domingo, 29 de agosto de 2010

"Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim."



Cecília Meireles

Carência.

    Alguns já de fato decretaram que a saudade em si é um dos sentimentos mais urgentes. Tudo bem, talvez eu concorde. Mas neste pequeno caso, caso onde o que sinto não é saudade, por que saudade sente-se de algo que já se teve. Então, digo que a carência em si, é que é um dos sentimentos mais urgentes já existidos e sentidos por aqueles que lamentavelmente são desafortunados.
   Devo então explicar que, o termo “desafortunado” se deve ao uso de quem não pode saciá-la, digo, a carência.
   Carência, necessidade, apuro, falta, vazio...
A carência em si não precisa ser vista como um modo melodramático. Uma pessoa não precisa senti-la somente pelo simples fato de não haver nada mais para reconfortá-la, pelo contrário. A carência, nos deixa loucos. Loucos de vontade por aquilo que de fato não possuímos, e não quer dizer que não temos opção. Mas, a falta que temos é uma necessidade, não pode ser consumida com um engano. Uma mentira.
   Venho tentando entender o que realmente sinto. E cheguei à conclusão que sinto carência. Se existisse um médico do qual eu pudesse me tratar á respeito disso, certamente ele me diria que estou em um caso grave de carência.
   Ando tentando entender coisas, coisas cuja quais não reparava antes. Coisas que me fizeram ver o “camarim” por trás do grande “espetáculo”.
Mas, uma das coisas cuja quais não consigo entender é este sentimento urgente, mais comumente já sentido por cada célula de meu corpo. Não posso ser a única que sofre deste que me aflora. E muito menos a única que almeja por entender este sentimento.
   Sinto a falta de borboletas, de senti-las debatendo-se em meu estomago, de senti-las borbulhando, e me deixando alienada do mundo. Sinto falta de mãos por sobre o meu rosto, mãos que me afagassem a pele, talvez até secassem minhas lágrimas, não precisariam ser de dor, muito poderiam ser de felicidade, do amor. Felicidade e amor. Como sinto falta destes. Sinto falta também de meu rosto corar, do meu meio sorriso envergonhado se abrir de frente á algo que certamente me deixaria sem palavras, talvez, aqueles momentos onde tudo é completamente novo, desconhecido, inserto, mas, muito bom. Sinto falta de ter uma mão colocada por sobre a minha, de sussurrar palavras tolas ao ouvido, de rir de coisas bobas, de contar histórias do passado, histórias que todos os meus amigos mais chegados já sabem e já cansaram de ouvir, mas, eu poderia contá-las todas novamente, pois, seria a primeira vez. Sinto falta de mãos tocando meus cabelos, puxando minha pequena franja desengonçada e desarrumada longe de meus olhos. Sinto falta de ficar no chão do meu quarto escutando minhas músicas mais melosas e especiais, com alguém é claro, mas por motivos mais românticos. Sinto falta de olhar as estrelas procurando somente vê-las, e não entende-las. Sinto falta de abraçar sem hora pra acabar, abraçar forte. Sinto falta do toque de peles cálidas e gritantes.
  Ah sinto falta de tantas coisas. Seria preciso uma lista imensa, talvez umas páginas desta lista, para colocar tantas coisas das quais sinto falta.
  Carência. Sentimento mais egoísta este. Eu sinto falta, mas não me importo de quem sinta, por que do que sinto ainda ninguém cessou e não me importo ainda quanto tempo mais eu tenha que senti-la. Eu quero somente saciá-la. Só não sei como, não sei quando, não sei nada mais. Só sei o que sinto. E espero que acabe, pois, dói.




Annabel Laurino.