Não choro mais. Na
verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estou certo se alguma vez
chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca.
Dentro, fora. Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não
chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo
amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser
correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo
comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de
aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me
deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso. A única magia que existe
é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a
nossa incompreensão.
Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam sua falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia alguém mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.
Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam sua falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia alguém mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.
Caio Fernando Abreu
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