Clarice Lispector - Água Viva
sexta-feira, 22 de junho de 2012
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" Mas por que esse mal-estar? É porque não estou vivendo do único modo que existe para cada um de se viver e nem sei qual é. Desconfortável. Não me sinto bem. Não sei o que é que há. Mas alguma coisa está errada e dá mal-estar. No entanto estou sendo franca e meu jogo é limpo. Abro o jogo. Só não conto os fatos de minha vida: sou secreta por natureza."
Distante
Tão longe de casa
Tão longe meus pés do chão
Tão longe dos teus braços
Das lindas relvas verdes dos altos campos distantes
Tão longe das estrelas
Tão longe de mim
De você
Tão longe do lar
Tão longe
Tão longe meus pés do chão
Tão longe dos teus braços
Das lindas relvas verdes dos altos campos distantes
Tão longe das estrelas
Tão longe de mim
De você
Tão longe do lar
Tão longe
Questão Vertiginosa, Marca transparente
Não faço a mínima ideia de onde você esteja. Você sumiu do mapa e eu ainda estou
pressa a essas lembranças dolorosas que mastigo lentamente todos os dias, como
um chiclete velho que eu fico tentando, lutando, para que não perca o sabor.
Mas o que exatamente
eu tenho para lutar?
Sei, no fundo, eu
sei que estou fadada e permanecer por toda vida nessa saudade absurda, de
lembrar, de ver você em todos os lugares, de inventar histórias, momentos em
que iremos no reencontrar por ai, em algum lugar ou momento inesperado.
Parece cruel.
Sim, eu sei.
Como me permiti a
tal marca?
Você assim, em
mim, não consigo apagar.
Annabel Laurino.
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E agora, o tempo
passou, o café quente esfriou e não cobre mais os ressequidos dos lábios secos.
Estamos entrando no outono daqui uns dias e essas tardes úmidas só me fazem
lembrar de você. Logo as folhas das arvores vão mudar de cor, as areias das
praças ficaram úmidas e arenosas, cobertas de folhas avermelhadas e amareladas.
Caminharei por essas ruas de pedregulhos históricos e me lembrarei de você.
Quando enfiar a cara no ar gélido de junho, vou me lembrar de você. E quando enfim
julho chegar, novamente, vou sentir o estomago frio e revirado de saudade, como
tem que ser. Vou assistir um filme de lembranças, vou lembrar de todas as
coisas e vou sonhar com você. Será como uma história bonita, contada por faunos
e floras, flores de inverno, flocos de neve que não caem por aqui. Impossível, irreversível.
Que agora só existe na minha cabeça, como um livro empoeirado esquecido em uma
prateleira de um sebo velho qualquer. Bonita, dolorida e tristemente só.
Annabel Laurino
- escrito em 16/05/12
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