quarta-feira, 25 de abril de 2012

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Como velhos desconhecidos, eles nem se olhavam mais.




annabellaurino

Beijo Invernal


É agora que os nós dos dedos tornam-se esbranquiçados no dorso da dobra que articula em volta da camisa de inverno sendo repousada na cama. É agora que o vento frio encarapita-se dentro da camisa de inverno, como bolhas de ar gelado brincando de entrar e sair da roupa enquanto ela repousa macia em cima da cama. É agora, nesse momento eterno e especial, que os finos pelos erguem-se de um sono caloroso, despertando-se para o frio invernal. Na pele do pescoço que se arrepia, viva, ela e seus pequeninos poros rugindo de uma sensação lenta e mordaz que escorre pela coluna, ergue aos ossos dos cotovelos e pela lombar, beija a coluna. É agora que a maciez da pele reflete no espelho, que o corpo delgado esconde-se nas camadas quentes das lãs e que o corpo busca refugio no outro corpo ou na caneca fiel do café amargo. Ou doce. Para matar os dias briguentos em que nós mesmos somos adornados pela santa preguiça de querer a cama e nada mais. Mas penso eu, que se é agora que essa mágica eterna acontece, e quem pode nos garantir que acontecerá novamente, o que quero eu com a cama, a apatia a vida ou ao drama melancólico e banal?
    É agora irmão, é agora que os versos nascem como filhos luzidios, que as folhas secam e que tudo transmuta-se em uma ternura lenta, como o alentar de um beijo quente decaindo frio nos lábios do mundo. É agora. É agora.


Annabel Laurino