Hoje eu não quero falar com ninguém. Quero ficar
aqui, quieta e só. Ultimamente é muita gente falando comigo, pedindo atenção,
pedindo o calor do meu corpo, o riso dos meus lábios, se não o gosto deles, e
até meus sentimentos. Querem que como um pedaço de pão eu reparta a mim e saia
por ai me doando, me despedaçando em flancos pedaços e depois ficando com o que
mesmo? Dedos trabalhando sobre um teclado. Não quero ver ninguém. As pessoas me
cansam. São elas o grande motivos de minhas consternações. Sou sempre muito
forte, sempre sirvo como fonte de escape e quando acho que encontrei alguém
forte pelo meio do caminho, alguém que seria tão capaz de me amar como ninguém
mais e tão capaz de lutar por mim, ela arranca meus pedaços, me cobre de
duvidas, de decepções e parte, vai embora, não deixa nada, a não ser memórias. Que
eu vou tilintando com a ponta dos dedos sobre o teclado frio. Mas esta tudo bem. Eu
só não quero ver ninguém. Não quero olhar fundo nos olhos de ninguém e nem ser
tocada, por favor, repito, não me toque. Não quero ninguém olhando para mim
também, por favor, não me repare. Finja que só estou aqui, que passo como um
vento ameno de um canto a outro do quarto, mas não me observe, não guarde nada,
não se interesse por mim, não tente me ter, não tente gostar das minhas
imperfeições detalhes, não ache meu cabelo legal, não goste do meu visual e nem
das minhas roupas, não goste de mim, pronto. Simplesmente não vá com a minha
cara. Me deixe ir, não me toque, não me puxe, não me veja, me deixe inteira. Não
quero ver ninguém.
Annabel Laurino.
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