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Quem diria que um dia eu estaria aqui rondando a rua passageira e trilhosa diante de mim, compassando passos, vendo todos esbarrando no meu ombro, não percebendo minha pequena altura, não ligando para mais uma alma óssea vagando as calçadas sujas e fedorentas dessa irritável cidade antiga, pequena e profundamente aprofundada. Como prefiro chamá-la, As Ruínas. Moro nas grandes Ruínas, bem perto do mar, onde ninguém pode me encontrar. Sou um feixe de luz que brilha do sol ao mar e depois explode no ar, sendo fisgado por globos oculares de visão, qualquer visão, uma visão qualquer. Milhares de olhos atentos nunca se quer me percebem e eu tão pouco os percebo também. Estou sempre viajando, quase nunca paro em casa, ainda que assim passe o tempo inteiro no mesmo lugar, sobre o mesmo corpo dês de que me conheço por viva. Sou tão estranha as vezes, mas estranho é esse mundo louco cujo qual não pertenço, cujo estampa tantos rostos, tantos sofrimentos cravejados em um olhar.
Já não sei mais o que disser, já não me lembro como vim parar aqui, escrevendo isso tudo, talvez, talvez tenha sido um ato comum como respirar. Levei as mãos ao teclado e pensei “Quem diria que um dia eu estaria aqui...” E tudo simplesmente fluiu.
Annabel Laurino
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