Annabel Laurino.
domingo, 22 de julho de 2012
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Embora ainda ninguém compreendesse esse fato retórico, quando deixada muito distraída tinha a tendencia saborosa de sentir outros perfumes e de querer segui-los em dessabores. Sumia e ressurgia com uma liberdade de espirito quase invejável. E as vezes, pois ai então eram o buraco escuro cujo os que se encantavam por aquela estranha moça sempre se perdiam, é que ela podia não voltar. Quando deixada muito desatenta de atenções extremas, sentimentos mirabolantes, paixões ardentes, vida brilhante, entendiada, procurava outras curvas onde pudesse se perder, e despedaçava corações com o cuidado de um elefante recém desperto.
Let it Be
Vais dizer que não
faz falta? Altas da noite e você deita na cama abraçando o próprio corpo. Aquela
estranha sensação de vazio por dentro e que transborda, de dentro para fora. Abraçando-se, aquele silêncio que afugenta pelo seus pelos dos braços em inteiro. Fica
aquela musica de fundo com a voz de John Lennon dizendo Let it Be.
Será que algum dia
a gente encontra alguém que completa a outra remenda de pele da gente? Será que
vai demorar muito?
Tão difícil ter
aquela química, aquela sensação de conjunto formando-se quando se abraça,
quando se toca, vagarosamente. Como coisa fácil que cresce sem medo e enfia a
cabeça para fora da toca, como coisa viva que respira lentamente, e cresce sem
demora, sem dor. Fácil.
Fico me
perguntando onde está esse lado metade que me fará sentir sensações inéditas. Onde
está os cabelos que desgrenharei com voracidade em meio a uma beijo, arrancando
mordidas dos lábios, apertando os sulcos da carne. Onde está o sorriso que me
fará sorrir sem parar em meio ao entrelaçar de pernas jogados em uma cama
quente, onde está o cheiro que será o lar, o aroma da casa com lareira acessa,
haliantos na janela e mesa posta para o café da manhã.
Não preciso dizer
que precisa-se também do calor do corpo que aquecerá a alma, por que é isso que
importa de verdade. O calor real de um outro alguém, esquentando nossa alma e
fazendo nosso corpo esquecer a vontade de ficar sozinho.
Annabel Laurino
Des-espera
Não esperar nada, de ninguém. Isso tem ajudado tanto, feito tanta diferença ultimamente. Cargas mais leves e fluidos melhores. Sem pesos que não se consiga suportar, e agora todos os pesos são somente meus. De mais ninguém. As mãos continuam quentinhas e quietinhas dentro dos bolsos sem manifestar qualquer gesto adiante para carregar as malas pesadas de alguém. E não é isso o que todos sempre pedem? "Não cuide de mim, eu me viro sozinho, você não pode resolver tudo por mim...". Segui o conselhos elementares meu caro. E agora, egoismo ou não, eu sigo em frente sem olhar para os lados, por que é isso que todos querem. Que você não se intrometa, que você não tente cuida-los. Acho que todos nós no fundo queremos seguir com as nossas próprias ideologias para algum lugar qualquer, mesmo que um lugar de nada, a gente não quer ninguém na nossa cola dizendo o que devemos ou não fazer. E tanto faz na verdade. Fico apática a qualquer coisa, qualquer movimento muito próximo.
Não vou mentir. As vezes queria tantas coisas, tantas atitudes das pessoas, que nunca vêem. Queria tanto que alguém um dia dedicasse uma musica em meu nome, ou que escrevesse sobre mim. Queria tanto ver uma dessas coisas assim, alguém se esforçando por mim, jogando todos seus medos, seus traumas, suas falhas, seus vazios, mudando, escalando montanhas, só para estar perto e então ficar.
Faz parecer que se pede um milagre, quando tudo que eu peço na verdade são as mesmas coisas que doou desproporcionalmente. E fico só. Sempre só, esperando.
Foi dai então a ideia de virar um cactus gigante e verde, e cheio de apatia e indiferença e não esperar nada e nem mesmo mais contar os dias. Não revolucionou grandes diferenças, as coisas continuam a não chegar, mas dói menos. Quase nem sinto nada. É mais fácil.
Não vou mentir. As vezes queria tantas coisas, tantas atitudes das pessoas, que nunca vêem. Queria tanto que alguém um dia dedicasse uma musica em meu nome, ou que escrevesse sobre mim. Queria tanto ver uma dessas coisas assim, alguém se esforçando por mim, jogando todos seus medos, seus traumas, suas falhas, seus vazios, mudando, escalando montanhas, só para estar perto e então ficar.
Faz parecer que se pede um milagre, quando tudo que eu peço na verdade são as mesmas coisas que doou desproporcionalmente. E fico só. Sempre só, esperando.
Foi dai então a ideia de virar um cactus gigante e verde, e cheio de apatia e indiferença e não esperar nada e nem mesmo mais contar os dias. Não revolucionou grandes diferenças, as coisas continuam a não chegar, mas dói menos. Quase nem sinto nada. É mais fácil.
Annabel Laurino
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