quinta-feira, 3 de maio de 2012

Passarinho Aprisionado

    As vezes eu paro e olho para você. Te vejo vindo naquele passo tão reconhecido no fundo do meu cérebro e mesmo de tão longe, lá do outro lado da outra rua, muito distante, eu te reconheço caminhar. Como não reconheceria? Depois de tanto tempo... Sinto uma saudade lancinante. Não é nostalgia, do tipo de saudade que se sente  de coisas que foram e não voltam mais. É uma saudade de te ter por perto, de saber como anda a sua vida, arrumadinha como sempre? O que você tem feito? Você ainda lembra de mim? Quando chove, ou quando tem café meu rosto lhe paira na mente?
    Vontade de estar nos seus braços e sentir aquele cheiro tão familiar e gostoso, aquela sensação de paz tão boa creditada as boas risadas antigas que agora foram substituídas por olhares hostis que me entregas mansamente. Não há o que eu possa fazer de verdade. Mas sinto uma terrível falta da sua amizade, do seu rosto presente ao meu lado todos os dias. Sinto saudade de você e é estranho, sinto que essa saudade não pode ser suprida.
    Fico quietinha no meu canto, o vento sobre as arvores fustiga as folhas e logo golpeia meu rosto, vento frio de outono. Você atravessa a rua e me olha, fingindo não ver. Faço o mesmo. O coração como um passarinho preso na gaiola debatendo-se triste... Cheio de saudade, louco para se libertar.


Annabel Laurino