sábado, 29 de outubro de 2011

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    Se alguma vez, por descuido ou coisa assim, ouvir It’s impossible,pense em mim. Ou não. E se a saudade bater, escreva uma carta que pode ser cheia de queixas, ou cheia de sol. Será bemvinda.
   Te gosto para sempre. 




Caio Fernando Abreu



Admito

Que não sejamos idiotas e deixemos o tempo passar. Mas é não sendo idiota e sendo a mulher metida, mimada e crescida antes do tempo que sempre fui que admito que sinto a sua falta. Que tenho vontade de estar perto, de ligar pra você de escutar o som da sua voz, e você dizendo-me as milhares de coisas que eu, nessa coisa insana, também sinto vontade de lhe dizer. Mas como egoísta e orgulhosa, não digo. Por que sofri de mais em meio a essa entrega que em troca nada tive. Por isso engulo essa vontade, choro, não tem problema, mas renuncio, acabo com esse amor, te afasto de mim, e não espero mais nada. Por que sei como você é, sei que você não é capaz e que nunca, nada muda.


Annabel Laurino.

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‎"E já não dói mais . Mas dá saudade . Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás ."


Caio Fernando Abreu



Clube dos Babacas


Você sente essa acidez mórbida escorrendo pela garganta como se fosse um veneno muito amargo ou coisa assim? Você também sente o coração preso, apertado, como se mãos pequeninas de unhas afiadas e forças nos dedos o expresse como se exprime uma laranja? Bem, então você também deve sentir vontade de gritar, de me ligar, de me dizer mil coisas, de me xingar, de dizer que me odeia, de chorar, e de rir de alivio por ouvir o som da minha voz. Que ótimo. Bem vindo no meu mais exclusivo clube de babacas. Funciona assim: Precisa-se que seja orgulhoso de mais para dizer e expressar sentimentos, idiota de mais a ponto de ceder e de fazer joguinhos infantis não revelando e não falando aquilo que mais da vontade de falar e precisa-se que tenha um coração grande, machucado, revoltado e ferido e que ame muito, mas muito mesmo. A regra é: seja um idiota pro resto da sua vida e se foda nas suas feridas amargas em um sábado a noite enquanto o resto do mundo foi ser feliz e soube o que a gente não sabe. Que pra amar tem que lutar, e isso é o outro requisito do clube, precisa-se ser um medroso total.

Annabel Laurino

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Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora. Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso. A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam sua falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia alguém mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.

Caio Fernando Abreu


E agora, barra, um dia fui, barra, não sou mais.


    O dia foi bom. Não teve nenhuma subtração ou soma. Nenhum acréssimo na minha sacola de viajem. Nada. Não que tenha faltado oportunidades para rechea-la mais, apenas não quis. Não venho querendo. Trago apenas o essencial, nada mais do que o necessário. E pessoas, bem, não são exatamente o essencial.
    Digo, acordei e vi o céu de meio dia bem pintado e refletido pela janela do quarto, o sol era tão vivo que cegava a vista mesmo se visto de uma direção distante. O ar pungente de verão, calor, febril, a pele suando, o corpo recém desperto ainda cansado, dormente.
    Mas depois de um certo tempo, mesmo assim, o dia melhorou. Como sempre melhora aliás. Incontáveis xícaras de café, mais capítulos escritos, alguns textos, afazeres diários, e etc, etc, etc, blábláblá.
    Depois de tanto me lançar a fundo, depois de tanto querer tocar lá dentro, de mergulhar no desconhecido, me atirar em incertezas, agora eu ando pelas beiradas, na superfície. Entende? Antes o muito era pouco, agora o pouco e muito não me servem mais. É uma medida razoável. Se me sinto bem, então tudo bem. Não conto dias, não conto nem mais as horas que despercebidas correm a solta pelos ponteiros do relógio. Parecem que fogem da seta traiçoeira.
    Sei que não é muito generoso da minha parte ficar assim, tão fria. Mas não é por escolha, é fatalidade.
    Ando como uma jardineira maníaca podando as arvores antes que cresçam, esvaziando o jardim, não aceito, estou seletiva, nego, sou madura, não percebo, não sinto, e praticamente nem ouço. Mas sigo, sigo em frente e quando vejo que mais um dia chegou ao fim, aliviada, tiro meu avental machado de tintas, minhas luvas pesadas, minhas botas de combate, minha máscara protetora, e caminho até a cama, coloco um pijama quente e macio, azul clarinho de preferência, abraço um urso, escovo os cabelos, bem como bonequinha sabe? Daí eu me deito, em posição fetal, e choro durante algum tempo, escuto uma música bem drama-ever-nunca-mais-posso-te-esquecer e depois, bem, depois escorregando pelas bordas, caio em um sono profundo, duro e quente, de lembranças ardentes de alguém que um dia fui, de quem amei, de cenas que vivi, que não voltam mais.


Annabel Laurino.