu passe um batom bem vermelho, uma meia calça bem apertada em cima de um salto doze e entre em um táxi as três da matina com as amigas mais piradas que eu encontrar, eu esqueço essa dor, ah sim, eu esqueço.
     Mas que dor mesmo?  
      Porra. Eu não tava falando da droga do dia?
 
Annabel Laurino.



Escrevendo, eu falo pra caralho, não é? (C.F.A)

.

"(...)Claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodka, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah não se preocupe, meu bem, depois que você sair tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto, gin-seng e lexotan,depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a ban-chá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro numa esquina ou ligo para o CVV às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas do tipo preciso-tanto-de-uma-razão-para-viver-e-sei-que-esta-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá, até o sol pintar atrás daqueles edifícios, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais destrutiva que insistir sem fé nenhuma?”


Caio Fernando Abreu

.


O tempo que passamos juntos vai ficar pra sempre
Intimidade, brincadeiras, só a gente entende...


 (Darvin - Pensa em mim)



quarta-feira, 26 de outubro de 2011


"Diante de mim havia duas estradas;
Eu escolhi a menos percorrida
E isso fez toda a diferença."

Robert Frost

Sentido


    Não é que a vida deixou de ser legal. Ela só esta meio que desconexa agora. É meio como olhar a vida pela janela e o vidro estar muito embaçado. Quase não consigo ver nada e definir coisas, pessoas, paisagens, não da. Mas tudo bem. Ando ouvindo bem. Agora. Ando prestando atenção nos sinais, nas conotações de rastros que antes eram jogados para trás, para os lados, ignorados. Aprendi uma coisa muito importante esses dias.
    Foi algo muito simples, nunca talvez, tenha sido tão fácil. Cheguei bem perto do espelho e me olhei. Admirei esses olhos redondos que mal defino cor, não sei castanhos, não sei verdes, não sei, mas os admirei, pelo brilho, pela sinceridade, não sei... Mas, era tão eu. A pele envolta do rosto, dos ombros pequenos e nus, os lábios, tudo tão carnalmente e ao mesmo tempo, não. Meio como a gente começar a amar a gente mesmo, a gostar desses nossos defeitos, dessas nossas manias. E gostei de ver isso. Nunca tinha me visto assim.
    Perceber isso me deu uma doida vontade de sorrir. Quantas vezes não parei sozinha no quarto querendo saber por quem eu lutaria se agora eu já não tinha mais ele, por que não podia mais ter? E ao me ver no espelho, tão branca e macia, tão jovem e tão cheia de vida,  redescobri milhares de pigmentos importantes. Um deles gritou assim: “Ei menina, não é lutar por alguém, é lutar por você!”. E sabe, faz total sentido agora. Quanto tempo faz que eu não luto por mim?


Annabel Laurino.

Novos...


    Meus novos amores são, o café, muita Música, a minha adorável cama, um bom computador para jorrar minha consternação nervosa que às vezes, insiste em surgir por aqui. Logo vêm meus livros, meus mundos mágicos encorpados de sabedoria de que me recheio e me delicio constantemente. E claro, amigos. Quem não precisa deles? Para alguém como eu, que antes pequenina possuía muitos diários, meus amigos são como uma espécie viva deles. Confortam-me, me divertem e muito melhor que tudo, eu levo para a vida toda.

Annabel Laurino.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cansada.

E de repente você fica tão, tão cansada. Qualquer coisa cansa. Adivinhar, perguntar, falar, repetir as mesmas questões. Tudo. Até mesmo você se cansa da pessoa em si. Do cheiro, do riso, das coisas que antes eram legais. As coisas vão desbotando aos poucos, de uma forma desenfreada, a culpa nem é sua, você nem se quer deu permissão. Tentar para que isso não aconteça é quase que sem valor algum. As gotas de paciência escorrem água abaixo e você se vê gritando, esmurrando e depois um silêncio mordaz. Tudo some. Todas as coisas de valor, tudo fica branco, sem cor, sem som, sem nada. Você se vê diante do zero. E tudo, bem, tudo virou nada.

Annabel Laurino.

.


Nossa, o dia está tão bonito que dá até vontade de sair na rua, respirar fundo e se jogar debaixo de um ônibus. 
Pc Siqueira


.

Suas atitudes não condizem com o que as suas 

palavras me dizem.



Annabel Laurino.

...



"Como se pra gostar de alguma coisa ela tivesse que ser perfeita."
 
Pc Siqueira





.




Não importa quanto vá durar: É infinito agora.
  

                                                          (Caio Fernando Abreu)



beije-me


Me pega de jeito. Me faz carinho. Vem de Mansinho. Coloque seu dedo sobre meus lábios macios e peça silêncio. Diga assim: Querida descobri que te amo. Vem assim. Sem dizer, sem avisar. Me tire o fôlego. Me deixe sonsa, sem ar. Diga que sempre procurou por mim, que sempre me quis, que agora que estou aqui, é assim, é a hora. Pegue meu rosto entre suas mãos quentes e olhe-me, deixe eu me perder nesses seus olhos, nesses seus incríveis olhos que não consigo traduzir cor. Me beije, peça. Me beije, que eu te beijo.
 Beije-me, direi. Beije-me, agora, essa é a hora.

Annabel Laurino

domingo, 23 de outubro de 2011

A vida é Frágil e Absurda


    Onde foi que eu li isso?
    Eu não lembro.
   Mas que seja...
    Você acorda, você dorme, as coisas seguem, os relógios acompanham o passo da pressa do dia a dia, você não vê as coisas passarem, é inverno é verão o cenário muda você está sempre lá, sentado sobre uma cadeira gelada, desligando-se das folhas que apinham-se no chão a sua volta, as crianças brincam no parque, o som das falas se misturam as batidas se seu coração solitário e frio, a desenvoltura do momento morreu e um botão que antes era ligado á uma luz que pendia a vida, a noção das cores e dos sentimentos está empoeirado dentro de você. Sem nunca mais ter sido tocado, nunca mais ter sido visto.
   Mas a vida é frágil. Porém absurda.
    Você está lá sentado sobre a cadeira fria, o céu nublasse acima de sua cabeça cheia de pensamentos perdidos e sem nexo, o céu gira com rabiscos de frio e granizo, daí uma coisa absurda acontece.
   O botão dentro de você é arremessado longe, muito longe, para onde seus olhos não podem ver. Ele é cruelmente apertado, instigado por mãos puras e destinadas a isso, você corre e corre e não alcança. Nos relógios, os ponteiros parecem correr mais rápidos mais dessa vez no sentido certo e favorável. As cores explodem no ar como pequenas balinhas de multicor sendo misturadas ao sol. Daí é assim, as mãos puras possuem corpo, incríveis olhos brilhantes e afáveis, e um coração tão mais solitário que o seu.
   Eu digo absurdo por que é incrível o caminho que a coisa vai.
   Sua mão possui outra mão agora quente sobre o calor das cores que lhes envolvem, e mesmo que um dia um borrão cinza transpasse o céu, você terá um corpo tão mais sedento e cheio de sabedoria tal igual ao seu, e já não se sentira mais tão só.
  
Annabel Laurino. 

.


sábado, 22 de outubro de 2011

.


"Eu me sinto às vezes tão frágil, queria me debruçar em alguém, em alguma coisa. Alguma segurança. Invento historinhas para mim mesmo, o tempo todo, me conformo, me dou força. Mas a sensação de estar sozinho não me larga."

    Caio Fernando Abreu.

.


    Não sei por que estou chorando. De repente bateu uma tristeza tão grande. Como uma coberta quente e pesada, jogou-se sobre mim. Não pude negar, na verdade nem tive tempo. Só comecei a chorar, e chorei e chorei. Por tudo talvez, por saber que não volta mais, por saber que tudo mudou. Que de alguma forma eu mudei, e não sei se gosto de como estou agora, de como as coisas estão. Agora que vejo o quebra-cabeça montado a minha frente, concluo que não me agrado do que eu vejo. Não gosto nem mesmo do que vejo quando me olho no espelho. Da proporção do brilho desses olhos de ressaca, olhos amargos, não gosto de como olham pra mim. Choro, por que sinto sua falta, e sinto falta de um carinho, um colo que ninguém da, um abraço que ninguém dispõe a estender seus braços e me envolver. Choro por que penso que preciso ser amada, mesmo quando eu menos mereça, por que é assim que deve ser, ser amada quando eu for uma idiota, uma burra, por que eu sou humana, eu erro também. Foi assim que sempre te amei, aceitando seus erros. E por que não agora comigo também? Seria isso uma resposta? Você não me ama? Choro. Engulo a verdade e choro ainda mais. Ta sendo um dia difícil, um dia que podia ter sido bom, fácil, calmo, assim podia ter sido, mas se tornou terrível, está quase que sendo... Péssimo, algo assim.

Annabel Laurino.

.


    Hoje eu não quero falar com ninguém. Quero ficar aqui, quieta e só. Ultimamente é muita gente falando comigo, pedindo atenção, pedindo o calor do meu corpo, o riso dos meus lábios, se não o gosto deles, e até meus sentimentos. Querem que como um pedaço de pão eu reparta a mim e saia por ai me doando, me despedaçando em flancos pedaços e depois ficando com o que mesmo? Dedos trabalhando sobre um teclado. Não quero ver ninguém. As pessoas me cansam. São elas o grande motivos de minhas consternações. Sou sempre muito forte, sempre sirvo como fonte de escape e quando acho que encontrei alguém forte pelo meio do caminho, alguém que seria tão capaz de me amar como ninguém mais e tão capaz de lutar por mim, ela arranca meus pedaços, me cobre de duvidas, de decepções e parte, vai embora, não deixa nada, a não ser memórias. Que eu vou tilintando com a ponta dos dedos sobre o teclado frio. Mas esta tudo bem. Eu só não quero ver ninguém. Não quero olhar fundo nos olhos de ninguém e nem ser tocada, por favor, repito, não me toque. Não quero ninguém olhando para mim também, por favor, não me repare. Finja que só estou aqui, que passo como um vento ameno de um canto a outro do quarto, mas não me observe, não guarde nada, não se interesse por mim, não tente me ter, não tente gostar das minhas imperfeições detalhes, não ache meu cabelo legal, não goste do meu visual e nem das minhas roupas, não goste de mim, pronto. Simplesmente não vá com a minha cara. Me deixe ir, não me toque, não me puxe, não me veja, me deixe inteira. Não quero ver ninguém.

Annabel Laurino.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

bobagem.


Liguei. É verdade liguei. Foi um impulso, uma saudade desesperadora. De repente os velhos tempos afloraram na minha mente e eu não resisti, não me contive. Liguei, esquecendo tudo que você me fez, as suas infantilidades á tarde, das suas bobagens, seu orgulho prepotente, esqueci. Mas agora não ligo mais, foi idiotice. Uma mera bobagem de repente achar que você iria dizer tudo que eu queria ouvir na ligação, que você ia me procurar como eu te procurava mesmo sem saber se você estava afim, se, só pra variar, você ia se arriscar e se jogar sobre mim. Você não fez nada disso, que novidade. Não ligo mais, to precisando de distância sua, to vendo que vou fazer bobagem, se é que já não to fazendo. Mas é isso, você me machuca, me retém, me deixa pirada, chega, to jogando tudo pro alto.

Annabel Laurino.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

.

E repito constantemente: Somos tolos, somos dois tolos que sofremos infantilmente e que cultivamos essa dor dias após dia. Você esconde suas espadas, adorna o peito de uma constante fuga secreta para não ter que encarar problemas, discussões... Enquanto eu, bem, como sempre, meio desvairada, saio urrando sons de luta, saio querendo que tudo de certo, querendo que as coisas se ajeitem de um modo ou de outro e dando nome á tudo, sentimentos, momentos... Sem nem mais saber que, nos perdemos. Não temos nome, possuímos apenas algum sentimento nomeável que se registra por "amor". Registra-se apenas, por que no englobamento de multicores de como colore e acontece dentro da gente, bem querido, fica difícil de explicar... Talvez essa seja a grande chave do segredo. É muito amor pra desistir de nós.

Annabel Laurino.


"Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer? Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso, perdido, sozinho, minha única certeza é que de cada vez aumenta ainda mais minha necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente. Eu já não sei o que faço. Não sinto nenhuma alegria além de ti. Como pude cair assim nesse fundo poço? Quando foi que me desequilibrei? Não quero me afogar: Quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara"

Caio Fernando Abreu.

.


“Você é um idiota. É um babaca cretino e sabe disso. Você frustra todas as expectativas que eu já tive em relação à alguém pra mim. E mesmo assim é em você que eu penso, é de você que eu gosto, é pra você que eu volto… sempre.”

Caio F Abreu

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

.

Eu sei que dói. É horrível. 

(c.f.a)



    Acabaram-se os dias de alegria, as regurgitações nervosas no peito, as palpitações de euforia latejando nas palmas das mãos suadas, os sorrisos envergonhados, roubados, os beijos, os amassos. Lá se foram as ligações no meio da madrugada, sobre assuntos quentes, vezes por expressão de duvidas vertiginosas, ansiedades, mágoas não comentadas.
    Ficaremos estampados em porta-retratos e fotos guardadas no computador. Eu e você, um ao lado do outro, sorrindo. Guardaremos conosco dias chuvosos, tardes ventanosas, dias alegres e por vezes, quem sabe sempre, o nosso amor aprofundado no brilho dos olhos enquanto se soava o clique da foto.
  Seram guardados os cheiros, o toque dos fios de cabelos, o encontro dos corpos, os beijos ansiosos e famintos. Nos guardaremos na memória. Em uma caixinha secreta, quem sabe. Mas nos guardaremos.
   Afinal, essas coisas não se esquecem assim. Não é sempre que se tem um amigo e depois descobre nele um amor. Não é todo dia que se entende o que é amar, se apaixonar e ver aquela coisa insana crescer dentro da gente. Não é sempre que aprendemos a lidar com a dor, com a saudade, e driblar o egoísmo humano que muitas vezes fala mais alto.
   Eu aprendi isso, aprendi que não posso pedir de você mais do que você pode me dar. Que não posso mudar ninguém, muito menos você. Não posso obrigá-lo a ser aquilo que não és e fazer aquilo que vai da além da sua capacidade de lhe ser. Por isso parto. Carrego na mão algumas fotos, músicas, imagens e sensações de sua presença sempre ao meu lado. Guardo seu riso, sua voz e você sussurando baixinho “amor.”. E quando lembro-me na metade do caminho de que dizias que me amavas, não sei se acredito, se realmente faz diferença acreditar ou não, mas sustento essa frase e repito de imediato: “Oras, eu também te amo.”
   Por isso, parto.

Annabel Laurino. 

.


A porta azul ainda estará aberta. A maçaneta cor de rosa ainda clicará fácil quando você for forçá-la. Ela clicará e você poderá abri-la e entrar. O tapete verde mar ainda estará levando-o para o mesmo lugar, flores amarelas e azuis estarão nos vasos brancos, onde você deixou antes de sair. Os quadros de molduras em neon estarão gritando no corredor, o piano estará tocando sozinho, nenhuma figura estará dedilhando o teclado empoeirado que você deixou para trás. Quando partiu. Minha boca seca estará gritando, a pele nervosa e rachada estará suplicando. Não, água não. A fonte que mata a sede está em outro lugar, outro corpo. Seus passos aumentam no lugar, suas pegadas macias e pesadas sobem a escada branca, seu corpo esguio sobe e sobe. Já posso escutar.
 Minhas mãos pingam de suor, eu posso ouvir. Meus ouvidos se aguçam. Meus olhos entre a tempestade de luz que golpeia da janela se afirmam na reentrância e afinam o foco. Um suspiro lento como um golpe no ar sopra dos meus lábios rachados causando dor e ardência. Vejo sua moldura alta, a forma brilhante de seu corpo branco. Seus olhos brilham no sol. Suas mãos nos bolsos, sua boca vermelha e úmida. Até que enfim, você chegou.

   Annabel Laurino.

Adaga


    Então, – como sempre começa uma história horrível e trágica – ela empurrou a adaga. Simples. Apertou firme contra o próprio peito, sem sentir dor. Tamanha dor já fora no inicio, agora, espalhada pelo seu corpo, tomando-a por inteiro, a dor era quase uma sensação de uma coberta cálida e venenosa, a tapando inteiramente.
    Lágrimas não sobrepujavam para fora de seus pequeninos olhos brilhantes, nem mesmo uma gotícula úmida. Nada. Eram vazios e não capturados, vagos, meio caídos, como em repouso, duas orbitas brilhantes, sem sombra de vida, brilhavam por pura fatalidade de um brilho seu.
    Ela continuou ali, parada, no frio, apontando a adaga gélida e fina, afiada e dura, contra seu próprio pequeno corpo macio.
    Ela pensava em milhares de coisas.
    Por que estava fazendo isso afinal?
    Partir era, na sua opinião, uma coisa muito tola de se fazer.
    Na verdade, nessa hora da história, deve-se dizer que não existe adaga alguma, só para esclarecer. Ela não era louca, não iria afinar o próprio corpo na esperança mutua de trazê-lo de volta. Não iria adiantar.
   A adaga fria, fina, afiada e dura, é só algo vago que preciso dar nome, um conjunto de sentimentos, uma situação venerosa, o arrebatamento da alma da própria moça.
   Mas é verdade que estava frio. E que ela sofria, embora dor alguma sentisse e nenhuma lágrima escapulisse brilhante para fora de seus olhos.
    Seus lábios crisparam-se, secos em vida. Ela, que tanto esperava da vida, agora não esperava mais nada. Sentou-se na areia sentindo os grãos quentes e tostados do sol arranharem em sua pele, sentiu uma brisa vinda de longe cortejar seu rosto e depois não sentia quase nada. Somente o sol, o dia, a movimentação das cores, as conotações das luzes e o movimento do ar, das nuvens acima e os pássaros voando ao longe.
    Havia tanta gente, para todo lado que se olhasse. Gente aqui, gente ali. Ela se perguntou se havia ele no meio de tanta gente. Seu coração frágil ribombou no peito e depois saracoteou na esperança cálida querendo fervilhar no mesmo instante.
    Não, repreendeu-se.
    Tirou uma foto da bolsa, a foto dele. Queria chorar, mas lágrimas não lhe vinham, assim como muitas coisas já não lhe vinham mais.
    Como palavras, ou como doces e alegria. Nada vinha. Sentia-se a espera de coisas que jamais iriam chegar. Coisas como os planos que fizera com ele.
    Ah sim, ela havia feito muitos planos. E alguns ela nunca comentou com ninguém. São aqueles planos que se faz quando se está só. Deitada na cama, mexendo nos cabelos bagunçados e escutando o som da chuva, ela pensava e imaginava os dois juntos, os dias perfeitos, as tardes languidas, as coisas certas, as brigas que depois iriam se acertar, o fim do incerto e da insegurança sem fim, os dias em que passariam rápido deixando rastros do quero mais.
    Milhares de coisas assomaram em sua mente enquanto segurava aquela foto. Droga, ele nem sabia daquela foto.
    Mas ela a tinha.
    A tinha como milhares de coisas que possuía e ele não sabia. Milhares delas, fragmentos de sentimentos dolorosos que nunca chegou a lhe contar, sonhos e seus planos, e alguns segredos de cá e de lá.
    De repente uma coisa bruta se chocou contra seu peito e uma avalanche de emoções lhe cobriu como uma nevoa embaçada e mórbida.
    Pronto.
    O medo, a solidão e o desespero lhe preencheram até as solas dos pequenos pés.
    Estava perdendo-o, para a vida, para os caminhos do destino, para a fatalidade do tempo e do momento, para tudo e para seja lá mais o que que tivesse uma força tão maior do que ela pudesse citar.
    Dor e magoa.
    Chorou.
    Sentiu as lágrimas sendo arrancadas a força e de repente a ardência em seus olhos lhe fez chorar mais e mais e tão mais não chorava com força, chorava entregue. Entregava-se em cada soluço, em cada pedaço que sentia das lembranças sendo mortas a facadas lentas na sua mente fresca.
    Tudo que ela pensava era nos dois juntos. Nos momentos bons, nos sentidos, na ausência, na saudade do seu corpo, do seu calor, dos seus pelos, seu rosto, seu gosto, tudo lhe arfava fortemente, a destruindo.
Então a adaga estava lá, girava contra seu pequeno corpo e a dor era insuportável.
Mais lagrimas tremidas. Mais café quente e amargo. Mais dor, mais saudade. Mais um fim.

Annabel Laurino.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

.


2 Bicudos


Quando eu te vi andava tão desprevenido
Que nem ouvi tocar o alarme de perigo
E você foi me conquistando devagar
Quando notei já não tinha como recuar
E foi assim que nos juntamos distraídos
Que no começo tudo é muito divertido
Mas sempre tinha um amigo pra falar
Que o nosso amor nunca foi feito pra durar
Por mais que eu durma eu não descanso
Por mais que eu corra eu não te alcanço
Mas não tem jeito eu não sei como esperar
Desesperar também não vou
Não vou deixar você passar
Como água escorrendo nos dedos
Fluindo pra outro lugar
Ninguém pode negar que o nosso amor é tudo
Tudo que pode acontecer com dois bicudos
Não são tão poucas as arestas pra aparar
Mas é que o meu desejo não deseja se calar
Até os erros já parecem ter sentido
Não sei se eu traí primeiro ou fui traído
Não te pedi uma conduta exemplar
Mas é que a sua ausência é o que me dói no calcanhar.

Ana Carolina

Bons tempos quando...


    Bons tempos quando me deleitava como uma pétala vazia e seca sobre a cama quente e solitária. Bons tempos quando a mente nada guardava e o coração era apenas um compartimento que preenchia-se de lembranças, bons momentos, amigos e família. Amor com linha marcada. Nada tão ultrapassado assim.
   Ninguém perfurava a minha bolha indiferente e ninguém me tocava, cutucando lá dentro as coisas mais secretamente envolvidas dentro de mim.
    Agora é como correr contra o tempo, arrancar pedaços das paredes, chorar pelos cantos, soltar suspiros e pedir milagres sem fim. É como morder um pedaço de uma trufa, fechar os olhos e sentir o sabor, quando abri-los descobrir-se louco e insano, vertiginosamente viciado na trufa, até entender que ela, a pequena a trufa, é minúscula de mais para satisfazer tanta devoção e vicio.
   Que culpa tem a pobre trufa? Culpa tenho eu que não resisti em mordê-la, em comer seus flancos pedaços gostosos que multiplicavam-se gostosamente em picadelas agudas derretendo na ponta da minha língua quente, cada toque vaporosamente mais forte, mais preso, mais tocável e sentido. Não podendo fugir, sensações brutas latejando sem parar. Como sair disso? Desse englobamento colossal e reticular nervoso que só me recria e cria, me cola e me puxa em sabor, calor...
   Bons tempos... É verdade. Quando não sentia nada. Pesada feito pedra, fina e seca como papel. Me divertia solitariamente em colar figuras alegres nas paredes do meu quarto, dormir tranqüila no ressoar da noite, deitar a cabeça no travesseiro e só pensar no que fazer do outro dia, do quão legal foi ler determinado livro e o quanto a tarde de domingo foi divertida tomando café e rindo com as amigas...
   Puft.
   Algo estourou e me vejo perdida. Com uma trufa quente nas mãos e um gosto agridoce na boca espalhando-se com urgência para determinadamente todos os lugares de mim. Não sei mais o que fazer. Não consigo lhe tirar de mim.

Annabel Laurino.

domingo, 16 de outubro de 2011

Concluo...


Concluo que preciso viver. Agora, nesse momento, sem depois, sem amarras, sem presa, sem partida, sem repartições também. Nada de metades mal resolvidas e nem duvidas corrosivas, preciso viver. Simples, fácil, é uma idéia. Concluo sem saber que viver talvez seja a parte mais dolorosa de concluir viver só, viver assim, sem você.

Annabel Laurino.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

.

Que situação mais contraditória essa. E me pergunto: Até quando? Você gostaria de me ver partir, se ver sofrer?

annabellaurino.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

.

Cuidado menino: Corações apaixonados ferem rápido.


annabellaurino.
Mastiguei. Mastiguei. O que na verdade eu mastigava mesmo? 
Não sei.
O gosto doce da maça sendo despedaçada lentamente na boca, ou o que recém era lido, não sei. 
Você, você dizendo, deixando claro. Aquilo que eu mais esperava. Você dizendo que me amava, assim, tão abertamente.
Afinal, há mesmo como definir esse sabor?
Era doce. Doce. É tudo que eu consigo dizer.

Annabel Laurino.



segunda-feira, 10 de outubro de 2011

.

“Não, não ofereço perigo algum: sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro, sou definida e clara como o jarro com a bacia de ágata no canto do quarto - se tomada com cuidado, verto água límpida sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto mas, se tocada por dedos bruscos num segundo me estilhaço em cacos, me esfarelo em poeira dourada."



Caio Fernando Abreu, Morangos Mofados



domingo, 9 de outubro de 2011

                                                                      (C.F.A)

.


Depois que aquela pessoa se torna essencial, depois que sua vida não é mais a mesma sem ela. Como se faz para retira-la de lá? Digo, lá, do coração, da memória, das fotos, dos beijos, do seu corpo, e das sensações brutas que insistem em latejar. Saudade, aquela ardência vertiginosa de desejo indesejável não permitido.

Annabel Laurino.

You and Me.


    Vamos nos casar. Isso é certo. Não importa o que aconteça até lá. Mas vamos nos casar e vamos morar naquela casa de que você me contou afirmando que seria maravilhosa para nós dois. Vamos acordar todos os dias com os cabelos bagunçados. Eu com o meu jeito insano e despertado, você com seu lado preguiçoso, fazendo protestos para te deixar dormir mais um pouco, mas vou me jogar sobre seu corpo, vou lhe beijar e te sentir despertar aos poucos. Vamos rir juntos. Vai ser tudo tão intimo, vamos estar acostumados. Vou fazer manha, te pedir para me trazer café na cama, aquele café bem forte e quente. Você vai me dizer que sou o carma da sua vida mas que mesmo assim me ama.
    Te esperarei chegar do trabalho. Vou escutar você jogando a pasta na mesa de entrada, vou imaginá-lo afrouxando a gravata e irei correndo me jogar nos seus braços, tirarei suas roupas e te preparei um banho quente escutando você me contar como foi seu dia, enquanto baixinho vou sussurrar que senti muito a sua falta.
    Seremos organizados, teremos um cachorro, brigaremos sobre a cor das paredes, sobre a melhor forma de fazer o jantar, iremos nos beijar na soleira da porta, nossos vizinhos vão protestar. Seremos malucos, certinhos. Você vai ler o jornal sentado á mesa da cozinha enquanto perpasso a minha perna na sua perna pedindo sua atenção. Você vai dizer que é louco por mim, vou dizer que não vivo sem você. Teremos um jardim de rosas, que regaremos juntos, e nosso cachorro será a primeira peça de uma família inteira que construiremos juntos. E depois de muitos anos, sentados á varanda, vamos ver nossos filhos brincar lá fora, e diremos um para o outro, que sim, valeu a pena lutar.


Annabel Laurino.


Madness!


    É esta todo mundo pirado. Todo mundo correndo para todos os lados.
    E Cadê a carta? Aquela que todo mundo espera, para aquela prova louca da qual devemos passar e que vai decidir as nossas vidas por um ano, ou talvez, por toda a sua vida. O que fazer? Estudar anos a fio em uma faculdade da cidade pequena, escutando todo mundo dizendo que você deve fazer? Ou pegamos uma mochila e viajamos o mundo, sem dinheiro algum, tipo, saindo por ai meio que sem rumo?
  Não tão literalmente talvez. Ok.
  Que tal trabalhar como barista naquele café em Sampa, ou sei lá, ir pro Rio, você lembra daquela sua tia que mora lá? Então, pode ser legal. Você pode descobrir o que fazer daqui uns cinco anos quando todos os seus amigos já estiverem formados e tomando whisky em suas festas de formatura fazendo uma social para as fotos com cara de chapados depois de noites insanas sem dormir por causa do nervosismo.
    Você pode dizer que não esta nem ai, talvez não esteja mesmo, talvez você só não quer admitir que se você disser que esta, você não saberia dizer quais são os seus planos, por que na verdade você não tem nenhum.
    Mas quem se importa?
    Ta na hora de fazer o que quiser, as oportunidades são imensas. Quem disse que você tem que ficar nessa cidade até morrer e criar seus filhos para freqüentarem a mesma escola que você? Quem foi que disse que você tem que ir pra faculdade, colocar um jaleco, ser médico e fingir que é importante, quando tudo que você queria era estar na praia azarando aquelas gostosas do terceiro ano da escola que sempre acharam você um saco? 
    Eu já nem respondo mais. Não ligo se uma carta do correio chega ou não. Os dias não passam mais do que contados. Sirvo-me de café, sento-me a mesa, ligo o computador e escrevo. Se me perguntarem o que eu quero fazer depois que o terceiro ano acabar eu vou dizer assim: “Olha cara, sabe de uma coisa, quando essa droga toda acabar eu vou sentar e beber muito café, muito mesmo, vou pegar uma mochila e vou pra algum lugar, qualquer lugar, e vou passar a minha vida toda escrevendo, quem sabe você topa comigo por ai, me vê na televisão, quem sabe? Vai ver eu me torno a maior revolucionária de alguma coisa insana que as pessoas vão julgar importante, ou talvez eu me torne a maior mané da história e depois de alguns anos eu veja todos os meus amigos se formarem na faculdade enquanto eu vou estar com pilhas de xícaras de café do lado e um romance clichê inacabado na estante do meu quarto. Mas na verdade, quem liga mesmo? Eu estou aqui pra viver, e você?”

Annabel Laurino.

It's a question...


    Dizem que as conotações do dia influenciam no seu humor. Dizem que a chuva o deixa mais dormente, meio largado, jogado sobre o sofá sem saber o que fazer. É estranho, você se diz jovem e irado, diz que não teme a nada, que coisa alguma o impede de ser feliz. Mas o tédio esta sempre impedindo você. Se diz corajoso, dono de uma boa mente, mas deixa o medo não permitir você de lutar.
    O que está havendo?
    Quando o sol surge, você diz que ama o sol, mas se esconde nas sombras reclamando do calor que o faz suar. O café é sua bebida favorita, refrigerante nem pensar, carnes não entram na sua geladeira, mas você adora falar com os amigos sobre novas formas de assar e tostar uma carne naquele churrasco de final de semana que toda a galera vai.
    É estranho. O que esta havendo?
    A música rola a solta, todo mundo bebe, menos você. Mas que consternação, você começa a beber. Vai contra seus princípios, que droga. Mas você não esta nem ai.
    O que é afinal?
    Rebeldia exagerada, chamam assim. Sua mãe diz “nessa idade...”, você já nem ouve mais.
    Não é isso, você tem certeza. É algo mais.
    Você mastiga a ponta da língua afirmando a procura aguçada de respostas. Você chora por que teme ser um estranho desconexo do qual só você mesmo inventou.
    Cai na real, fingimento afinal, não é legal. Você teme, você pensa.
    As coisas são estranhas, você é você. Ou não é mais? Afinal quem é você?

Annabel Laurino.

Wonderful World, vai se chamar assim...


Não fala nada. Não tem mais o que dizer. Estou aqui, e você também. Qualquer segundo a mais é muita sede e qualquer sede é um engasgo nesse tempo que nunca passa. To te querendo muito. Não ta fácil. Te quero agora, sem depois. Sem os antes que já ultrapassados e amassados joguei pelos cantos do quarto. Quero agarrar-me ao teu corpo e permanecer, sair por ai com você, sorrindo. Quero pra agora, pra muito, pra mais, eu quero a gente, eu quero você. Quero te comprimir junto do meu corpo, resvalar emoções, provar sabores e descobrir um mundo completamente novo, repartir lembranças, acender memórias e recriar um quadro, quero inventar cores e tingir o mundo. Nosso mundo. Vou chamá-lo da forma mais clichê que consigo encontrar, mas vais ser doce, incrivelmente doce e vai ter cheiro de café... Wonderful World. Eu e você.

Annabel Laurino

sábado, 8 de outubro de 2011

.

Poxa, e eu que pensei que essas coisas só aconteciam em filmes.

The O.C.

...


Um café quente estendido pela mesa, uma carta recém escrita, uma caneta entupida de tinta preta, uma memória acesa e ela já não se sentia mais tão presa em si.

Annabellaurino.

Vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão. 



Caio Fernando Abreu.

.


Não me lembro mais qual foi nosso começo. Sei que não começamos pelo começo. Já era amor antes de ser.

Clarice Lispector


.

Nada. Nunca. Ira explicar por completo tudo que eu sinto por ti.



annabellaurino.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011