É agora que os nós dos dedos tornam-se esbranquiçados no dorso
da dobra que articula em volta da camisa de inverno sendo repousada na cama. É
agora que o vento frio encarapita-se dentro da camisa de inverno, como bolhas
de ar gelado brincando de entrar e sair da roupa enquanto ela repousa macia em
cima da cama. É agora, nesse momento eterno e especial, que os finos pelos
erguem-se de um sono caloroso, despertando-se para o frio invernal. Na pele do
pescoço que se arrepia, viva, ela e seus pequeninos poros rugindo de uma
sensação lenta e mordaz que escorre pela coluna, ergue aos ossos dos cotovelos
e pela lombar, beija a coluna. É agora que a maciez da pele reflete no espelho,
que o corpo delgado esconde-se nas camadas quentes das lãs e que o corpo busca
refugio no outro corpo ou na caneca fiel do café amargo. Ou doce. Para matar os
dias briguentos em que nós mesmos somos adornados pela santa preguiça de querer
a cama e nada mais. Mas penso eu, que se é agora que essa mágica eterna
acontece, e quem pode nos garantir que acontecerá novamente, o que quero eu com
a cama, a apatia a vida ou ao drama melancólico e banal?
É agora irmão, é
agora que os versos nascem como filhos luzidios, que as folhas secam e que tudo
transmuta-se em uma ternura lenta, como o alentar de um beijo quente decaindo
frio nos lábios do mundo. É agora. É agora.
Annabel Laurino
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